A Operação Lava Jato, que investiga as relações entre as grandes empreiteiras e a Petrobras, está mudando o cenário competitivo no setor de infraestrutura do País. Como sete das dez maiores companhias nacionais de engenharia estão envolvidas no caso e sofrem impactos, como pedidos de recuperacão judicial, restrição de crédito e quebra de contratos, estão surgindo oportunidades para outras companhias, como construtoras médias e grupos estrangeiros. O governo está estimulando a entrada de novos participantes nos projetos de modernização da logística brasileira.

Para o governo, permitir a participação do maior número de interessados em projetos como os de rodovias e aeroportos é essencial para garantir que o novo plano de concessões, com investimentos previstos de mais de R$ 100 bilhões, saia do papel e contribua para deflagrar a recuperação da economia. Para estimular a entrada de novos concorrentes, o Ministério dos Transportes alterou, em setembro, as regras dos leilões. Barreiras como a exigência de um patrimônio líquido mínimo e de um decreto presidencial para a participação de estrangeiros foram flexibilizadas.

As concessões federais, que eram um desejo antigo de empreiteiras menores, agora começam a se tornar mais reais. Segundo Luciano Amadio Filho, presidente da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop), cerca de 70 companhias de porte médio já demonstraram interesse nos leilões. “Montamos 15 grupos de estudos voltados para as diferentes concessões”, diz Amadio. “Também colocamos os executivos dessas construtoras em contato com fundos de investimentos e consultores, para adequarem a companhia.”

As mudanças feitas pelo governo e o apetite das empresas, porém, não são suficientes para garantir a participação dessa turma nos leilões. Será preciso criar condições de financiamento e alterar trechos que serão concedidos. “O governo vai ter de reduzir ainda mais o valor dos projetos para ter ampla concorrência nos leilões”, afirma Mauricio Endo, especialista de Governo e Infraestrutura da KPMG no Brasil. A consultoria já foi contatada por seis empresas de menor porte em busca de assessoria sobre o tema.

Deve haver também uma grande mudança de cultura por parte dessas companhias, hoje mais focadas no canteiro de obra, em si. Para Endo, o esforço começa com a elaboração de projetos mais detalhados, capazes de atrair financiamento privado. A associação entre as empreiteiras menores também será um caminho natural para disputar os projetos mais ambiciosos. “É uma mudança de paradigma”, afirma o consultor da KPMG. “Elas vão se especializar em prestar serviços de melhor rendimento.” Familiarizada com obras públicas e concessões estaduais, a construtora paulista Amafi está disposta a enfrentar o desafio.

“Acabou o tempo em que o empreiteiro esperava uma concorrência ser lançada no diário oficial”, diz Carlos Zveibil Neto, sócio da Amafi. “É a hora de mudar a mentalidade empresarial.” A construtora, que já participou de concessões estaduais em projetos de saneamento básico, aguarda novas regras para levar adiante as concessões federais. A previsão inicial do governo era leiloar cinco trechos ainda neste ano, com investimentos de quase R$ 20 bilhões. A maior parte deles, porém, deve ficar para 2016. Segundo o Ministério dos Transportes, aumentar o leque de empresas ajudará a dar vazão ao déficit de infraestrutura do País.

Diante das novas condições de mercado, com taxas de juros e câmbio em patamar mais elevado, e da demora do governo em publicar as regras para o leilão, há quem adote uma postura mais conservadora em relação à participação na disputa. “A proposta está no nosso radar, mas no momento não olhamos com muito afinco, principalmente pela questão do financiamento”, diz Ricardo Facchini, diretor comercial da Planova. Se conseguir resolver os impasses, o governo poderá dar o pontapé inicial para construção de novos conglomerados da infraestrutura do País.