10/10/2012 - 21:00
A paciência na Laep acabou. Depois de dezenas de reclamações dos acionistas minoritários, que incluíram protestos ruidosos em frente à loja de artigos de luxo Daslu e um exaltado bate-boca com os diretores da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em junho, os controladores da empresa de participações resolveram fechar seu capital no Brasil. O processo de fechamento, que foi apresentado à CVM no início de agosto, será uma oferta voluntária de aquisição. A sede da Laep fica no paraíso fiscal das Bermudas e suas ações são negociadas em Luxemburgo. A proposta da companhia é fechar o capital na Europa e manter a Laep como uma empresa fechada nas Bermudas. Os Brazilian Depositary Receipts (BDR), que representam as ações negociadas em Luxemburgo, vão deixar de circular por aqui.
Paciência: resultados na Parmalat vão demorar para aparecer,
diz o CEO da Laep, Luiz Cezar Fernandes
“Estamos oferecendo duas alternativas aos investidores, eles podem receber dinheiro ou participações da empresa nas Bermudas”, diz Luiz Cezar Fernandes, CEO da Laep, que não fornece mais detalhes do processo. Procurada, a CVM informou que não comenta processos específicos. A proposta da empresa, segundo os representantes dos minoritários, é de pagar R$ 0,517 por BDR, o que significa oferecer um prêmio de 14,9% em relação ao fechamento das cotações na quarta-feira 3. Eles, como de costume, reclamam. “O valor oferecido pelos controladores é muito baixo”, diz Gisele Menezes, advogada que representa 12% dos acionistas. Além do preço, a principal queixa dos minoritários é de que a Laep usa sua condição de empresa sediada em um paraíso fiscal para não cumprir as regras do mercado brasileiro. O argumento não se sustenta.
De fato, a CVM definiu, por meio da Instrução Normativa 480, que as empresas com mais de 50% de suas atividades no Brasil teriam de se submeter à lei brasileira. A Laep – que controla a Daslu e investe na indústria de laticínios Lácteos Brasil (LBR) – se enquadraria nessa categoria, não fosse o fato de, por ter aberto o capital antes de 2009, quando a CVM publicou a nova regra, não ser alcançada por ela. Ou seja, ela atua legalmente, segundo admitem até mesmo alguns minoritários e a própria autarquia que regula o mercado. “Nós fizemos uma reclamação formal à área técnica da CVM, que respondeu que a Laep estava dentro da lei”, diz a advogada. “Por isso, agora estamos questionando diretamente o colegiado da autarquia.” A definição do valor dos BDRs também seguiu as determinações legais, apesar das queixas dos minoritários, que viram seu investimento encolher.
Perdas decorrentes da desvalorização de papéis são parte do risco de quem vai ao mercado. Os frequentes ataques de grupos de acionistas aos controladores da Laep contribuíram para a perda de valor. O amplo arsenal de recursos usados por eles e por um grupo de credores, comandado pelo fundo inglês GLG – que possui R$ 40 milhões em debêntures da Laep –, teve impacto negativo nas cotações dos BDRs, o que, em vários momentos, levou os gestores da empresa a crer que havia outros objetivos em jogo além da definição de um preço mais alto na oferta de aquisição dos papéis. Outra parte do desempenho dos BDRs da Laep em bolsa encontra justificativa no estágio dos negócios em que a empresa atua e na conjuntura dos respectivos mercados. De acordo com Fernandes, ainda vai demorar algum tempo para que a LBR proporcione lucros gordos. Há duas razões para isso.
A primeira é estrutural: o segmento de leite é marcado por margens de lucro magras, e seus custos são muito sujeitos aos imprevisíveis preços das commodities agrícolas. “Ninguém esperava que uma seca nos Estados Unidos reduzisse em 30% a oferta de grãos e pressionasse os preços”, diz Fernandes. Segundo ele, isso comprimiu os ganhos. Outra razão para a demora na rentabilidade é o perfil da Lácteos. Integrar as operações resultantes da costura que uniu Parmalat, LeitBom, Bom Gosto e Líder representa uma tarefa hercúlea. “O grupo resultante tem 31 fábricas, 28 CNPJs, 50 mil fornecedores, 15 mil funcionários e três mil clientes cadastrados, que vão das maiores redes de varejo até bares e padarias”, diz Fernandes. “Isso sem falar que é preciso integrar cinco sistemas informatizados de gestão diferentes e treinar novamente todos os usuários.” A gestão e o controle acionário, diz Fernandes, estão a cargo do grupo GP.
“Eles estão fazendo um excelente trabalho, mas nesse setor o resultado demora para aparecer, mesmo”, afirma. Há mais um complicador. O acordo fechado com a Parmalat italiana em 2008, auge da crise, estabelece que a transferência do controle antes de 2017 implica a perda do direito do uso da marca Parmalat, um dos ativos mais valiosos do grupo, o que reduz a margem de manobra dos controladores. No caso da Daslu, em que o controle é integralmente detido pela Laep, as perspectivas são melhores. Ícone do consumo de luxo, a butique está deixando de operar lojas isoladas e passando a abrir suas portas em shopping centers, o que melhora as margens. No entanto, o forte crescimento do mercado de luxo torna mais difícil encontrar pontos adequados. Fernandes, porém, diz estar otimista. “A marca é forte, e as possibilidades são ótimas.” Ponto para quem tem paciência.