22/08/2012 - 21:00
As comemorações pelos dez anos de vida da Cifal Industrial, de São Paulo, ainda estavam em curso, quando os sócios da empresa, especializada em parafusos para a cadeia de óleo e gás, receberam um e-mail inesperado. O remetente era um certo Kurt Allen, presidente da desconhecida Lamons, sediada no Estado americano de Michigan, que perguntava se havia interesse por parte do trio em falar sobre negócios. Começou, assim, uma conversa que se estendeu por 11 meses, e terminou no mês passado com um acordo de venda da Cifal para a Lamons, que pertence à holding Trimas Corporation, empresa de médio porte para os padrões americanos.
Kurt Allen, da Lamons: entrada no mercado brasileiro para se tornar fornecedor
da Petrobras e Braskem.
Mais do que parafusos, a Cifal, que faturou R$ 20 milhões em 2011, tinha um ativo muito mais atraente para a Lamons, que também atua na área de peças industriais: entre os seus clientes estão a Odebrecht, a Braskem e a Petrobras. “O Brasil está investindo muito em óleo e gás, um mercado no qual temos forte atuação”, diz Allen, que deve anunciar, em breve, outra aquisição na área de óleo e gás. O valor da transação não foi divulgado. A Lamons integra um novo ciclo envolvendo empresas estrangeiras que estão chegando ao País para integrar cadeias de negócios como fornecedores de grandes grupos. Os números dos investimentos diretos no primeiro semestre deste ano já revelam essa dinâmica.
Segundo dados do Banco Central, os aportes de capital estrangeiro na faixa de US$ 20 milhões a US$ 50 milhões estão crescendo, em comparação com o mesmo semestre do ano passado. Já os acima de US$ 1 bilhão, que representavam 27,3% do total de investimentos externos em 2011, estão perdendo espaço – eles somaram apenas 9,2%, no primeiro semestre deste ano. Para Luciano de Almeida, presidente da Investe São Paulo, agência de fomento do governo paulista, não há dúvida de que o Brasil começa a viver uma segunda onda de investimentos. “A primeira foi com as grandes empresas, e agora começam a chegar as pequenas e médias”, afirma. Um bom exemplo do movimento gerado pelos parceiros de menor porte que seguem seus clientes é o da Hyundai Heavy Industries.
A empresa coreana, que se associou no ano passado à brasileira BMC para fabricar máquinas destinadas ao setor de construção civil, começa a atrair o interesse de seus fornecedores. “Recebemos 48 fabricantes coreanos que vieram avaliar a instalação de unidades no Brasil”, diz Felipe Cavalieri, presidente da BMC. Junto com a Hyundai, a BMC está construindo uma fábrica em Itatiaia, no Rio de Janeiro. Num momento em que a economia mundial está paralisada, fincar bandeira no Brasil torna-se estratégico. De acordo com David Wathen, presidente da Trimas Corporation, que faturou US$ 1 bilhão em 2011, foi fácil tomar a decisão de investir no País. “Estamos sempre buscando mercados que nos garantam rápido crescimento”, diz Wathen.
“O Brasil é um deles.” E, mesmo com a péssima posição brasileira no ranking Doing Business, do Banco Mundial – 126º lugar, entre 183 nações –, Wathen considera o País “amigável aos negócios”. Uma pesquisa do professor José Roberto Cunha, doutor em administração pela Universidade de São Paulo (USP), que será publicada em setembro, corrobora essa percepção. Cunha entrevistou 81 empresários de diversos países que nunca atuaram no mercado local para identificar os pontos mais atraentes do Brasil. O ritmo de crescimento da economia e o tamanho do mercado doméstico encabeçam a lista (veja quadro abaixo). Já a infraestrutura e a falta de mão de obra qualificada foram apontados como pontos críticos. Questionado sobre as dificuldades brasileiras, Wathen, da Trimas, avalia que os pontos favoráveis superam o lado negativo. “Nenhum país é perfeito”, diz.