Pessoas autênticas, com garra, ousadia, flexibilidade, sem medo do novo e que conheçam a empresa onde pretendem trabalhar. Basicamente é isso o que as grandes companhias brasileiras procuram nos jovens recém-saídos das universidades. Parece fácil, mas não é. A cada ano, milhares deles passam por uma maratona de processos de seleção de trainees nas principais empresas brasileiras. Boa parte chega com inglês fluente, ótima formação acadêmica e as respostas (que foram ensaiadas em casa na frente dos familiares) na ponta da língua.

Porém, basta conversar com qualquer gestor ou diretor de recursos humanos de uma grande corporação para ouvir sobre as dificuldades em descobrir novos talentos. Afinal, os que as empresas querem? “A Totvs espera que cada trainee colabore para estarmos sempre um passo a frente das necessidades de nossos clientes. Queremos que eles nos ajudem a tornar realidade cada uma das nossas estratégias”, diz Laércio Cosentino, dono de uma das empresas de tecnologia mais desejadas pelos recém-formados na área. Em 2013, foram 7.904 candidatos para 10 vagas, ou seja, 790 por vaga.

E para fugir do que Alexandre Mafra, vice-presidente de Relações Humanas da Totvs, chama de “uma certa pasteurização nos candidatos a trainee”, a empresa de tecnologia decidiu fazer uma seleção diferente no ano passado. “Na última etapa incluímos um programa vivencial de um dia; a dinâmica de grupo foi em um hotel para despi-los da preparação tradicional”, afirma Mafra. Ao tirá-los da sala de aula e levá-los para expor ao ar livre, os recrutadores puderam enxergar melhor quem eles eram. “Percebemos comportamentos completamente diferentes.

Havia pessoas que foram muito bem nas etapas anteriores e que eram consenso, mas deixaram de ser e vice-versa”, diz o diretor de RH da Totvs. Para ele, chama a atenção aquele jovem que é questionador e não aceita a resposta usual. A Hering também optou por inovar seu programa de trainees para fugir da mesmice. Esse ano, lançou o programa Jovem Gerente voltado para estudantes com formação prevista entre dezembro deste ano e julho de 2015. De acordo com a diretora de Gestão de Pessoas da Hering, Alessandra da Costa Morrison, o programa é estratégico para posições-chave no futuro da empresa.

“Estamos buscando profissionais que queiram ingressar em um processo de desenvolvimento acelerado para preenchimento de vagas, de cargos de gerência, em nossas lojas, que estão espalhadas por todo Brasil”, diz ela. Os dez escolhidos de um universo de 1.600 candidatos estão vivenciando um papel diferente a cada mês em uma das lojas da rede. Durante dois dias da semana eles assistem aulas e palestras. “A ideia é que ao final eles estejam prontos para liderar uma loja”, diz Alessandra. Ela conta que não houve uma exigência absoluta pela formação em universidades de primeira linha, embora a maioria dos jovens seja dessas faculdades.

“Criamos um processo que pudesse dar luz às qualidades de cada um sem filtrar por lentes como a faculdade de ponta”, diz. Para Lívia Yumi Kinzu, estudante de administração do Mackenzie e uma das integrantes do Jovem Gerente, a experiência está superando suas expectativas, principalmente pela possibilidade de viver o dia-a-dia da empresa, do negócio. “No começo foi meio assustador; são muitas as responsabilidade de um gerente. Mas estamos aprendendo na prática e isso faz toda a diferença”, afirma Lívia.

Claro que em uma gama de empresas de setores diferentes, as expectativas em relação aos trainees são bastante variadas. Mas há algumas coisas em comum. A busca pela autenticidade é uma delas. Segundo Flavio Morelli, diretor de People Value da TIM Brasil, um aspecto importante é não demonstrar características que não são genuínas. “Não tente ser algo que você não é! É natural ficar um pouco nervoso e ansioso nesses momentos e isso atrapalha o desempenho. Controlar o nervosismo é importante”, afirma Morelli.

Para ele, além das competências e características de cada um, que já podem constituir um diferencial, demonstrar conhecimento da empresa é uma atitude simples e diferenciadora porque explicita interesse e preparação do candidato. As empresas também estão atrás de jovens que as surpreendam. Capacidade de inovação, flexibilidade e protagonismo são características essenciais e que serão consideradas como diferenciais nos candidatos para as vagas de trainee na Bayer, segundo Andrea Norfini, gerente de Desenvolvimento de Pessoas da companhia farmacêutica. São cerca de 9.000 candidatos para 11 vagas na edição 2014 do programa de trainee cujas inscrições vão até meados de agosto desse ano.

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