Parece a 11ª praga do Egito. Só que esta não foi enviada pelas mãos de Moisés, mas dos presidenciáveis Dilma Rousseff e José Serra. Repetindo o que aconteceu em 2006, de novo a campanha petista foi bem-sucedida ao colocar em debate a “praga” das privatizações. No debate da Record, na segunda-feira 25, Dilma disse que Serra queria privatizar o pré-sal. “Estão querendo entregar o filé-mignon do País”, afirmou.

 

O curioso é que, em vez de defender o sucesso das privatizações iniciadas por Fernando Henrique Cardoso nos anos 1990, que transformaram estatais ineficientes em empresas privadas lucrativas e pagadoras de impostos, Serra aderiu ao jogo. “O que ela mais fez foi privatizar petróleo”, afirmou, “acusando” Dilma de, como presidente do Conselho de Administração da Petrobras, ter supervisionado a “entrega” da exploração de petróleo para 108 empresas privadas, metade delas estrangeiras. Discutir o passado poderia ser bom num debate acadêmico entre os dois candidatos economistas. Numa campanha, o que os eleitores gostariam de ouvir são as propostas para o futuro do País.

 

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Nos cálculos da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), o País precisa investir anualmente R$ 160 bilhões em infraestrutura nos próximos dez anos para se tornar competitivo. E o Estado, sozinho, não tem capacidade para tanto. “Enquanto não entendermos que sem capital privado não resolveremos seus problemas, a gente não sai do lugar”, alerta Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura. 

 

Ralph Terra Lima, vice-presidente-executivo da Abdib, destaca inclusive esforços do governo Lula para inserir o setor privado nas obras de melhoria do País. “A lei do saneamento básico, assinada há quase três anos, comprova essa intenção. E vamos precisar de algo parecido para melhorar nossas estradas, a energia, as telecomunicações, o meio ambiente, etc”, afirma. 

 

Prova de que nem o PT acredita nos malefícios da privatização são as declarações do marqueteiro da campanha de Dilma Rousseff, João Santana, em 2006. À época, Santana atribuiu a derrota de Geraldo Alckmin para Lula ao fato de o tucano “não ter defendido as privatizações como maneira de alcançar o desenvolvimento”. 

 

Disse ainda que o assunto só se sustentava por um “erro de comunicação do governo FH, que poderia ter vendido o benefício das privatizações de maneira mais clara. No caso da telefonia, teve um sucesso fabuloso. As pessoas estão aí usando os telefones”. O governo Lula assumiu a importância do setor privado até nos planos de seu PAC, apesar de não conseguir executar a intenção na prática. Dos R$ 656,5 bilhões previstos para o PAC 1, a serem investidos de 2007 a 2010, metade deveria ser responsabilidade do setor privado. Mas, até maio, menos de um quarto dos investimentos realizados tinha recursos privados. 

 

“O PAC não está dando certo porque suas ações estão muito baseadas no governo. Quem sabe empreender e investir é o empresário, mas cabe ao Estado exercer sua atividade mais nobre, que é fiscalizar e regular”, ressalva Pires. Ao criticar ou se envergonhar do capital privado na economia, os candidatos miram o passado em vez de olhar para a frente. E quem perde é o eleitor.