Poucos negócios carregam tanto uma imagem de sisudez quanto a análise de crédito de empresas e de consumidores. Para milhões de brasileiros, o nome Serasa é sinônimo de preocupação. Mas a empresa, uma subsidiária da irlandesa Experian que detém o maior cadastro nacional de maus pagadores, tem buscado se afastar dessa imagem e desenvolver novos serviços de inteligência para os seus clientes. Um passo essencial para isso foi dado com a abertura de um laboratório de pesquisas de dados, com investimentos de R$ 25 milhões, para o desenvolvimento de novos serviços relacionados ao uso das informações, o chamado Big Data. A Experian possuía laboratórios parecidos apenas em Londres e San Diego, na Califórnia. “A empresa quer se manter tradicional em seus valores, mas rápida em acompanhar as tendências”, diz o presidente da Serasa Experian, José Luiz Rossi. Por trás dessa estratégia, há uma tendência de mercado que tira o sono da companhia. Os grandes bancos estão buscando formas de economizar os mais de R$ 2 bilhões que gastam anualmente com os serviços do Serasa e da rival Boavista Serviços. Em janeiro, as cinco maiores instituições bancárias brasileiras – Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e Caixa – anunciaram que vão criar uma nova organização, a Gestora de Inteligência de Crédito, para consolidar as informações de todos os seus clientes. Então, para permanecer relevante, a Serasa Experian precisa dar um passo à frente na utilização dos dados dos quais dispõe. “Somos originalmente um birô de crédito, criado pelos bancos, para passar informações sobre decisões de financiamento. Mas, como os nossos dados são muito ricos, podemos ajudar o mercado a tomar melhores decisões de marketing e estratégia”, diz Rossi. Dessa forma, a companhia planeja vender inovações para os bancos e empresas de outros segmentos. A meta é evitar a queda da receita no Brasil – que representa cerca de US$ 600 milhões dos US$ 4,6 bilhões do faturamento global.

A dificuldade é fazer os clientes apostarem em novidades durante a crise. “Vemos pouca vontade de investir em inovação e projetos mais elaborados no momento”, diz Rossi. Mas existem empresas mais ousadas. A Serasa não revela os clientes dos projetos de seu laboratório, mas eles já existem. Uma seguradora está bancando o desenvolvimento de um sistema que avisa os motoristas sobre a ocorrência de acidentes e imprevistos no caminho que fazem diariamente. Outra empresa busca um sistema de prevenção de fraudes que evita os chamados “falsos positivos”, como o constrangimento de bloquear o cartão de crédito de um consumidor que faz uma compra em uma cidade para a qual não tinha viajado antes. Já uma companhia com 55 milhões de clientes deseja ter um sistema para captar a voz e saber o que os clientes falam sobre ela em vídeos nas redes sociais. “Miramos nas tecnologias que podem ser aplicadas em três anos”, afirma Marcelo Pimenta, o responsável pelo Datalab.