05/09/2014 - 20:00
Estocolmo é uma das cidades mais sustentáveis do planeta. No horário do rush, ônibus elétricos, carros e bicicletas dividem cordialmente o espaço no trânsito da capital sueca. Os ciclistas contam com vias exclusivas que cortam praticamente todas as rotas de tráfego da bela cidade erguida sobre 14 ilhas, margeadas pelas águas calmas do lago Mälaren. Apesar do farto e eficiente sistema público de transporte, que inclui linhas de trem, de metrô e barcos com teto panorâmico, que zarpam do cais situado entre a cidade velha e o Teatro Dramático Real, levando turistas e moradores, os automóveis continuam tendo uma grande presença na paisagem da Veneza dos Bálticos.
E é fácil de entender por quê. O carro se tornou uma espécie de orgulho nacional para os 9,1 milhões de habitantes deste país nórdico, a partir de 1927, quando o engenheiro Gustav Larson e o economista Assar Gabrielsson lançaram o Jacob, o primeiro veículo da Volvo. Decorridos 87 anos, não seria exagero dizer que a montadora baseada em Gotemburgo, a segunda maior cidade do país, se encontra em processo de renascimento. Esse, por sinal, foi o tom dos discursos proferidos por cada um dos executivos da empresa que participaram do mega- lançamento da versão 2015 do XC90, no final de agosto.
A começar por Hakan Samuelsson, CEO global da Volvo Cars, o primeiro a subir ao palco do auditório do modernoso centro cultural Artipelag, encravado em uma floresta de pínus às margens do Mar Báltico, onde aconteceu a cerimônia. “A partir deste momento, estamos construindo um novo futuro para a empresa”, afirmou Samuelsson. De fato, o SUV (utilitário esportivo, na sigla em inglês) está no centro da estratégia da montadora para os próximos 80 anos. As vendas só começam em 2015. Antes disso, no entanto, os amantes da marca poderão disputar um dos 1.927 exemplares da versão exclusiva, apresentada no evento.
No Brasil, cada exemplar da série custará R$ 397,7 mil. O XC90 é parte de uma das mais ousadas tacadas da marca e o retorno à atuação de modo autônomo. Até 2010, seus executivos tinham de prestar contas à americana Ford, que passou o ativo para a chinesa Geely. Com dinheiro para investir, liberdade para tocar projetos e acesso privilegiado ao insaciável mercado asiático, a equipe comandada por Samuelsson tratou de colocar a mão na massa. O XC90 é fruto de um projeto orçado em cerca de R$ 25 bilhões (75 bilhões de coroas suecas) que deu origem a uma plataforma sobre a qual serão desenvolvidos todos os veículos da marca.
O DNA sueco está presente nos mínimos detalhes, a começar pela silhueta do martelo de Thor, gravada na lente dos faróis. Com uma receita líquida anual de R$ 40,7 bilhões e vendas na faixa de 400 mil unidades, a Volvo se situa no pelotão intermediário do setor. Apenas para efeito de comparação, a japonesa Toyota, líder global, tem faturamento seis vezes maior. O tamanho reduzido, no entanto, acabou se tornando uma vantagem competitiva para os suecos. “Desde que foi adquirida pelos chineses, a Volvo ficou mais ágil, dinâmica e jovem”, afirma o consultor Corrado Capellano, sócio-diretor da Creating Value, baseada em São Paulo.
Para ele, o grande acerto dos chineses foi ter mantido a unidade autônoma, ao contrário da filosofia intervencionista pregada pela Ford. Isso, aliado à musculatura parruda da Geely no maior mercado automotivo do planeta, deixou a pista livre para o CEO Samuelsson acelerar. No acumulado janeiro-junho, as vendas saltaram 34,3% na China, em relação ao mesmo período de 2013. No total foram comercializados 229.013 veículos. Mais que apenas em volume, os negócios vêm crescendo em bases lucrativas. No balanço do primeiro semestre, o lucro operacional ficou em R$ 400 milhões, ante um prejuízo de R$ 192,3 milhões em 2013.
“A China está no centro de nossa estratégia para dobrar as vendas globais para 800 mil unidades”, afirmou o presidente mundial da Volvo. E o Brasil, como fica nessa história? Segundo o presidente da subsidiária local, Luis Rezende, o País, embora não vá receber um tostão dessa dinheirama, continua prestigiado. Para ele, a decisão de construir três fábricas na China foi decorrência do maior amadurecimento daquele mercado para automóveis de luxo. “Quem deseja dobrar de tamanho precisa ter uma posição forte na China”, diz.
No Brasil, por conta do Inovar Auto, que limita a importação de veículos para quem não dispõe de fábrica no Mercosul, a Volvo teve de encolher de tamanho. Do recorde de 5,2 mil carros comercializados em 2011, agora tem de se contentar com uma cota em torno de três mil unidades. Nesse contexto, o grande desafio foi preservar a lucratividade. Rezende diz que isso vem sendo conseguido com a mudança do portfólio, que hoje se concentra em veículos com motores robustos e mais bem equipados.
Com isso, o piso do preço de venda subiu de R$ 120 mil para os atuais R$ 150 mil, o que permitiu preservar a rede de 24 concessionárias. “Mais que comercializar veículos, estamos apostando na criação de serviços únicos, que atraem os consumidores com elevado poder aquisitivo”, afirma o executivo. Por conta disso, Rezende diz que o Brasil terá muito a ganhar com o lançamento do XC90, cuja série especial de 1.927 unidades já conta com uma reserva feita por um brasileiro. “Esse modelo vai redefinir a categoria de SUV no mundo”, disse um entusiasmado Samuelsson, o CEO global da montadora.