Foi dada oficialmente a largada da campanha eleitoral. A partir do domingo 6, os candidatos já podem distribuir santinhos com seus nomes e propostas, organizar comícios e elevar ao máximo o volume dos carros de som com seus jingles e pedidos de voto – respeitando o horário do silêncio, é claro. No entanto, por mais contagiantes que sejam as músicas criadas por seus marqueteiros, nada vai falar mais alto do que os esperados gritos de gol na reta final da Copa do Mundo. Pelo menos nessa primeira semana de campanha.

Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), os três principais concorrentes à sala mais importante do Palácio do Planalto, em Brasília, a partir do ano que vem, sabem disso, e devem guardar a artilharia pesada para depois do dia 13 de julho, quando Dilma entregará a taça à seleção campeã no estádio do Maracanã. Para a presidenta Dilma, será um período delicado. Ela já não poderá inaugurar obras do Minha Casa Minha Vida, participar de formaturas do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico (Pronatec) ou entregar hospitais, como vinha fazendo em ritmo frenético nos últimos meses.

O espaço para a campanha na agenda de Dilma ficará restrito aos fins de semana, almoços ou, ainda, antes ou depois do “expediente”. Rotinas institucionais, como o programa semanal de rádio Café com a Presidenta, serão interrompidas. A logomarca “Brasil, país rico é país sem pobreza” teve de ser retirada de placas, documentos e até sites governamentais. A partir de agora, Dilma deverá ter um cuidado especial na escolha de suas palavras quando estiver usando a faixa presidencial. Em compensação, rotina bem menos restrita terá o ex-presidente e cabo eleitoral número 1 da presidenta, Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula terá uma agenda própria, que pode ou não coincidir com a da candidata. Desde maio, o ex-presidente tem sido uma peça essencial na costura das alianças que levaram Dilma a ter à sua disposição 11 minutos e meio no horário eleitoral gratuito, que começa a ser veiculado no dia 19 de agosto. Com nove partidos na coligação, quase a metade dos 25 minutos de propaganda obrigatória e a máquina do governo nas mãos, Dilma larga na frente. Mas o páreo será duro pela disputa da preferência dos 141,8 milhões de eleitores. O tucano Aécio Neves costurou alianças com DEM, PTB, SD, PMN, PTC, PT do B, PEN e PTN, e tem aliados fortes nos governos estaduais.

O analista político Cristiano Noronha, da consultoria Arko Advice, avalia que os palanques em Estados populosos devem ajudar Dilma e Aécio. “Os candidatos a governador viajam muito e podem ser mensageiros dos presidenciáveis”, diz Noronha. Em São Paulo, maior colégio eleitoral do País, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) lidera as pesquisas em um Estado governado por seu partido desde 1995, ininterruptamente. Para garantir o apoio dos paulistas, Aécio escolheu o senador Aloysio Nunes como vice na chapa puro-sangue.

Apesar do cuidado com São Paulo, o presidenciável do PSDB pretende iniciar sua campanha no Nordeste, onde apresentará uma agenda com projetos e obras de infraestrutura. Em suas viagens, Aécio vai tentar combater a visão de que os tucanos são contrários a programas sociais como o Bolsa Família. Para isso, pediu a seus aliados a divulgação de que é o autor de um projeto de lei, apresentado em outubro de 2013, que torna o benefício permanente. Aécio conta ainda com o apoio de boa parte do setor produtivo e com um time de economistas ligados à formulação do Plano Real, o que agrada ao mercado, e poderia, em tese, ajudar a aumentar a confiança do empresariado na economia.

Em almoço com empresários em abril, Aécio afirmou estar preparado para tomar “medidas impopulares”. Dilma viu no discurso uma oportunidade de se diferenciar do tucano e, desde então, dobrou a aposta do PT no social. Em vez de brandir promessas de reforma tributária, como já fizeram Campos e Aécio, Dilma tem dito que seu governo não fará reformas que reduzam direitos dos trabalhadores. O desejo de mudança do eleitor, expresso por 74% dos entrevistados pelo Datafolha em junho, também é explorado pela oposição.

Ainda sem decolar nas pesquisas, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos tem a seu favor uma vice, Marina Silva, que conquistou 20% dos votos em 2010, vista por uma parcela significativa do eleitorado como representante dos desiludidos com a política tradicional. Embora pretenda ser a terceira via para os empresários, Campos ainda não detalhou como será sua política econômica, mas já propôs reduzir a meta de inflação, tema sensível para o governo atual. Apesar da liderança de Dilma nas pesquisas – 38% contra 20% de Aécio e 9% de Campos, como foi divulgado pelo Datafolha na quinta-feira 3 – cerca de um quarto dos eleitores ainda não tem candidato. Trata-se de uma massa que será disputada de
forma cada vez mais explícita pelos candidatos, a partir desta semana.