06/06/2012 - 21:00
Há pouco mais de dois anos, a alemã SAP, maior empresa de softwares corporativos do mundo, passava por uma crise sem precedentes. Depois de uma sucessão de erros, que resultou em uma queda de 9% no faturamento e 4% nos lucros em 2009, o então CEO da companhia, Leo Apotheker, foi demitido. Um dos fundadores da empresa, Hasso Plattner, veio a público pedir desculpas aos clientes e investidores pelas decisões equivocadas. “Perdemos o rumo e estou disposto a mudar isso rapidamente”, afirmou Plattner, na ocasião, durante uma conferência com analistas e jornalistas.
Rodolpho Cardenuto, presidente da SAP na AL: ”Não somos mais uma empresa de ERP”.
Ele tratou de traduzir sua promessa em ação. Daquele momento em diante, a empresa realizou uma série de aquisições e tomou decisões estratégicas de modo rápido, ações que fizeram a SAP reencontrar o rumo do crescimento. No ano passado, a receita da empresa subiu 14%, para mais de € 14 bilhões, e o lucro quase dobrou, chegando a € 3,4 bilhões. Mais do que uma reviravolta nos resultados, a SAP promoveu uma mudança geral nos seus negócios. Reconhecida por seus softwares de gestão, os chamados ERPs, sistemas que ajudam as empresas a controlar suas operações, a companhia alemã não quer mais ser lembrada apenas por seu principal produto e refuta antigas definições.
“Não somos mais uma empresa de ERP”, afirma Rodolpho Cardenuto, presidente da SAP na América Latina. “Mudamos completamente nosso portfólio.” Os números da empresa no Brasil comprovam essa transformação. Em 2008, segundo Cardenuto, 95% dos negócios da SAP no mercado nacional provinham da área de ERP. Atualmente, o produto corresponde a apenas um terço das vendas. E de onde vêm os outros dois terços? Das áreas de computação em nuvem, sistemas de inteligência e mobilidade. Não foram somente os maus resultados que motivaram a mudança da companhia. A SAP também enfrenta o declínio do mercado de sistemas de gestão.
“Não é que o ERP deixou de ser um bom negócio, mas ele não cresce mais”, afirma Fernando Meirelles, professor da Fundação Getulio Vargas de São Paulo e coordenador da pesquisa “Administração de Recursos de Tecnologia da Informação”, que reúne dados sobre a informatização das empresas brasileiras. Isso acontece porque a maior parte das empresas já possui um ERP instalado. De acordo com dados da pesquisa feita pela FGV, esse tipo de sistema no Brasil está presente em mais de 80% das corporações. Para a SAP, essa estagnação do negócio de ERP é ainda mais prejudicial, uma vez que, no País, ela tem uma presença maior no segmento de grandes empresas, justamente no qual o crescimento é mais lento.
Hasso Plattner, fundador da SAP: ”Perdemos o rumo,
mas vou mudar isso rapidamente”.
Há pelo menos cinco anos os alemães tentam crescer entre as pequenas, segmento que ainda apresenta boas oportunidades, mas esbarram em um competidor forte, a brasileira Totvs, dona de 53% desse mercado. Entre as companhias de maior porte, o cenário é oposto: a fatia da SAP é de 51%. “É muito difícil para qualquer competidor mudar essa realidade”, afirma Meirelles. “A participação de mercado pode até variar um ou dois pontos porcentuais, mas não muito mais do que isso.” Nessa estratégia de diversificação de produtos, as aquisições desempenharam um papel importante para a SAP.
Chegaram a mais de uma dezena, nos últimos quatro anos, das quais as mais importantes foram a da Business Objects, desenvolvedora de sistemas de inteligência, adquirida por US$ 6,8 bilhões, em 2008, e a da Sybase, que fornece softwares de banco de dados, por US$ 5,8 bilhões em 2010. Ambas atuavam em setores que eram dominados por grandes rivais da SAP como a Oracle, líder entre as fabricantes de bancos de dados. O Brasil também ganhou importância para a companhia. Em 2010, o País chegou a figurar como terceiro maior mercado da SAP no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos e a Alemanha. “Continuamos entre as cinco maiores e brigando para recuperar o terceiro lugar”, diz o presidente da SAP na América Latina.
É com a área de softwares para mobilidade, no entanto, que a empresa está mais otimista. “Esse é um mercado que cresce 100% por ano”, afirma Cardenuto. “Qualquer companhia quer ser capaz de usar os tablets e celulares para fazer negócios.” A vantagem desse tipo de produto é que ele atende a empresas de qualquer tamanho. Para Meirelles, da FGV, o que está em jogo no mercado de softwares corporativos, atualmente, é o modelo de comercialização. “As empresas não querem mais pagar caro por uma licença de uso”, afirma. “A tendência é a cobrança ser feita conforme o uso. A questão é que não se descobriu a melhor maneira de fazer isso.”