24/11/2010 - 21:00
Os laços históricos de amizade entre Brasil e Cuba sempre ficaram mais evidentes no campo político. Agora, com a intensificação do processo de abertura econômica, iniciado por Raúl Castro em 2008, chegou a vez de os empresários brasileiros transformarem a amizade em negócios.
Boas oportunidades, certamente, não faltam. Na bela capital, Havana, a frota de veículos nos faz pensar que entramos direto em um túnel do tempo. Lá, ainda podem ser vistos desde exemplares da Chevrolet da década de 1950 até modelos Lada – feitos na extinta União Soviética.
Reação: a construção civil é uma das áreas que devem atrair o interesse dos brasileiros
por Cuba. Na ilha, funciona desde a década de 1980 uma filial da Souza Cruz, a Brascuba (à esq.)
A infraestrutura urbana, especialmente no centro histórico, indica que há muito a ser feito. Mas, como tudo que acontece na ilha, a abertura econômica vinha sendo feita de forma lenta e gradual.
Para acelerar o processo, Fidel Castro, que apesar de afastado do poder ainda exerce grande influência nos destinos do país, usou um encontro com estudantes, na quarta-feira 17, para expressar seu apoio incondicional ao trabalho do irmão Raúl.
A mensagem é recebida como um sopro de esperança por gente simples como o taxista Garman Berdecia. Químico de formação, ele ganha a vida a bordo de um Lada, carregando turistas pelos pontos históricos da cidade.
“As esperanças da população estão se renovando com a possibilidade de novos investimentos no país, em decorrência da política adotada pelo comandante Raúl Castro”, disse.
As empresas brasileiras já estão se beneficiando. No acumulado janeiro-setembro elas exportaram US$ 265,2 milhões, volume 23% maior em relação a igual período de 2009.
Do ponto de vista prático, já se pode dizer que existe um cenário, digamos, mais capitalista em Cuba. O dólar é a moeda utilizada nos hotéis feitos exclusivamente para turistas estrangeiros.
Além disso, cresce o número de empresas que buscam oportunidades na ilha, por meio de eventos como a Feira Internacional de Havana, realizada no início de novembro.
O encontro contou com a presença de 27 empresas brasileiras, entre elas a Oxford Porcelanas (utilidades do lar), Marilan Alimentos (biscoitos e massas) e Incavel Ônibus e Peças (automotivo).
Elas conseguiram fechar US$ 48 milhões em negócios. Um número 65% acima do previsto pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Uma das “veteranas” no comércio com a ilha é a Alpargatas, fabricante de calçados.
Nos últimos três anos, a companhia vendeu um milhão de pares de suas sandálias Havaianas aos cubanos. “O Brasil possui uma boa aceitação no mercado global e precisamos aproveitar esse momento para difundirmos nossas marcas”, disse à DINHEIRO Marcelo Masotti, gerente de contas internacionais da Alpargatas.
Segundo Hipólito Rocha Gaspar, diretor do Centro de Negócios Apex-Brasil em Havana, muitas outras empresas também estão tratando de conquistar seu espaço em Cuba. Um bom exemplo é a paranaense Globoaves.
Depois de acertar a venda de 16,5 mil toneladas de frango, ela decidiu instalar um complexo produtivo para criação e abate de aves em Cuba. Um investimento estimado em US$ 120 milhões.
O governo cubano, como era de esperar, não trata essa guinada capitalista como uma derrota ou mesmo o abandono dos ideais revolucionários. “Estamos atualizando nosso modelo econômico para que as conquistas da revolução permaneçam e possamos criar riquezas que financiem os setores sociais”, defende Rodrigo Malmierca Díaz, o ministro do Comércio Exterior e de Investi-mentos Estrangeiros.