A fabricante sul-coreana de eletrônicos Samsung sofreu de uma espécie de complexo de vira-lata, que, por sinal, afetou, em momentos diferentes, a maior parte das empresas asiáticas. Isso ficou ainda mais evidente após 2007, quando a americana Apple lançou o iPhone, aparelho que estabeleceu o novo padrão para o mercado de smartphones. Incapaz de competir em inovação, a Samsung virou a escolha de quem queria gastar menos ou dos que se rebelavam contra as “amarras” de software e hardware da Apple. O jogo, no entanto, mudou. A maior prova disso é o Samsung Galaxy Gear, o relógio inteligente apresentado na quarta-feira 4, em Berlim, na IFA, a maior feira de eletroeletrônicos da Europa, que começa a ser vendido mundialmente no início de outubro.

 

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O pulso ainda pulsa: Galaxy Gear, apresentado em Berlim, estará disponível em seis cores.

Abaixo, JK Shin, chefe de aparelhos móveis da Samsung, mostra aparelho,

o mais esperado da categoria

 

O Galaxy Gear não é o primeiro smartwatch do mercado, mas é – com folga – o que gerou mais expectativa antes de seu lançamento.Esse fato, por si só, já demonstra que a Samsung abandonou de vez a imagem genérica para assumir, orgulhosamente, a liderança dos processos de inovação no mercado de eletrônicos. Tanto que se deu ao luxo de não recorrer a nenhum tipo de designer famoso para criar seu relógio inteligente, que, além de funcionar como extensão do smartphone, é um acessório de imagem. “Não precisamos fazer essa associação porque, hoje, nós temos uma marca desejável”, diz Roberto Soboll, diretor de produto da Samsung do Brasil. 

 

Para o executivo, o barulho cada vez maior gerado antes e depois dos grandes lançamentos da fabricante sul-coreana é uma prova de que a Samsung está no caminho certo. “Desde 2006, somos a empresa número 2 em registro de patentes nos Estados Unidos”, diz Soboll. “A número 1 é a IBM, mas as nossas são mais relevantes.” Num mercado que deve crescer quase 37% neste ano, com aproximadamente um bilhão de smartphones vendidos mundialmente, a inovação é especialmente crucial. “Ela define vencedores e ganhadores”, disse à DINHEIRO Hans-Joachim Kamp, presidente do conselho da GFU, a poderosa associação alemã dos fabricantes de eletrônicos, organizadora da IFA. 

 

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“Sem inovação, simplesmente não há crescimento e não há abertura de novos mercados.” Em todo o mundo, a Samsung emprega 60 mil pessoas em 33 de seus centros de pesquisa e desenvolvimento, área que deverá consumir US$ 16 bilhões em 2013. A companhia conta ainda com seis laboratórios de design dedicados exclusivamente à criação de novos produtos e ao aperfeiçoamento daqueles já existentes. “Os inovadores são aqueles que balançam o mundo, que atendem os humanos e seus desejos”, afirmou BK Yoon, presidente da Samsung Electro­nics, na abertura da edição deste ano da IFA. A Samsung também possui algumas vantagens competitivas que a colocam em posição privilegiada para o lançamento de produtos como Galaxy Gear, antes da concorrência (a Apple ainda não definiu uma data para anunciar o seu iWatch). 

 

A primeira delas é que a empresa sul-coreana desenvolve e fornece peças para outros fabricantes de smartphones, inclusive para a própria Apple. Isso quer dizer que o topo de linha das telas touchscreen, por exemplo, estará num celular Galaxy, e não num iPhone. O segundo ponto tem a ver com o “ecossistema” em que as ideias se desenvolvem. Enquanto a Samsung possui uma imensa linha de produtos – que vão de telefones celulares a geladeiras, passando por televisores e aspiradores de pó –, a Apple foca seus esforços em computadores, celulares e tablets, um campo mais limitado, sem dúvida.

 

Num contexto de integração cada vez maior de funções, os sul-coreanos saem na frente. Nenhuma dessas vantagens, entretanto, faria diferença se não houvesse disposição para experimentar (confira o quadro abaixo). E isso não vem sem risco. Extraoficialmente, executivos da Samsung confirmaram à DINHEIRO que o lançamento do Galaxy Gear configura um teste de conceito, uma tentativa de explorar um nicho ainda pouco conhecido. Vários representantes da indústria de eletrônicos apostam que as chamadas tecnologias vestíveis, como o smartwatch e o Google Glass, são o futuro do setor. Se esse futuro chegar, a Samsung pretende estar na frente.

 

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(Conteúdo enviado diretamente de Berlim)