09/10/2015 - 20:00
Levou apenas seis horas para a cervejaria britânica SABMiller rejeitar, na quarta-feira 7, a oferta de compra feita pela belgo-brasileira ABInbev, maior empresa de bebidas do mundo, que tem entre seus principais acionistas o empresário brasileiro Jorge Paulo Lemann. Foi, literalmente, um balde de gelo nas pretensões do homem mais rico do Brasil. A oferta em questão, a terceira apresentada nas últimas semanas, de US$ 64,80 por ação, estabelece um valor de mercado de US$ 104 bilhões para a SABMiller.
Apesar disso, seu conselho de administração a considerou “substancialmente” baixa. Em resposta, a AB Inbev afirmou, por meio de comunicado, que a resposta da concorrente “não tem credibilidade”. “Os acionistas da SABMiller deveriam opinar e não permitir ao conselho deixar a oportunidade passar”, diz o comunicado. A troca de farpas esconde uma tensa e complexa negociação, na qual Lemann se encontra em uma posição delicada. Analistas de mercado consideram improvável que a AB Inbev parta para uma aquisição hostil.
A legislação britânica, por um lado, é certo, favorece esse tipo de negócio, pois não permite a existência das chamadas “poison pills” (pílulas de veneno), jargão do setor financeiro que se refere a cláusulas contratuais concedendo a um dos acionistas o poder de veto. Por outro, no entanto, a intrincada situação regulatória da aquisição pode deixar o chope de Lehman, definitivamente, aguado. A possibilidade de ser obrigado a vender ativos em uma situação de conflito de acionistas inviabiliza a transação.
Ao mesmo tempo, cerca de 30% das receitas da SABMiller vêm de joint ventures e parcerias, o que torna sua gestão praticamente impossível sem um consenso entre os controladores. Mesmo assim, boa parte do mercado segue apostando na conclusão do negócio. A chave para fechar a transação está em um acordo com os dois maiores acionistas da SABMiller, a família colombiana Santo Domingo e o grupo Altria, dos EUA, dono da marca de cigarros Marlboro. Juntos, eles detêm 41% da cervejaria. A companhia ofertante já tem o apoio da empresa de tabaco, mas ainda não conquistou os colombianos. Essa não é a primeira batalha que Lemann trava com o clã.
Em 1996, o brasileiro fez uma oferta para comprar a cervejaria Bavaria, de propriedade dos Santo Domingo, que foi recusada. Na época, quem comandava os negócios era Julio Mario Santo Domingo, pai do atual chefe da família, Alejandro Santo Domingo. Segundo o CEO da Ab Inbev, o brasileiro Carlos Brito, a proposta mais recente foi feita “com e para” a família colombiana. Lemann e seus sócios têm até a quarta-feira 14 para fazer uma nova oferta, ou se retirar do negócio por seis meses. A expectativa é de que eles se disponham a pagar US$ 67 por ação, algo em torno de US$ 110 bilhões.