15/02/2012 - 21:00
Estima-se que, de cada três frangos consumidos no mundo, um tenha sido exportado pelo Brasil. No mercado de carne bovina, o País também já é o maior fornecedor global. Mas essa liderança mundial vem deixando um custoso legado para a Previdência Social e os trabalhadores. Com um índice de afastamentos por doenças ocupacionais acima da média, o setor tem sido apontado pelo Ministério Público do Trabalho como um dos mais insalubres para os seus empregados. Dos 750 mil funcionários nas empresas frigoríficas, cerca de 150 mil sofrem algum distúrbio osteomuscular, como lesões por esforço repetitivo (LER), e já recorreram ao auxílio-doença.
Repetição exaustiva: 20% dos trabalhadores dos maiores frigoríficos já recorreram ao auxílio-doença.
O Ministério Público do Trabalho tem intensificado as ações de fiscalização e os alvos são justamente as três maiores do setor: JBS Friboi, BR Foods e Marfrig. Juntas, elas exportaram US$ 10 bilhões para 150 países e responderam por cerca de 80% dos embarques de carnes do Brasil em 2011. As principais ocorrências registradas nas fiscalizações são jornadas de trabalho excessivas e a falta de intervalos de descanso previstos em lei. A insalubridade decorre das longas horas num trabalho mecânico como a desossa e limpeza das carnes bovina e de frango. “Há trabalhadores fazendo até 120 movimentos por minuto nessas atividades, quando o limite saudável é de 30”, disse à DINHEIRO o procurador Sandro Sardá, coordenador do projeto de adequação das condições de trabalho em frigoríficos.
O resultado das vistorias tem sido uma leva de ações judiciais movidas contra as empresas. Só o grupo de Sardá já pediu R$ 100 milhões em reparações por danos morais aos trabalhadores em ações civis. Em 2011, após anos de índices elevados de afastamento no setor, o Ministério do Trabalho criou uma comissão para discutir novas normas. A primeira reunião será no fim deste mês. Segundo Ricardo Gouvêa, diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Carnes de Santa Catarina, as empresas estão promovendo mudanças para reduzir os riscos ocupacionais. “Somos constantemente auditados e temos no Brasil linhas de produção equivalentes às dos países mais avançados do mundo”, disse Gouvêa à DINHEIRO. Não é o que pensa o Ministério Público do Trabalho.