11/04/2012 - 21:00
Já na década de 1990, a Camargo Corrêa iniciou um processo de diversificação, passando a atuar em áreas tão diversas, como construção pesada, cimento, calçados, concessão de serviços públicos e siderurgia, entre outras. Até grandes marcas, como as sandálias Havaianas, produzidas pela Alpargatas, fazem parte de seu portfólio. Com faturamento de R$ 20 bilhões e sob o comando de Victor Hallack, um mineiro de poucas palavras e avesso a entrevistas, que preside o conselho de administração desde 2006, o grupo agora quer reforçar ainda mais sua participação na área de cimentos. Em 30 de março, a InterCement, holding para a área, fez uma oferta avaliada em € 2,5 bilhões, para comprar a totalidade das ações da cimenteira portuguesa Cimpor, da qual já detém 33%.
Na mesa de negociações: Victor Hallack, presidente da Camargo Corrêa,
tenta acertar os ponteiros com a Votorantim.
A Cimpor é um peso pesado global. Possui oito mil funcionários, 26 fábricas e atuação em 12 países, tendo lucrado cerca de € 200 milhões em 2010, segundo os últimos números disponíveis. Mas é no Brasil, onde atua através das marcas Bonfim, Zebu, Goiás e Cimbagé, que estão seus ativos mais preciosos. São oito fábricas, cuja produção lhe garante a quarta posição no mercado cimenteiro nacional. No total, 34% do faturamento bruto do grupo tem sua origem no Brasil. Isso representa mais do que o dobro da operação portuguesa. Caso o negócio se concretize, a InterCement vai ultrapassar a pernambucana Cimento Nassau e se tornar vice-líder do segmento, atrás apenas da Votorantim, que também é sua sócia na Cimpor, com 21% de participação. “O mercado europeu está cinzento e pouco atrativo no momento”, diz uma fonte ligada à Camargo Corrêa, familiarizada com as negociações.
“Já os ativos que a Cimpor possui aqui no Brasil são extremamente interessantes.” Nos últimos cinco anos, o consumo de cimento no País passou de 40 milhões para 65 milhões de toneladas. Os sócios portugueses da Cimpor já sinalizaram que devem aceitar a proposta da Camargo Corrêa. A Votorantim é quem precisa, agora, se posicionar. Oficialmente, a empresa da família Ermírio de Moraes afirma que irá “analisar a proposta e avaliar todas as alternativas que se apresentam”. Nos bastidores, uma das propostas em discussão prevê que a Votorantim Cimentos assuma as operações internacionais da Cimpor. São dez no total, incluindo um braço africano, que conta com unidades em países como África do Sul, Moçambique, Egito, Tunísia e Marrocos, além de fábricas nos mercados chinês e indiano.
A transação, se concluída, terá de passar pelo crivo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que controla a concorrência no Brasil e acompanha o desenrolar das negociações. Quando a Camargo Corrêa e a Votorantim compraram fatias da Cimpor em 2010, no bojo de uma acirrada disputa com a CSN do empresário Benjamin Steinbruch, o negócio foi aprovado com restrições pelo órgão. A proposta de compra da Cimpor pela Camargo Corrêa é mais um lance do avanço das empresas brasileiras sobre as companhias europeias, que ganhou fôlego com a crise. “Os preços estão atrativos na Europa”, diz Reynaldo Passanezi, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet).
“Há muitas empresas em dificuldade, que estão vendendo ativos para diminuir seu nível de alavancagem.” A tendência é particularmente forte em países como Portugal e Espanha. Os negócios brasileiros mais recentes na Península Ibérica incluem a compra da unidade de metalurgia do grupo espanhol Alfonso Gallardo, pela CSN, e a aquisição, pela Embraer, da portuguesa Airholding, especializada em manutenção de aeronaves. “As empresas estão aproveitando para comprar na baixa e colocar o pé em um mercado estratégico”, afirma Alexandre Pierantoni, especialista em fusões e aquisições da consultoria PwC. “Cedo ou tarde, a Europa vai se recuperar, e o importante é aproveitar o período de baixa para consolidar as compras, alterar a gestão e sanear as dívidas das empresas adquiridas.”