Uma ideia na cabeça e a falta completa de dinheiro nas mãos é uma equação que costuma levar ao desespero muitos empreendedores. Graças aos céus, porém, eles já podem recorrer à intercessão dos anjos. Crenças religiosas à parte, é crescente o número de investidores que querem arriscar dinheiro para transformar boas ideias em negócios rentáveis. São os chamados investidores-anjo. Esses capitalistas aportam recursos em empresas embrionárias em busca do próximo Facebook. “Quase sempre são empresários ou executivos que ganharam dinheiro com negócios próprios e sabem identificar boas ideias nos segmentos onde atuam”, diz Carlos Alberto dos Santos, diretor-técnico do Sebrae Nacional. 

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Okumura, da Kekanto: abençoando iniciativas com capital

e com conhecimento.

 

O valor investido tende a ser bem menor do que as aplicações de private equity tradicionais, em que os cheques podem chegar a centenas de milhões de reais. No caso dos anjos, as apostas, segundo Santos, são de R$ 300 mil, em média. As bênçãos, porém, não são apenas financeiras. “Esses investidores também ajudam o novato na gestão e abrem portas.” Um bom exemplo de anjo em atividade é o de Fernando Okumura, cofundador e principal executivo do site Kekanto, um guia de serviços colaborativo que divulga recomendações de usuários sobre restaurantes, bares e casas de entretenimento. Com especializações em universidades americanas e passagens por bancos de investimento e pela consultoria McKinsey, Okumura estruturou a Kekanto com recursos próprios e também com aportes de fundos de private equity internacionais. 

 

No entanto, ele também investiu recursos próprios em empresas que estavam começando, uma delas produzindo material de construção sustentável, e outra de informática. Além de fornecer recursos, Okumura ajuda a formular estratégias, a recrutar executivos e a evitar os riscos que um negócio corre em seus primeiros estágios. “Uma das minhas principais funções é alertar contra as ameaças”, diz ele. “Um investidor-anjo conhece as pedras do caminho, pois já tropeçou nelas.” Um caso de sucesso, lembra Adalberto Brandão, diretor do Centro de Estudos de Private Equity (Cepe), da Fundação Getulio Vargas, em que a ação do anjo foi providencial é o da Bematech. Em 1987, os empreendedores Marcel Malczewski e Wolney Betiol, de Curitiba, queriam produzir aparelhos de telex. 

 

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O investidor-anjo que os aconselhava sabia que aquele mercado estava em extinção no Exterior e sugeriu mudar o foco. Mais de duas décadas depois, com ações em bolsa e um valor de mercado de R$ 200 milhões, a companhia é uma das líderes do setor de impressoras para a automação comercial e bancária. Os setores com mais potencial para recebimento de recursos no momento são o de biotecnologia, energia e novos materiais. Os empreendedores nessas áreas em busca de recursos costumam povoar os eventos de apresentação para investidores e de captação de recursos, que vêm crescendo no País. Um deles é o Desafio Brasil, uma competição entre empresas iniciantes organizada por Brandão, do Cepe. 

 

“Executivos de sucesso, celebridades com dinheiro e gestores de fundos internacionais vão a esses eventos atrás do negócio do futuro que vai gerar milhões”, diz. As conversações entre anjos e empreendedores costumam levar meses. “A maturação desses negócios leva, em média, dez anos. Frequentemente, o investidor participa ativamente do dia a dia da empresa”, afirma o consultor paulista Luiz Ricardo Grecco. “Não temos dados específicos, mas sabemos que a mortalidade das assistidas por anjos é bem menor que a média”, diz Grecco. Segundo o Sebrae, 58% das pequenas e médias empresas morrem com até cinco anos de atividade. No caso das abençoadas, a estimativa é que esse percentual se reduza à metade.