Em abril de 2012, a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, surpreendeu o mundo ao expropriar 51% das ações da petrolífera YPF, até então controlada pela espanhola Repsol. A manobra, além de criar um clima hostil entre os dois países, fez os papéis da YPF despencar 26% na Bolsa de Valores de Nova York. Agora, o fantasma da estatização voltou a assombrar as multinacionais que atuam no país vizinho. O alvo, desta vez, foi a brasileira América Latina Logística (ALL). Na terça-feira 4, o governo anunciou a rescisão do contrato de concessão das linhas ferroviárias exploradas pela empresa. 

 

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Fora do trilho: subsidiária argentina não deu lucro em 2012

 

Com mais de oito mil quilômetros de trilhos, a ALL Argentina era a primeira operadora do país em extensão e a segunda em volume de carga, com cerca de cinco milhões de toneladas transportadas por ano. “Rompemos o contrato devido ao não pagamento de multas e do atraso de seis meses na quitação dos direitos de exploração, entre outras irregularidades”, disse o ministro do Interior e Transporte, Florencio Randazzo. A ALL, por sua vez, afirmou em nota que pretende recorrer à Justiça para resguardar seus direitos. Em meio a essa disputa, o presidente da empresa, Eduardo Pelleissone, renunciou ao cargo, na quinta-feira 6. Para seu lugar foi nomeado o atual presidente da Vetria Mineração, Alexandre Santoro.

 

No mercado, não falta quem diga que a decisão do governo argentino representa quase que um alívio para a companhia. “O impacto (da expropriação) no desempenho das ações (da ALL) pode até ser positivo, depende dos termos da estatização e se a ALL será reembolsada ou obrigada a pagar alguma quantia ao governo argentino”, afirmaram os analistas do Bank of America Merrill Lynch. De fato, as ações da empresa não saíram dos trilhos. No dia do fatídico anúncio, os papéis da ALL caíram apenas 0,4%, enquanto o índice Bovespa recuou 2,15%. No período janeiro-maio suas ações acumularam alta de 30,4%. O banco também destacou que, em 2012, a companhia já havia manifestado o interesse em sair do país vizinho. Em 2012, a subsidiária gerou receita de R$ 232,9 milhões, mas não adicionou um centavo sequer ao lucro da empresa. 

 

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