Aos 57 anos, o executivo Adilson Primo viu o mundo mudar. Da histórica queda do muro de Berlim ao desmantelamento da União Soviética, Primo acompanhou também o atentado ao World Trade Center e os maiores avanços na tecnologia, como o surgimento do telefone celular. Ao contrário de muitos dos seus pares, que costumam saltar de galho de tempos em tempos, ele assistiu a tudo isso pelas janelas de uma mesma empresa, a alemã Siemens, onde trabalha há 34 anos, dez deles no comando de sua operação brasileira. “Ninguém morre de tédio em uma empresa como esta”, diz Primo, com um leve resquício de sotaque mineiro.“Já fiz tanta coisa aqui dentro que nem percebi o tempo passar.” Primo nasceu em São Lourenço, no interior de Minas Gerais, e, depois de se formar em engenharia elétrica na Universidade de Itajubá (MG), conseguiu um estágio na companhia alemã. 

Mal chegou e foi despachado para a sede da companhia em Munique. Não falava uma palavra de alemão, mas se virou, a ponto de ficar por lá durante três anos, quando a ideia inicial era apenas um. De volta ao Brasil, Primo passou por diferentes áreas e posições na hierarquia da companhia, até ser escolhido, em 2001, para assumir o comando e encabeçar um processo de mudanças sem igual em sua história centenária no País. E não foram poucas as alterações pelas quais passou a subsidiária brasileira. A principal delas foi quase traumática. Da noite para o dia, 56% dos R$ 6 bilhões de faturamento da companhia no Brasil desapareceram. Explica-se: em 2005, a matriz alemã decidiu sair da área de infraestrutura de telecomunicações, telefones celulares e tecnologia da informação, segmentos que representavam mais da metade dos negócios da empresa no País.

 

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Primo: a filial local mudou de status para a matriz, que decidiu investir US$ 600 milhões no Brasil até 2016

 

“Foi um baque”, afirma Primo. Na ocasião, a Siemens teve de fechar quatro fábricas. Mas foi às compras para entrar em novas áreas: adquiriu a Chemtec, de sistemas de softwares para petróleo, a divisão de equipamentos de alta tensão da Lorenzetti e a Graber, de sistemas de segurança. Em dois anos, a subsidiária voltou a equilibrar a receita, focando nas áreas de energia, meio ambiente, indústria, infraestrutura e saúde. Graças a resultados como esse, o status da Siemens brasileira é outro no grupo. O melhor sinal disso veio em 2008, quando a subsidiária ingressou no seleto grupo de países com autonomia na estrutura da companhia, ao lado de Alemanha,  Estados Unidos,  Canadá e Japão. Os resultados obtidos pela subsidiária comandada por Primo explicam a ascensão. Em 2010, a receita da Siemens Brasil cresceu 32% – para R$ 4,3 bilhões. 

 

Foi a maior alta registrada pela grupo nos chamados Brics – Brasil, Rússia, Índia e China. O número de fábricas passou de cinco, em 2007, para 13, no ano passado. Além disso, é por aqui que a empresa está construindo o seu maior e mais moderno centro de pesquisa e desenvolvimento na América Latina,localizado na Ilha do Fundão,  no Rio de Janeiro.  Para completar, o CEO mundial da Siemens, Peter Lescher, veio pessoalmente  anunciar, há dois meses, que pretende investir US$ 600 milhões no Brasil até 2016. “O País deu uma guinada importante e que coincidiu com mudanças profundas na companhia”, afirma Primo, que contabiliza nada menos de R$ 4,9 bilhões de encomendas em carteira, volume superior às vendas do ano passado. “Voltaremos ao R$ 6 bilhões de faturamento em 2012.”

 

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Novos e velhos negócios: a Siemens entrou em outros mercados, como o de energia eólica, sem abandonar as tradicionais turbinas

 

O número de fábricas passou de cinco, em 2007, para 13, no ano passado. Além disso, é por aqui que a empresa está construindo o seu maior e mais moderno centro de pesquisa e desenvolvimento na América Latina localizado na Ilha do Fundão,  no Rio de Janeiro.  Para completar, o CEO mundial da Siemens, Peter Lescher, veio pessoalmente anunciar, há dois meses, que pretende investir US$ 600 milhões no Brasil até 2016. “O País deu uma guinada importante que coincidiu com mudanças profundas na companhia”, afirma Primo, que contabiliza nada menos que R$ 4,9 bilhões de encomendas em carteira, volume superior às vendas do ano passado. “Voltaremos aos R$ 6 bilhões de faturamento em 2012.” 

 

A receita global da Siemens para permanecer e crescer no mercado é desenvolver hoje soluções tecnológicas para as demandas de amanhã. O mundo vai precisar de meios de transporte mais eficientes e sustentáveis. Também vai exigir equipamentos médicos mais sofisticados porque a expectativa de vida aumentou. Com base nessas tendências, a companhia decide onde e como investir os recursos de pesquisa e desenvolvimento. “Hoje somos líderes em parque eólico offshore no mundo”, afirma Primo. “Este era um negócio que nem sequer existia há uma década no Brasil”. A empresa não revela o valor de cada área para seu faturamento total, mas Primo diz que 50% da energia gerada no Brasil  é produzida por equipamentos com a marca Siemens. “A proporção é igual com equipamentos de diagnósticos médicos”, diz Primo, que teve a indesejada oportunidade de testar um deles.

 

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Seis anos atrás, a caminho de um compromisso, Primo sentiu-se mal.  Tentou protelar a ida ao médico, mas não houve jeito e ele foi parar nas mãos do renomado cirurgião Adib Jatene. A tomografia de urgência do presidente da Siemens foi realizada num tomógrafo da Siemens. “Acho bom isto funcionar direito”, disse Primo ao médico. A situação era grave e Primo passou por uma delicada cirurgia de revascularização. Depois do susto, retomou as atividades físicas, que logo foram deixadas de lado. Hoje, confessa que não se cuida como deveria. “Preciso perder uns 12 quilos e a falta de atividade é uma coisa que fica martelando na minha cabeça dia e noite”, diz. Não é para menos. Pai de dois filhos adultos, há quatros anos teve um terceiro, de seu segundo casamento. “Preciso acompanhar o crescimento do Rafael e convencê-lo a torcer pelo Flamengo como eu”, afirma.

 

Primo não faz o gênero paizão dos 10,8 mil funcionários da Siemens, mas faz questão de acompanhar de perto o desenvolvimento de boa parte da turma. São aqueles que o executivo classifica como talentos. Para esse grupo, cerca de 20% dos funcionários, Primo diz que chama para si a responsabilidade de acompanhar o desenvolvimento e o crescimento profissional desse pessoal considerado promissor na Siemens. “Esse trabalho é atribuição do presidente”, afirma o executivo. Para ele, o apagão de mão de obra qualificada que o Brasil já sofre só vai se intensificar nos próximos anos. “Não posso correr o risco de perder as melhores cabeças para o mercado”, diz.