Ao se entregar voluntariamente a agentes da Scotland Yard, em Londres, na terça-feira 7, Julian Assange, o fundador do site WikiLeaks, sofreu um duro golpe. Acusado de estupro e assédio sexual a duas mulheres na Suécia – crimes que nega –, ele terá de passar pelo menos sete dias na prisão, até ser ouvido por um juiz inglês. O australiano corre ainda o risco de extradição e de ter sua “estadia” prolongada. Mas a algema mais pesada para Assange é outra. O WikiLeaks está sendo asfixiado financeiramente. 

 

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Julian Assange, criador do WikiLeaks, é levado para depor após se entregar para a polícia inglesa, em Londres

 

Desde que começou a divulgar telegramas confidenciais de embaixadas dos EUA, o que tem causado grandes constrangimentos e revelado informações estratégicas da diplomacia americana, empresas ao redor do mundo estão secando as fontes de receita do site e dificultando sua permanência online.

 

O WikiLeaks sobrevive de doações voluntárias de internautas para funcionar. Na semana passada, as duas maiores bandeiras de cartão de crédito do mundo, Visa e Mastercard, bloquearam os pagamentos feito ao site. 

 

O Paypal, principal meio de pagamento online, também cancelou a conta do WikiLeaks, o mesmo recurso utilizado pelo banco suíço PostFinance para congelar 31 mil euros de Julian Assange. Antes disso, a Amazon.com, que tem um serviço de hospedagem, tirou o site do ar. 

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Todos dizem que não sofreram pressão do governo dos EUA para cortar relações com o WikiLeaks e justificam as decisões como quebra de cláusulas contratuais. Suspeita-se também que o microblog Twitter, que tanto ajudou a disseminar informações sobre ditaduras, como a do Irã, esteja impedindo que as discussões sobre o WikiLeaks apareçam no “trending topics”, que reúne os temas mais debatidos pelos usuários. O Twitter nega.

 

O cerco econômico ao WikiLeaks teve reação imediata. Hackers orquestraram na quarta-feira 8 ataques virtuais aos “inimigos do site”, na operação que recebeu o nome de “Operation Payback” (Operação Vingança). 

 

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Protesto: manifestante em Londres pede justiça para Assange, acusado de estupro. Na internet,

hackers invandem sites de Visa e Mastercard

 

O sistema de pagamento online da Mastercard ficou pelo menos seis horas fora do ar. A Visa também foi alvo dos piratas virtuais. O PostFinance ficou com seu site inacessível por pelo menos 11 horas, de acordo com a empresa de segurança Panda. A página do Paypal caiu por mais de oito horas. 

 

“Vamos derrubar qualquer coisa ou qualquer pessoa que tentar censurar o WikiLeaks”, dizia um texto que circulava online, aparentemente dos hackers por trás dos incidentes. 

 

Até agora, o WikiLeaks tem conseguido se manter online com o apoio destes ativistas, que criaram milhares de clones da página original. Com isso, Julian Assange assegura que os telegramas de embaixadores norte-americanos continuem a ser publicados. 

 

O primeiro alvo do WikiLeaks, após a prisão do seu criador, foi justamente Visa e Mastercard. Um telegrama de fevereiro deste ano mostra que o governo americano pressionou a Rússia para mudar um projeto que prejudicava os negócios das duas empresas em território russo, que chegariam a perder US$ 4 bilhões por ano. 

 

Um dia antes de Assange ser preso, o WikiLeaks havia divulgado uma lista de lugares vitais à segurança dos Estados Unidos. Os novos documentos, que provocaram uma série de críticas internacionais, revelaram que os americanos consideram jazidas de nióbio e redes de comunicação brasileiras como estratégicas. 

 

O Brasil possui 98% do nióbio do mundo e a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), que tem reservas em Araxá (MG), é a maior produtora do metal, responsável por 80% do fornecimento mundial do produto, usado na fabricação de peças de automóveis, aviões, obras de infraestrutura e até lâminas de barbear. Mesmo sitiado, Julian Assange promete não parar. Mas será que conseguirão parar o WikiLeaks?