27/06/2012 - 21:00
Na semana passada começou a circular em São Paulo o primeiro táxi 100% elétrico do País. O projeto-piloto é uma iniciativa da prefeitura paulistana, da Eletropaulo e da japonesa Nissan, fabricante do pioneiro Leaf. Até outubro, mais oito modelos chegarão às ruas. A cidade quer chegar até o fim do ano com uma frota de 120 táxis em circulação, incluindo os modelos híbridos movidos a eletricidade e a gasolina das marcas Prius, da Toyota, e Fusion, da Ford. Assim como o Leaf, todos são importados. “Algumas projeções indicam que 10% das vendas mundiais serão de carros elétricos em 2020”, diz Carlos Murilo Moreno, diretor de marketing da Nissan. “Queremos entender o impacto dessa tecnologia em uma metrópole como São Paulo.”
Templo dos carros: estande da Fiat no Salão do Automóvel de São Paulo, em 2011.
A tímida chegada dos primeiros veículos elétricos ao mercado brasileiro é uma prova de que, ao contrário do passado, nenhuma montadora pode excluir o Brasil de sua estratégia global. Os números falam por si. De 1980 para cá, os investimentos da indústria alcançaram US$ 76 bilhões. Com os aportes de mais US$ 22 bilhões, previstos até 2015, os recursos baterão a marca de US$ 100 bilhões. Em 15 anos, a produção nacional dobrou e as vendas das montadoras instaladas no País deverão chegar a 3,77 milhões de unidades neste ano. Somando as importações, estimadas em 160 mil veículos, o volume beira os quatro milhões. Em 2020, a projeção é chegar a seis milhões em vendas anuais, superando a Alemanha na terceira posição no ranking mundial.
Grace, da GM: com investimento de R$ 5 bilhões, a companhia renovou
toda a sua linha de veículos no mercado brasileiro.
“O Brasil tem o maior potencial de crescimento entre os principais consumidores”, afirma Carlos Gomes, presidente da francesa PSA, aliança global da Peugeot e da Citroën. “O mercado brasileiro deixou de ser apenas de carros baratos, abrindo espaço para modelos mais sofisticados.” O surgimento de novos consumidores e a facilidade de crédito impulsionaram a indústria automobilística. O governo fez também a sua parte para ajudar o crescimento do setor. Primeiro, em 2008, com a redução de impostos logo após o estouro da crise mundial. O mesmo foi feito em maio deste ano, na tentativa de reaquecer o consumo.
Mas nada produziu tanto efeito positivo quanto a abertura do mercado, desde que o presidente Collor criticou as montadoras instaladas no País, chamando os carros produzidos por aqui de carroças. O Brasil se tornou palco de grandes investimentos. Hoje, são 20 montadoras instaladas no País, contra apenas quatro no início da década de 1990. Elas contam com 38 fábricas e empregam 128 mil pessoas. Considerando-se toda a sua cadeia, a indústria automotiva corresponde a 21% do PIB industrial brasileiro. A invasão de novas marcas trouxe forte pressão para as quatro grandes empresas instaladas no País – Fiat, Volkswagen, GM e Ford. A competição fez com que elas perdessem participação de mercado.
Força coreana: a Hyundai está construindo fábrica
em Piracicaba (SP), onde vai montar um novo carro.
Em 2008, elas detinham uma fatia de 76,7%. No ano passado, haviam perdido dez pontos percentuais. Isso não significa que tenham ficado paradas assistindo à concorrência crescer. A Fiat, por exemplo, anunciou uma nova fábrica em Goiana, a 65 quilômetros do Recife, um investimento de mais de R$ 3 bilhões para a produção de 250 mil veículos. A GM, da executiva americana Grace Lieblein, a única mulher a comandar uma montadora no Brasil, renovou toda a sua linha de carros, um investimento de mais de R$ 5 bilhões. A Ford, por sua vez, tornou o EcoSport, desenvolvido em Camaçari, na Bahia, um de seus carros mundiais. “Houve um grande esforço da engenharia nacional na última década”, diz o especialista automotivo e presidente do Lean Institute Brasil, José Roberto Ferro.
“As unidades de produção brasileiras passaram a integrar o circuito global de desenvolvimento de produtos.” A grande novidade, a partir de meados dos anos 2000, foi a chegada das marcas coreanas e chinesas. As primeiras, que tiveram uma experiência errática na década de 1990, agora disputam o mercado com carros sofisticados, como é o caso da Hyundai, que vai inaugurar fábrica em Piracicaba, no interior de São Paulo, neste ano, e da Kia. Já os modelos importados da China tentam conquistar o consumidor com o apelo do preço, assim como fez a saudosa Lada, no passado, com a diferença de que vêm recheados de itens de série, a exemplo da Chery e da JAC. As duas contam com planos para construir fábricas no Brasil.