19/09/2014 - 20:00
A 40 minutos de barco de Manaus, a capital amazonense, encontra-se uma comunidade ribeirinha chamada São João do Tupé. Com um pouco mais de 200 famílias, a aldeia – habitada em sua maioria por descendentes de índios apurinãs – é na verdade uma ilhota no meio do segundo maior rio em volume de água do mundo: o Rio Negro. Ao embarcar na orla da comunidade, o horizonte remete a paisagens do Caribe. De longe, é possível avistar ilhas com praias de areia branca, num calor equatorial, rodeadas por águas eternamente azuladas. O rio Negro é tão grandioso que pode ser facilmente confundido com o mar.
Pois foi para esse paraíso que a coreana Samsung enviou 30 funcionários entre os dias 15 e 22 de agosto. Embora estivessem em férias, eles não estavam lá exatamente a turismo. Estavam a trabalho. Ao chegar a São José do Tupé, os coreanos se depararam com uma realidade diferente da qual estavam acostumados na moderna Seul, onde está localizado o QG da empresa, um colosso que fatura US$ 327 bilhões por ano no mundo inteiro. “Vivemos da pesca, da agricultura, da caça e do extrativismo vegetal”, diz Glória Araújo, líder comunitária da região.
A visita ao coração da Floresta Amazônica faz parte de um programa conhecido na Samsung por EVP, sigla em inglês para Programa Voluntário de Funcionários, que, todo ano, envia funcionários da empresa para prestar serviço social em locais isolados do interior de diferentes países. Grupos similares de empregados já estiveram em Camarões, na Zâmbia e no Senegal. Neste ano, os coreanos enfrentaram 30 horas de voo para desbravar a floresta e o Rio Negro. Durante uma semana, os funcionários da Samsung passaram cerca de dez horas diárias na comunidade ribeirinha, ensinando inglês, coreano e informática para os brasileiros.
O grupo também reformou um galpão na região central da ilha, que servirá como centro de eventos para a comunidade. Além disso, a Samsung equipou a sala de informática da escola municipal de São João do Tupé com 20 notebooks e instalou ar-condicionado nas classes. No final do dia, eles retornavam ao hotel Tropical, em Manaus. Após dançar por quase dez minutos com o pajé Kisibu Sumu, curandeiro da tribo dos Dessana na oca de São João do Tupé e com um grupo de índias , o executivo Pedro Kim, CEO da Samsung na América Latina, falou com exclusividade à DINHEIRO.
“É muito importante para a Samsung conhecer realidades diferentes”, diz Kim. “O Amazonas, em especial, é um Estado estratégico para a empresa por causa da nossa fábrica na Zona Franca.” Há mais de 20 anos, a companhia mantém uma série de funcionários da matriz residindo e estudando em países com culturas distintas. Esses empregados são chamados especialistas regionais. Sua função é identificar padrões de consumo e pensar em como inovar nos mercados locais. Em seguida, eles transmitem tudo isso para a matriz, que define estratégias customizadas para cada micromercado.
O especialista regional Suk Hee Yim também participou da comitiva, chefiada por Helvio Kanamura, gerente de Cidadania Corporativa da Samsung. Yim, que foi designado pela matriz para viver em São Paulo por dois anos, foi responsável por introduzir às crianças da comunidade uma rede social chamada Facebook. “Estou aqui para entender o que pensam os brasileiros e, por que não, ensinar-lhes alguma coisa”, diz. Um reflexo do trabalho de Yim e dos outros especialistas regionais da Samsung no Brasil foi a implementação da função futebol nos televisores da marca. Criada no ano passado, a tecnologia permite realçar a cor do gramado, aumentar o grito da torcida, pausar e assistir a lances em câmera lenta.
“Criamos um produto customizado para o mercado brasileiro”, diz Yim. Tamanho foi o êxito da invenção, segundo a Samsung, que será exportada para a América Latina e para a Europa até o final do ano. O contato dos asiáticos com os brasileiros de São João do Tupé deixou boas impressões para os dois lados. O menino indígena Pedro de Santos, 6 anos, diz já estar com saudades dos amigos de olhos puxados. “Aprendi a jogar peteca com o pé”, diz. Pedro, na verdade, refere-se a um esporte bastante popular na Coreia do Sul chamado “Je Ki Chan Ki”, semelhante à peteca brasileira, no qual é válido trocar as mãos pelos pés.
Quem ensinou Pedro a brincar assim foi Yim, o especialista regional da Samsung. Para dizer adeus da maneira mais calorosa possível, seis coreanos se vestiram da cabeça aos pés com cores bem extravagantes – rosa, amarela, vermelha e azul – mesmo num calor de quase 40 graus. Com esse figurino, eles dançaram animadamente, na cerimônia de encerramento do programa, a música Gangnam Style, hit da internet interpretado pelo artista sul-coreano Psy e que já foi visualizado mais de 2 bilhões de vezes na rede social YouTube. “A ação trouxe alegria e conhecimento à comunidade”, diz Glória, a líder comunitária da região.