Quase 120 anos depois de sua criação, o cinema vive um momento de transição tecnológica, com a substituição do filme em película pelo formato digital, o que já provoca mudanças importantes nos negócios do setor. Isso porque o mercado mundial dá como certo que os grandes estúdios de cinema, como Warner, Paramount, Sony, Universal, Disney e Fox, estão se preparando para aposentar os longas-metragens de película de 35 mm até o final de 2014, concentrando-se somente em filmes digitais. A medida obrigará os exibidores a fazer investimentos elevadíssimos para renovar suas salas de cinema.

 

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Projeção de lucros: mudança da película para o digital abre novas oportunidades de negócios,

diz Herberto Yamamuro, presidente da NEC no Brasil

 

Farejando bons negócios nessa transição, a japonesa NEC, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, definiu esse segmento como o foco de sua estratégia nos próximos anos, no Brasil e no Exterior. “Percebemos que agora é um bom momento para reforçar os investimentos em projetores digitais de cinema, especialmente no País”, diz Herberto Yamamuro, presidente da NEC no Brasil. “Está claro que a migração rumo à tecnologia digital se acelerou nos últimos anos no mercado brasileiro de cinema.” Dona de um faturamento global de R$ 77,5 bilhões, dos quais R$ 420 milhões no Brasil, a NEC passou a investir nessa área no País em 2012. 

 

No entanto, foi só neste ano que as ações nessa área ganharam mais força. A NEC acabou de fechar parcerias, por exemplo, com duas exibidoras nacionais, a Moviecom e a Cineflix. No primeiro caso, o acordo envolve a locação de 72 projetores digitais e acessórios para salas localizadas no Pará, Amapá, Rio Grande do Norte e, principalmente, no interior de São Paulo. Já com a Cineflix o contrato, que estipula a locação e também a aquisição de equipamentos, envolve a utilização de 100 projetores, até 2016. Os equipamentos serão instalados em salas espalhadas por São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Os valores do aluguel e da compra dos equipamentos não são revelados. 

 

Segundo Leonardo Faria, sócio-diretor da Moviecom, o sistema de aluguel foi um dos motivos que estimularam a empresa a adotar o novo formato. “Como se trata de um processo que está no início, essa tecnologia ainda mudará muito”, diz. “Assim, a locação nos facilitará ter o projetor sempre atualizado.” De uma forma ou de outra, o fato é que para adotar a tecnologia de cinema digital os exibidores terão de desembolsar muito dinheiro. O valor necessário para a digitalização de uma sala oscila entre R$ 140 mil e R$ 300 mil – a quantia varia conforme o tamanho do espaço. Além disso, a vida útil do equipamento digital é menor que a do projetor analógico – enquanto o primeiro deve ser atualizado a cada dez anos, o tradicional pode ficar na ativa por cerca de 20 anos. 

 

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Protagonista: filme mais visto da história do cinema, Avatar ajudou a popularizar

essa nova tecnologia  

 

A combinação desses fatores ajuda a entender por que apenas 30% de um total de 2,6 mil salas de cinema no Brasil é digital, ante 85% nos EUA. “Esse formato diminui nosso custo operacional e logístico, mas requer uma manutenção mais cara e que precisa ser feita constantemente”, diz Faria. Se, por um lado, a nova tecnologia exige investimentos pesados, por outro ela também amplia as possibilidades de receita para os exibidores. Afinal, o digital possibilita transformar a sala de projeção num espaço para transmissão ao vivo de shows e jogos de futebol. “A digitalização permite fazer da sala um local para eventos diversos”, afirma Paulo Lui, presidente da Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas (Feneec).

 

Além disso, deve-se observar também seu poder de atrair plateias maiores para os filmes, em função de alta qualidade de som e imagem. Isso é comprovado, por exemplo, pelo filme Avatar, de James Cameron, que teve como apelo o fato de ser em 3D e se tornou a maior bilheteria da história da sétima arte. Lançado em 2009, o longa-metragem arrecadou US$ 2,8 bilhões e foi decisivo para ampliar o mercado cinematográfico digital. É nesse contexto que surge a estratégia da NEC de priorizar o cinema digital. Trata-se de uma área de negócio muito diferente daquela com a qual a companhia está acostumada. Fundada em 1899, a NEC está presente em uma série de segmentos de tecnologia da informação, como sistemas e softwares de integração, manutenção, suporte e redes de telecomunicações. 

 

Embora sua operação não tenha ligação com o setor de entretenimento, a entrada nos negócios de projeção digital foi facilitada por uma experiência realizada nos anos 1990. Naquela década, a empresa fabricou telas para computadores baseadas na tecnologia multisync – eram aqueles monitores de tubos. A saída desse mercado se deveu ao surgimento do LCD. Como essa tecnologia foi dominada por Samsung e LG, a NEC abandonou o setor de PCs e privilegiou outros formatos, como telões para campanhas publicitárias. “Mas isso nos permitiu ter contato com a tecnologia de telas”, diz Yamamuro. “Assim, a entrada no setor de projeção digital de cinema foi um passo natural.”

 

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