Acionista da Refinaria Manguinhos, o agente autônomo de investimentos carioca Ronaldo Nobre levou um susto no dia 14 de outubro do ano passado. Naquele domingo, após a ocupação, pela polícia, das favelas cariocas de Manguinhos e de Jacarezinho, o governo do Rio de Janeiro anunciou a desapropriação do terreno da refinaria para a construção de casas populares. “A Refinaria de Manguinhos há muito tempo não refina nada. Aquilo é simplesmente estocagem, muita estocagem de etanol. Há um trabalho de descontaminação da refinaria que nós iremos fazer junto com a prefeitura”, disse, na época, o governador Srgio Cabral. 

 

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Calçando as luvas: Nobre, presidente da associação dos acionistas minoritários de Manguinhos:

liminar do STF para suspender a desapropriação da companhia

 

Ato contínuo, os negócios com as ações da Manguinhos na bolsa foram suspensos por sete pregões. Ao reabrirem, os papéis haviam perdido 70% de seu valor. Nobre, presidente da Associação dos Minoritários de Manguinhos, e os gestores do fundo paulista Perimeter, dono de cerca de 17% do capital total da refinaria, decidiram reagir. Os cerca de cinco mil minoritários partiram para a briga na Justiça, questionando a decisão. Em 30 de agosto, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu uma liminar suspendendo o decreto que desapropriava a empresa. A briga ainda vai longe, mas a liminar mostra o papel cada vez mais atuante dos fundos ativistas.

 

Sua atuação tem sido seguida com atenção crescente pelas empresas abertas. O fundo paulista Tarpon, de US$ 8,2 bilhões, tem mais de uma década de história, mas ganhou notoriedade no início deste ano ao levar o empresário Abilio Diniz para a presidência do conselho de administração da BRF, da qual possui 8% das ações. Ao convencer acionistas como a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, a colocar Diniz à frente da BRF, o Tarpon visa aproveitar sua experiência para aumentar o valor de mercado da empresa. Daí a atenção crescente, mesclada com um pitada de temor, que executivos e controladores dedicam a esses acionistas pequenos, porém atuantes. 

 

Eles estão dispostos a investir, aconselhar e facilitar a abertura de portas para melhorar os resultados, mas são implacáveis quando as coisas não vão bem. A Perimeter é um bom exemplo. Além de 17% da Manguinhos, o fundo possui 25% da empresa de autopeças paulista Plascar e 20% da construtora carioca João Fortes Engenharia. Os gestores do fundo têm questionado o desempenho da Plascar, inferior ao de outros nomes do setor. Procurada, a Plascar não atendeu a reportagem. A participação dos ativistas desagrada aos controladores, mas funciona como uma seleção natural para as empresas cuja gestão deixa a desejar. 

 

Diversamente das aquisições alavancadas dos anos 1980, em que banqueiros de investimento compravam de forma hostil o controle de companhias ineficientes e faziam duros ajustes em suas estruturas, a atuação dos ativistas é mais gradual. O melhor exemplo é o do americano Carl Icahn. Ele esteve recentemente envolvido na tentativa de impedir o fechamento de capital da empresa de computadores Dell, afirmando que esse movimento provocaria prejuízos para os acionistas. Na segunda-feira 9, Icahn anunciou que desistia da batalha, mas não sem atrasar em pelo menos um ano os planos do fundador, Michael Dell. 

 

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