28/03/2013 - 21:00
No quilômetro 18,5 da rodovia Raposo Tavares, em São Paulo, sede da holandesa AkzoNobel, as reuniões dos executivos são pautadas pelas oportunidades que o Brasil oferece. Nesses encontros, não há perda de tempo com lamentações em torno do pibinho, que já ficou no passado. A ordem é pisar no acelerador e crescer no País, o quarto maior mercado para a companhia em todo o mundo. Fruto dessa confiança, uma nova fábrica de especialidades químicas em Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul, foi inaugurada no início de março, com investimento de R$ 242 milhões. E outros dois projetos serão concluídos neste ano: uma planta de insumos para celulose e um laboratório de pesquisa de polímeros e materiais de fontes renováveis.
Crescimento sustentado: o consumo de máquinas sinaliza a retomada da indústria. Na foto,
a linha de produção de caminhões da MAN, em Resende, no Rio de Janeiro
“A nossa expectativa é continuar crescendo”, diz Jaap de Jong, presidente da AkzoNobel no Brasil, dona da marca de tintas Coral. “O mercado de construção civil será um importante direcionador do nosso crescimento.” Jong não está sozinho nesse ambiente otimista. Uma pesquisa divulgada na quarta-feira 27 pela Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) mostra que 74% dos empresários do setor pretendem investir neste ano. “Esperamos crescer 4,5% em 2013”, diz Walter Cover, que preside a entidade. Nos últimos dias, saiu uma fornada de indicadores econômicos positivos que corroboram as previsões de crescimento anualizado do PIB entre 4% e 5,2%, no primeiro trimestre (o Banco Central trabalha com projeção de 3,1% para 2013).
Os desembolsos do BNDES aumentaram 39%, o licenciamento de veículos subiu quase 6%, o consumo de máquinas teve expansão de 8,1% e as vendas de papelão ondulado, um importante termômetro da economia, quebraram o recorde em fevereiro (veja quadro ao final da reportagem). Uma sondagem feita pelo Banco Itaú com seus clientes corporativos conseguiu captar um aumento da confiança dos empresários na economia. O indicador está no nível mais alto em 20 meses. Outra pesquisa da FGV/Duke University também constatou o bom humor de executivos de finanças, que projetam crescimento de 10% nos lucros das companhias no Brasil, neste ano. Há ainda dados alvissareiros brotando do campo.
Confiança no Brasil: Jaap de Jong, da AkzoNobel, busca oportunidades
para crescer ainda mais no País
A colheita da safra de grãos, estimada em 183,5 milhões de toneladas, será um recorde histórico. “Essa é uma das principais notícias positivas, pois gera impacto direto e indireto nas indústrias de cana-de-açúcar, de máquinas agrícolas e de caminhões”, diz Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores. “Até mesmo o arroz e o feijão, que sofreram em 2012, terão um crescimento de dois dígitos neste ano.” Nas contas da LCA, o PIB do agronegócio crescerá 6,5% neste ano, após registrar queda de 2,3% no ano passado. O consumo das famílias, impulsionado pelo trinômio renda, emprego e crédito, também vai continuar tendo um papel de destaque na economia.
A inadimplência das pessoas físicas voltou a cair em fevereiro, para 7,7%, excluindo-se o crédito imobiliário e rural, que tradicionalmente tem um índice reduzido de calotes. Trata-se do menor patamar desde dezembro de 2011. “É o resultado do esforço de saneamento das finanças das famílias”, diz Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi). “Daqui para a frente, o consumo tende a ser mais responsável e duradouro.” Se o Banco Central conseguir calibrar a política de juros de tal forma que a inflação fique sob controle, sem estrangular a oferta de crédito, estarão dadas as condições necessárias para a roda da economia não parar em 2013.