O magnata americano Sam Zell, 69 anos, dono de uma fortuna avaliada em US$ 4,7 bilhões, pode voltar a entrar em uma antiga casa que já foi sua. Por meio do fundo de investimentos Equity International, ele negocia a compra da construtora paulistana Gafisa, da qual era acionista. Nessa investida, Zell, um dos maiores investidores imobiliários dos Estados Unidos, conta com a parceria da brasileira GP Investments, que também já teve participação na empresa. O negócio, que está em sua fase inicial, está sacudindo o mercado. Em apenas dois pregões, os papéis da Gafisa chegaram a subir 14%, atingindo a cotação de R$ 5,35 na Bovespa. 

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O investidor: Sam Zell vendeu suas ações na alta. Agora, ele pode voltar à Gafisa,
cujos papéis foram um dos que mais se desvalorizaram em 2011.

Na quinta-feira 2, a direção da companhia confirmou que havia recebido uma proposta. O interesse de Zell na Gafisa não se deve exclusivamente a fatores sentimentais. Foi por meio da construtora paulistana que o americano desembarcou por aqui, em 2005. Na época, ele desembolsou US$ 50 milhões para comprar 32% do seu capital. Cinco anos mais tarde, o bilionário americano começou a reduzir sua participação, com a venda a conta-gotas de seus papéis. O desembarque de Zell mostrou quão apurado é seu faro para os negócios: por apenas uma pequena fatia de 4,58% do capital da Gafisa, ele embolsou R$ 175 milhões em 2010. Desde então, a companhia vem perdendo o seu brilho. 

Colaborou para isso a compra da mineira Tenda, em 2008, especializada em clientes da base da pirâmide de consumo. A dificuldade em digerir um ativo totalmente diferente de seu perfil cobrou seu preço. No ano passado, a cotação das ações da Gafisa foi a que mais caiu no setor imobiliário, recuando 64,95% (leia detalhes no quadro ao final da reportagem). Por que, afinal, um dos homens mais ricos dos Estados Unidos se interessaria por uma empresa cujo valor está em franco declínio? Uma das respostas está no potencial do segmento de construção e no potencial desse ativo. 

 

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Calciolari, ceo da Gafisa: executivo assumiu em julho do ano passado e

reforçou projetos das grifes Gafisa e Alphaville.

 

“Quando Zell  vendeu as ações, em 2010, o valor era alto”, diz o analista Erick Scott, da corretora SLW. “Agora que o setor está se recuperando, ele quer aproveitar para comprar novamente, mas por um montante mais baixo.” Apesar de toda movimentação em torno do papel, os analistas descartam que o anúncio do interesse de Zell e da GP Investments seja uma mera manobra especulativa. “O cenário hoje é de menos incertezas e tudo indica que a Gafisa terá um ano melhor”, afirma o analista Marco Aurélio Barbosa, da corretora Coinvalores. “Se a negociação vingar, a tendência é de que ele fique até que a companhia mostre resultados em médio e em longo prazos.” 

 

O balanço financeiro da Gafisa, que na metade do ano passado mudou seu comando, de certa forma corrobora essa expectativa. Desde que assumiu o posto de CEO, em julho, o executivo Alceu Calciolari tratou de arrumar a casa. A prioridade foi o reforço dos projetos das grifes Gafisa e Alphaville, deixando a Tenda em segundo plano. Em 2011, as vendas contratadas somaram R$ 3,3 bilhões ante os R$ 4 bilhões apurados no ano anterior. “Optamos por reduzir o volume e maximizar a rentabilidade”, disse Calciolari em comunicado. Algo que soa como boa música para os ouvidos do possível futuro sócio. Essa, porém, não é a primeira tacada do empresário em seu regresso ao País. 

 

No final de 2011, Zell se tornou o controlador do grupo Thá. Baseada em Curitiba, a empresa atua de forma verticalizada por meio de uma incorporadora, uma construtora e uma imobiliária. O valor da transação não foi divulgado. Fundada em 1895 pelo imigrante italiano Maurizio Thá, a empresa se tornou uma das mais importantes do setor na região Sul. Seu portfólio inclui desde edifícios comerciais e residenciais de alto padrão até galpões e lojas para grandes redes varejistas. Em 2011, o grupo obteve um volume geral de vendas estimado em R$ 1 bilhão e ao longo de sua história já ergueu um total de seis milhões de metros quadrados.

 

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