22/03/2013 - 21:00
Os americanos gostam de cultuar suas marcas como uma forma de mostrar, e ao mesmo tempo expandir, seu domínio comercial sobre o mundo. Nada mais tradicional do que um hambúrguer com ketchup. Nada mais habitual também do que a cerveja Budweiser, que pertencia à legendária família Busch, de Saint Louis, Missouri. Pois três desses ícones dos Estados Unidos agora estão nas mãos de um trio brasileiro: o empresário Jorge Paulo Lemann e seus inseparáveis parceiros Beto Sicupira e Marcel Telles, donos do fundo de investimento 3G Capital. Os três são importantes acionistas da AB InBev, dona da Budweiser, e controladores da rede de fast-food Burger King.
Sabor global: Buffett (à esq.) e Lemann ganham com a Heinz
uma plataforma de expansão internacional
Na quinta-feira 14, em conjunto com o megainvestidor Warren Buffett, da Berkshire Hathaway, eles compraram o passe da centenária Heinz, criadora do ketchup, em um negócio de US$ 28 bilhões – no que é considerado como a quarta maior transação da indústria de alimentos e bebidas mundial, segundo a Thomson Reuters. “É meu tipo de negócio e é meu tipo de parceiro”, afirmou Buffett, em entrevista à rede de tevê CNBC, logo após a transação ser anunciada. Com a aquisição, o 3G Capital e a Berkshire Hathaway ganham uma plataforma para se expandir internacionalmente. A fabricante de condimentos, baseada em Pittsburgh, gera dois terços de sua receita de US$ 11,6 bilhões fora dos Estados Unidos. Melhor: 25% desse valor vem de mercados emergentes, como o Brasil, onde adquiriu a goiana Quero, e a China, na qual é dona da Foodstar.
Os dois negócios foram fechados em 2011. “A Heinz é uma companhia realmente global”, disse o brasileiro Alex Behring, cofundador do 3G Capital. Tanto Lemann e seus sócios, como Buffett, terão, cada um, uma participação de US$ 4,5 bilhões no capital social. A firma de investimentos de Buffett deterá ainda uma fatia adicional de US$ 8 bilhões em papéis preferenciais. A negociação para a aquisição da Heinz foi expressa, de acordo com o diário de economia The Wall Street Journal. A primeira aproximação aconteceu em meados de dezembro do ano passado. Lemann convidou o CEO da Heinz, William Johnson, para um almoço de três horas em Naples, na Flórida. O Burger King é um dos principais clientes da Heinz.
Na ocasião, não falaram sobre a compra da companhia. No mesmo mês, Johnson também teve contato com Buffett. Cerca de 30 dias depois, o 3G deixou claro o seu interesse pela empresa de Johnson. No começo de fevereiro, passou a olhar mais de perto os seus números. A aquisição ainda precisa ser aprovada pelos acionistas da Heinz e pelas autoridades antitruste americanas. O estilo de gestão que deve prevalecer é o do 3G Capital. A receita de Lemann e seus sócios é amplamente conhecida, baseada na meritocracia e na redução de custos nos mínimos detalhes. Quem se dá bem é recompensado pelo desempenho, com altos salários e bônus. Mas isso, aparentemente, não deve ser um problema. A gestão da Heinz já é considerada bastante agressiva por analistas de Wall Street. Será mesmo?