02/09/2022 - 2:10
De maior pagadora de dividendos do planeta com a ação sendo negociada em máximas históricas para corte de recomendação do Itaú BBA e queda de quase 6% dos papéis em um único dia. Essa foi a montanha russa vivida pelo investidor da Petrobras na última semana.
Os possíveis problemas não param. A empresa também vive um certo temor sobre a possibilidade do vitorioso das eleições fazer alguma interferência política na estatal. O principal taxado como possível interventor é o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Lula. O atual chefe da República, Jair Bolsonaro, também causou à empresa certa apreensão com seus rompantes invasivos e controladores, mas nada que desgastasse demais o resultado operacional da empresa em um momento de alta do petróleo no mundo.
E se tudo ocorreu bem para o acionista nos últimos meses, são os próximos que têm causado apreensão. Líder nas pesquisas de intenção de votos, podendo levar o pleito em primeiro turno, a proposta de Lula para a estatal é abrasileirar os preços dos combustíveis com a ampliação da produção nacional de derivados, com expansão do parque de refino. Na prática isso significa uma política de preços que não se define apenas por congelar na canetada, mas ampliar a oferta nacional para tentar segurar os preços. O sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires, entende que o grande problema de tal proposta é justamente um dos calcanhares de Aquiles do PT: obras de refinarias. “O que me preocupa é a questão das refinarias, visto que as tentativas de construção foram repletas de corrupção e a empresa as construiu em lugares com baixa atratividade de investimentos”, disse Pires. O executivo, que chegou a ser indicado por Bolsonaro para presidir a estatal, entende que essa medida tem mais efeito de discurso do que prático. “Por isso acredito que a Petrobras deveria focar no pré-sal, visto que isso faz a companhia ter mais lucrativadade”, afirmou.
PT REAGE Em conversa com a DINHEIRO, a equipe econômica do ex-presidente Lula explicou que a proposta em seu plano de governo nasce na busca por um equilíbrio entre a sociedade, os lucros para os acionistas e a inflação para o consumidor. “Quando a Petrobras bate recordes distribuindo dividendos para seus acionistas, mas os consumidores brasileiros sofrem com preços dos combustíveis, há algo errado e que precisa ser corrigido nessa balança”, disse a equipe de Lula.

“O grande problema no pagamento de dividendos da Petrobras pode não ser o Lula, mas a queda nos preços do petróleo ” Adriano Pires sócio-fundador e Diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE).
Eles afirmaram ainda que em caso de vitória do petista a companhia continuaria perseguindo os bons resultados operacionais e o lucro como empresa privada, mas não deixaria o lado estatal de escanteio. Para o analista da Suno Research João Daronco, mesmo que Lula tentasse algo mais drástico, a aprovação demoraria. “O investidor que quiser entrar na Petrobras, mas teme algo do Lula, pode ficar despreocupado, por enquanto”, disse. “Para ele fazer alguma grande alteração na companhia demoraria pelo menos uns seis meses.” Isso porque a Lei das Estatais, sancionada no governo Temer, precisaria ser alterada no Congresso Nacional. “Isso não seria de imediato, mas poderia estar em prática a partir do final de 2023.”
VERDADEIRO FANTASMA Já Pires afirmou que o pagamento de dividendos pela Petrobras tende a diminuir drasticamente no próximo ano, mas isso não teria diretamente a mão de Lula, caso ele seja eleito em outubro. “A queda nos preços do petróleo pode ser o verdadeiro problema para o acionista da empresa”, afirmou Pires. O especialista explica que a alta das taxas de juros pelo planeta tem causado uma desaceleração da economia global, com alguns países já apresentando recessão técnica, como os EUA. “A entrada do mundo em uma recessão pode deixar o preço do barril de petróleo na casa dos US$ 70”, disse.
De acordo com o especialista da Valor Investimentos Gabriel Meira, caso o cenário indicado se confirme, o pagamento de dividendos da Petrobras cairia de 40% em 12 meses para 12%. “A disparada do petróleo e o crescimento de exportação de gás para Europa por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia beneficiou a empresa“, afirmou. “Isso pode não acontecer em 2023, então as estimativas são para uma redução na distribuição de dividendos.” Sendo assim, o analista não recomenda a entrada na Petrobras para o investidor que não gosta de correr mais riscos para ter uma rentabilidade maior. Nesse sentido, o melhor é ir para a renda fixa. “Hoje temos CBD que paga 14,55%, acima dos 12% de dividendos que a Petrobras pode pagar e sem o risco de mercado. Essa pode ser uma boa alternativa”, disse Meira.
No entanto, existe a possibilidade de a ação da Petrobras dar bons retornos. Em um levantamento feito pelo sócio-fundador da Veedha Investimentos Rodrigo Moliterno, o preço-alvo médio para a ação da Petrobras em 15 casas de análises era de R$ 42,42. Sendo assim, o valor significa uma alta de 30,8% na comparação com o fechamento de terça-feira (30), acima dos 14,55% do CDB. “Por isso, para o investidor de perfil arrojado, vale a pena comprar a ação da empresa, mesmo que não tenha nada garantido.” Para quem gosta de mares incertos e enigmas para desvendar na prática, o risco pode valer a recompensa.