O futebol está cada vez mais rápido. O avanço na preparação física dos atletas, aliado às tentativas de furar retrancas duríssimas, contribui para uma busca incessante pela velocidade. Não por acaso, grandes jogos do passado, como os da inesquecível Seleção Brasileira de 1970, parecem ter sido disputados em câmera lenta. Assim como no mundo da bola, no mercado de telecomunicações ser veloz é uma questão estratégica atualmente. Desde o surgimento das primeiras redes digitais de celular, no final da década de 1990, a capacidade de transmitir mais dados em menos tempo aumentou constantemente. 

 

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Graças a essa evolução, os celulares, de simples aparelhos móveis para falar com alguém, se transformaram em verdadeiros computadores, capazes de acessar e-mail, enviar fotos e baixar vídeos em qualquer lugar. O problema é que a demanda dos consumidores está mais acelerada do que a capacidade de entrega das redes. Além disso, o Brasil sediará os dois eventos esportivos mais importantes do mundo: a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016, o que vai exigir redes com alta capacidade de transmissão de dados. É por esse motivo que o governo brasileiro tenta acelerar a implantação da quarta geração da telefonia móvel, ou simplesmente 4G. Essa tecnologia promete uma velocidade dez vezes superior à da geração anterior, a 3G, e mudanças radicais no mercado. 

 

O pontapé inicial para implantar essa tecnologia no País foi dado na semana passada, quando a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) realizou o leilão das faixas de frequências de 2,5 GHz e 450 MHz, necessárias para oferecer o 4G. As operadoras que atuam no Brasil desembolsaram R$ 2,93 bilhões para arrematar os principais lotes disponíveis, que acabaram nas mãos das quatro maiores empresas do setor, Claro, Oi, Tim e Vivo. Segundo as regras da licitação, as seis cidades-sedes da Copa das Confederações, competição que antecede o mundial – programada para junho de 2013 –, deverão estar com as redes 4G em funcionamento até abril do ano que vem. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, até aceitou flexibilizar as datas, mas desde que isso não interfira na estratégia do governo. 

 

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Fiamma, da Claro: empresa pagou R$ 845 milhões por um dos principais lotes do leilão.

 

Ou seja, não haverá tempo de pré-temporada para as operadoras. Se por um lado o governo marcou um gol ao impor um calendário apertado, por outro teve que se contentar com uma arrecadação menor do que esperava. Dos 269 lotes colocados à disposição, apenas 54 tiveram interessados. O valor pago foi menor do que o preço mínimo de todos os lotes, que somavam R$ 3,85 bilhões. Ninguém se interessou pelas faixas de 450 MHz, voltadas para a oferta de telefonia em áreas rurais. Por conta disso, quem arrematou os outros lotes deverá, como contrapartida, prestar esse tipo de serviço. “Estamos num momento da economia em que é melhor apostar em infraestrutura do que arrecadar”, afirmou o presidente da Anatel, João Rezende. 

 

O prazo reduzido para colocar o serviço no mercado deve fazer as empresas abrir mais a carteira. “Não se trata de uma mera atualização de infraestrutura”, afirma Renato Pasquini, analista da consultoria Frost & Sullivan. De acordo com estimativas da Anatel, até o final do cronograma de implantação, em 2019, a tecnologia 4G deve consumir investimentos de R$ 4 bilhões por ano. Isso sem contar o dinheiro que já foi aplicado em infraestrutura. “Já fizemos grandes investimentos que vão servir de pavimentação para o 4G”, diz Fiamma Zarife, diretora de serviços de valor agregado da Claro. A empresa, controlada pelo bilionário mexicano Carlos Slim (ver reportagem aqui), que afirmou recentemente ser essa tecnologia a sua grande prioridade no Brasil, pagou R$ 844,5 milhões por um lote de 20 MHz no leilão da Anatel. 

 

Há, no entanto, um obstáculo para o 4G. Os serviços em funcionamento hoje nos Estados Unidos e na Ásia utilizam frequências diferentes das leiloadas no Brasil. Isso significa que os aparelhos vendidos lá não funcionarão aqui. Para Fiamma, da Claro, os fabricantes terão dificuldades de lançar produtos especificamente para o País até abril de 2013. A Nokia, por sua vez, afirma que vender celulares 4G por aqui está nos planos. “Mas isso vai depender do ritmo de implantação das redes 4G”, disse a companhia. Em outras palavras, corre-se o risco de os times entrarem em campo, mas não poderem jogar por falta de bola. 

 

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O futuro que vem do Japão


Tatiana BAUTZER, de Yokohama

 

As redes de alta velocidade que serão instaladas no Brasil, baseadas na tecnologia LTE (Long Term Evolution), já funcionam no Japão há muitos anos. E, se o exemplo japonês for seguido à risca, os brasileiros estarão bem servidos. A capacidade do serviço disponível é impressionante. A altíssima velocidade permite realizar proezas até agora inéditas para os dispositivos móveis comercializados no País. Numa sala do edifício da operadora de telefonia móvel NTT Docomo, em Yokohama, por exemplo, um grupo de engenheiros mostra o que é possível fazer com um tablet nesse tipo de rede. É possível baixar vídeos, acessar sites ou utilizar aplicativos quase que instantaneamente. Além disso, o LTE permite maior interatividade e integração entre diferentes equipamentos.

 

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Velocidade oriental: serviço de 4G no Japão permite baixar vídeos num piscar de olhos.

 

Um tablet e um smartphone funcionam como uma tevê de alta definição, sem falhas ou congelamento de imagem. A operadora japonesa quer ir além e já está testando o primeiro serviço do mundo de videoconferência por celular. Um aplicativo lançado no início deste mês pela NTT Docomo, por sua vez, traduz automaticamente mensagens de texto, e-mails e posts em rede sociais, do japonês para inglês, chinês ou coreano. Também é possível desenhar estratégias comerciais personalizadas para os usuários de celulares, como um cupom de desconto para quem estiver passando em frente a uma loja ou anúncios dirigidos ao torcedor que espera o início de uma partida de futebol dentro de um estádio. Esses são alguns exemplos do que já é possível fazer no Japão, onde a capacidade da rede faz com que o uso dos serviços de dados cresça a uma velocidade exponencial. 

 

Não é por acaso que, já no ano passado, a receita da NTT Docomo com dados foi superior à dos serviços de voz, representando 55% do total, ou US$ 22,4 bilhões. A tendência é mundial e deve ser replicada nas operadoras brasileiras conforme as redes sejam aperfeiçoadas. Um dos principais fornecedores de equipamentos para a operadora japonesa, a fabricante NEC, acompanhou com atenção o leilão de frequências 4G no Brasil na semana passada, pois a disputa pelos bilhões de reais que precisam ser investidos pelas operadoras brasileiras já começou. “A competição está muito acirrada”, afirma Masahiro Ikeno, diretor da NEC para as Américas, Europa, Oriente Médio e África.