Do histórico status de “marco da independência econômica brasileira”, conferido pelo ex-presidente Getúlio Vargas em 1953, a Petrobras assumiu, seis décadas depois, o posto de símbolo das dificuldades do País, com escândalos de corrupção e impacto negativo na cadeia de petróleo. A paralisia na estatal, contudo, não é uma exceção no setor. Os investidores estrangeiros, que até pouco tempo atrás disputavam a cotoveladas um lugar na exploração e produção, destinaram ao Brasil um volume bem inferior à média histórica de recursos voltados a novos negócios ligados às petroleiras e suas fornecedoras neste ano.

A mudança de patamar aprofundou a crise ao longo da cadeia e lança dúvidas sobre as perspectivas para os próximos anos, em meio à recente queda no preço do petróleo no mercado internacional. De janeiro a novembro, os investimentos estrangeiros diretos em operações de petróleo e gás somaram R$ 1,6 bilhão, o valor mais baixo em seis anos. Essa cifra inclui aquisições de novas companhias, compras de participações e aumentos de capital. Mesmo se somados os volumes destinados pelas matrizes à manutenção das operações locais, o valor até novembro é o menor desde 2010.

Entre as razões que explicam a freada, a mais repetida pelos analistas é a falta de previsibilidade sobre novos leilões. O governo passou cinco anos sem licitar uma nova área de exploração. Só interrompeu o marasmo em 2013, com a 11a rodada e o gigantesco leilão de Libra. Dois bons sinais aos estrangeiros, sem dúvida, mas ainda insuficientes para convencê-los de uma retomada ao ritmo constante de licitações de meados dos anos 2000. “Na linha do tempo, o Brasil sempre atraiu muito investimento”, afirma Manuel Fernandes, sócio da KPMG.

“Para atrair o mesmo volume, tem de fazer novos leilões.” A expectativa de um calendário que ofereça vários certames é peça essencial para as petroleiras adequarem o volume de investimentos. Assim, uma companhia com problemas de caixa pode optar por ficar um ano sem entrar em disputas, esperando voltar ao mercado no período seguinte. Sem essa certeza, precisa readequar o tamanho da operação ou reduzir a cifra inicial. O mesmo vale para as fornecedoras, que acompanham o movimento das petroleiras. Uma importante parcela de responsabilidade para a perda de apetite dos estrangeiros recai sobre o tombo de mais de 40% do preço do petróleo neste ano.

O baixo crescimento do PIB e as incertezas das eleições também contaram. “Passamos um ano em que praticamente não aconteceu nada”, afirma Fernandes. O problema é que a retomada esperada para 2015 esbarra agora no cenário de maior aperto das companhias, com a cotação do barril próxima a US$ 60. A própria Petrobras já anunciou que revisará o plano de investimento e conterá recursos, como já haviam divulgado outras petroleiras globais. Apesar do momento adverso, é consenso entre os analistas que o Brasil segue como um destino atrativo, mesmo diante da maior concorrência no setor, com a ascensão de novas fronteiras de produção, como México e a África.

“O pré-sal brasileiro continua excitante”, afirma Antônio Guimarães, secretário-executivo de Exploração e Produção do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP). “O que o cenário indica é que fica mais importante a nossa agenda em busca de competitividade.” O setor privado cobra um processo de licenciamento ambiental mais célere, adequações na política de conteúdo local e a flexibilização na exigência da Petrobras como operadora única do pré-sal. “Com pequenos movimentos, vai haver um bom ganho de atratividade”, diz Guimarães. Outro desafio para o Brasil será superar a onda de denúncias de corrupção envolvendo os contratos da Petrobras, um escândalo que leva petróleo até no nome e que contribui para afetar a credibilidade internacional.

Poucos dias antes do Natal, investidores de todo o mundo observaram uma queda de braço entre a ex-gerente da estatal Venina Velosa da Fonseca e a presidente da companhia, Graça Foster, sobre as acusações de que a atual comandante fora alertada dos desmandos na estatal. Apesar de nova negativa da presidenta Dilma Rousseff sobre uma possível troca de diretoria, há dúvidas se sua amiga pessoal terá condições de seguir no cargo. Independentemente de quem estiver no seu comando em 2015, a Petrobras terá o papel relevante de contribuir para resgatar a confiança de todo o setor de petróleo e atrair os estrangeiros para o País.