A engenheira química Maria das Graças Foster é uma mulher honrada. Funcionária de carreira da Petrobras, ela foi uma dedicada presidente da estatal durante pouco mais de três anos, até deixar o cargo em meio ao maior escândalo da história da empresa. Convocada a depor na quinta-feira 26 na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a corrupção na Petrobras, Graça disse sentir “vergonha, muita vergonha” pelos colegas flagrados com mão na massa. “Quando a gente vê o (Pedro) Barusco falando de si, a gente pensa que está em outro planeta”, disse ela.

Graça referia-se ao ex-gerente de serviços da Petrobras, que assinou um acordo de delação premiada. Barusco afirmou aos investigadores da Lava Jato que a corrupção na estatal, antes isolada, passou a ser “institucionalizada” no início do primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Graça começou falando das conquistas da Petrobras, mas os parlamentares da oposição não tiveram vergonha de interrompê-la e mudar de assunto. “Estamos aqui para falar de corrupção”, disse o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Em seu quinto depoimento no Congresso, Graça manteve a estratégia de blindar o governo. Ela lançou suspeitas sobre o depoimento de Barusco no dia 10 de março.

Segundo a executiva, a corrupção nasceu fora da estatal. “Como tudo acontecia fora da Petrobras, nossos recursos internos não conseguiam mapear isso (a corrupção)”, disse Graça. A vergonha que Graça diz sentir não mascara o fato de que as investigações da Lava Jato prosseguem fazendo estragos entre o primeiro escalão do universo corporativo brasileiro. Na quarta-feira 25, a Galvão Engenharia e a Galvão Participações solicitaram recuperação judicial. A Galvão Engenharia participava da construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e é uma das 16 empreiteiras suspeitas de ter formado cartel para assumir o controle de contratos bilionários na Petrobras.

A justificativa para o pedido foi uma alegada incapacidade de honrar seus pagamentos devido ao fato de a Petrobras ter deixado de cumprir seus compromissos. No âmbito da Lava Jato, Erton Medeiros, diretor da Galvão Engenharia, foi preso no dia 25 de novembro do ano passado e permanece detido em Curitiba. Na manhã da sexta-feira 27, mais um executivo da empresa passou a ter sua moradia e suas refeições custeadas pelo Estado. Dario de Queiroz Galvão, diretor-presidente do Grupo Galvão, que controla a Galvão Engenharia, foi preso pela Polícia Federal em São Paulo.

Apesar do sobrenome do executivo, o Grupo Galvão não tem relações societárias com o grupo Queiroz Galvão. Seus fundadores têm relações de parentesco, mas, desde uma desavença familiar nos anos 1980, as empresas são separadas. O grupo Galvão não é a única empresa que assume estar enrolada. Cristiano Kok, presidente do conselho de administração da empreiteira Engevix, admitiu ter pago R$ 10 milhões em propinas ao doleiro Alberto Yousseff para poder receber pagamentos que a Petrobras devia à sua empresa. Kok afimou que a Engevix não vai quebrar, apesar de prever que o faturamento de 2015 vai cair para R$ 1 bilhão, ante os R$ 3 bilhões em 2014.

“Se tudo der certo, vamos encolher, mas continuaremos vivos”, disse ele. Entre a vergonha de uns e o xilindró de outros, a Petrobras continua se esforçando para colocar a casa em ordem. Na quinta-feira 27, as ações da estatal chegaram a subir mais de 5% devido a rumores de que o Conselho de Administração estabeleceria uma data para a divulgação do balanço de 2014, hipótese descartada pelo vice-presidente financeiro Ivan Monteiro.

No entanto, enquanto os números não são saem, os nomes entram. O governo indicou Murilo Ferreira, presidente da mineradora Vale, para a presidência do Conselho da Petrobras, em substituição a Luciano Coutinho, presidente do BNDES. Coutinho havia assumido interinamente a presidência do Conselho na quinta-feira 26, em substituição a Guido Mantega. Agora, Ferreira deve ser ratificado em uma assembleia de acionistas marcada para o dia 29 de abril.