Quando se constrói uma casa, primeiro as atenções são voltadas para o alicerce, as paredes, o telhado e, por último, o acabamento. Seguindo essas etapas, a subsidiária da Volkswagen está se preparando para, após mais de uma década, sair da sombra da Fiat, que lhe tirou a liderança nas vendas de veículos no País, em 2002. “Já arrumamos a casa, renovamos o portfólio. Agora chegou a hora de produzir veículos globais e de buscar o primeiro lugar”, disse Thomas Schmall, presidente da Volkswagen Brasil. “Estamos preparados para voltar a ser líderes.” 

 

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Mãos de Tesoura: Schmall vai cortar em 21% o tempo de montagem

dos carros nas fábricas do País

 

O discurso, pontuado por tiradas bem-humoradas, foi proferido durante encontro em São Paulo, na semana passada, que reuniu altos executivos do setor. O alemão Schmall, que comanda a companhia desde 2006, estava à vontade. Tanto que chegou até a cutucar a arquirrival, que acaba de lançar a versão três portas da picape Strada. “Estamos há 60 anos no Brasil e já conseguimos contar um, dois, três, ao criarmos a Kombi”, disse ao se referir ao comercial do carro da Fiat que usa uma paródia da música Maria, do cantor Ricky Martin. As palavras de Schmall destoam do tom usado até então. Especialmente nos últimos cinco anos, quando o foco da subsidiária passou a ser o lucro. 

 

Agora, voltar à pole position se tornou prioritário. O fato é que a distância entre as duas empresas, que começou em 0,06% no começo dos anos 2000, aumentou gradativamente e atingiu a marca de 2,3 pontos percentuais em 2012: 22,04% para a Fiat e 20,34% para a VW, segundo dados da Anfavea. Isso mexeu com os brios dos alemães. “A Volks nunca se sentiu confortável por ter perdido a liderança de mercado”, afirmou Francisco Satkunas, consultor do setor automotivo. “A direção mundial se focou muito na China e nos EUA. Agora, tem o Brasil como prioridade.” 

 

É por isso que Schmall espera reagir exatamente onde a rival é mais forte: no chamado segmento de entrada, no qual o Uno dos italianos reina absoluto e inaugurou a safra de carros populares, com o motor 1.0. No acumulado janeiro-setembro foram vendidos 140,9 mil exemplares do modelo, quase três vezes mais em relação aos 57,5 mil do segundo colocado, o Celta, da General Motors. A arma da Volks para destronar a rival é o UP!, um subcompacto com preço mais baixo que o Gol, que deverá contar com as versões sedã e perua. O primeiro exemplar sairá da linha de montagem de Taubaté (SP) no início de 2014. 

 

“Vamos ver uma ferrenha guerra de preços”, afirmou Satkunas. Esse, porém, não é o único trunfo do piloto da Volks. Outra carta na manga é o novo Golf, anunciado para a fábrica de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, resultado do investimento de R$ 500 milhões, elevando para a marca recorde de R$ 9,2 bilhões o volume de recursos desembolsados entre 2012 e 2016. O modelo será o primeiro feito por aqui sob a estratégia de privilegiar a inovação e os modelos globais. “O tempo em que o Brasil ficou afastado da tecnologia acabou”, disse Schmall. Até mesmo o veteraníssimo Gol passará por essa abordagem e será fabricado sob uma nova plataforma global da VW. 

 

“É um modelo muito importante para nossa empresa.” De fato, o Gol é o automóvel mais vendido do Brasil há 20 anos consecutivos, tendo batido a marca de sete milhões de unidades produzidas por aqui. Para colocar esses planos em marcha, o presidente da Volkswagen teve de acelerar também em outra pista: a redução de custos na produção. A estratégia de Schmall prevê a adoção de novos processos que garantam a melhoria da produtividade de suas três fábricas, inclusive a de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. 

 

A meta de Schmall é diminuir em 21%, até 2016, o tempo de montagem de cada veículo. Hoje são produzidas por dia 3,5 mil unidades. “São processos mais eficientes que vamos usar com as novas plataformas”, disse Schmall. Ele explicou que, em vez de parafusar o quebra-sol, por exemplo, os operários irão fixá-los por meio de “grampos”, agilizando o processo. De acordo com o executivo, a combinação do aprimoramento dos processos produtivos com os modelos mais competitivos é o combustível que permitirá à companhia pisar mais fundo no acelerador na corrida pelo primeiro lugar.

 

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