Uma das mais complexas e intrigantes guerras societárias do País, travada pelo controle da operadora de telefonia Brasil Telecom, teve um importante e decisivo desdobramento na última quarta-feira 17. O ex-presidente da Telecom Italia, Marco Tronchetti Provera, atual presidente da Pirelli, foi condenado pela Justiça de Milão a 20 meses de cadeia por receptação de material de espionagem. O crime teria ocorrido ao longo de quatro anos, entre 2003 e 2006. 

 

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Provera, CEO da Pirelli: “Fui condenado por ter entregado quem espionava.

Vou recorrer e a verdade vai aparecer”

 

Informações estratégicas, segundo a juíza italiana Anna Calabi, autora da sentença, foram furtadas de um computador da Kroll, uma empresa de inteligência contratada pelo banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, à época sócio e rival da Telecom Italia na batalha pelo comando da Brasil Telecom. Até então, Provera alegava nos tribunais exatamente o contrário: que era ele a vítima de espionagem, que seria executada a mando de Dantas. O executivo italiano afirmava que o banqueiro brasileiro teria contratado a Kroll, para vasculhar informações secretas da Telecom Italia. 

 

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Agosto de 2004: a DINHEIRO revela série de contradições nas investigações em que Dantas é acusado de espionagem

 

“Fui condenado por ter entregado aqueles que nos espionavam”, defendeu-se Provera, em nota divulgada na imprensa brasileira na quinta-feira 18. “Vou recorrer e tenho certeza de que a verdade vai aparecer.” Além da detenção, Provera também terá de pagar indenização de € 900 mil para a Telecom Italia, equivalente a R$ 2,6 milhões, sob acusação de ter sujado a reputação da companhia. Desde as primeiras trocas de acusações entre Provera e Dantas, a DINHEIRO foi o único veículo da grande imprensa brasileira a publicar reportagens que apontavam o presidente da Telecom Italia como principal operador de um esquema fraudulento de espionagem empresarial. 

 

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Novembro de 2007: irregularidades naTelecom Italia ficam evidentes e passam a ser investigadas pela Justiça de Milão

 

Procurado pela reportagem, Dantas não quis comentar a decisão. O caso Kroll, como ficou conhecido o conturbado embate empresarial, deu origem à Operação Chacal, da Polícia Federal, que resultou na apreensão de bens e computadores, em outubro de 2004, na sede do Opportunity, no Rio de Janeiro, e às casas de Daniel Dantas e de Carla Cico, à época CEO da Brasil Telecom. Dantas chegou a ser preso, mas foi inocentado pelo Superior Tribunal de Justiça em 2011. Agora, com a nova decisão da Justiça italiana, fica mais evidente que Provera não era a vítima. Era o espião.