Nos últimos três anos, uma palavra tem se tornado uma obsessão na maior empresa de produtos químicos do mundo, a alemã Basf: sustentabilidade. A companhia, cujo faturamento em 2013 alcançou a soma de quase € 80 bilhões, o equivalente a R$ 256 bilhões, está empenhada em mudar a imagem da indústria química, considerada uma das maiores agressoras do meio ambiente.Para isso, ela está promovendo uma renovação completa de seu portfólio de 50 mil produtos. Até 2020, todas as soluções químicas feitas pela companhia deverão se adaptar a critérios de sustentabilidade.

Esse esforço para realizar uma verdadeira revolução verde começou em 2011 com um programa chamado Sustainable Solution Steering, solução sustentável de governança, em tradução livre. Sua essência é olhar para dentro da casa e averiguar o que pode ser feito para melhorar o desempenho dos produtos oferecidos pela multinacional, não apenas no campo das vendas, mas no respeito à natureza. Em janeiro do próximo ano, a Basf vai concluir um levantamento que classifica todos os seus produtos segundo sua contribuição para o meio ambiente.

Esse mapeamento será a base para adaptá-los aos critérios de sustentabilidade estabelecidos pela diretoria da gigante química. “Foi um processo árduo, que mobilizou a companhia globalmente por três anos”, diz Ralph Schweens, presidente da Basf na América do Sul, que falou com exclusividade à DINHEIRO. “Até agora, já temos mais de 80% do portfólio mapeado.” Dos dados disponíveis, a empresa identificou que 22% das suas soluções são consideradas como “aceleradoras” – ou seja, além de cumprirem a lei, representam ganhos extras para o que a Basf definiu como sustentabilidade.

Outros 77,5% representam aqueles avaliados como neutros. O restante – 0,5% – é chamado de “desafiadores”, e representam significativa preocupação da companhia em relação ao meio ambiente. Um exemplo disso é a substância polifluorada, utilizada, por exemplo, nas embalagens de papelão dos cereais matinais. Ela impede que o invólucro seja reciclado. Esse esforço da Basf de classificar suas soluções em categorias mais sustentáveis, além de melhorar sua imagem, abriu as portas para uma série de inovações. Uma delas é a linha de tintas Sempre Nova, da Suvinil, única divisão de negócios da Basf que atua no varejo, lançada em abril.

A tinta, por utilizar água como solvente, não deixa que a sujeira “grude” em seu exterior. “A parede se lava sozinha, com a própria chuva”, diz Schweens. Do campo da construção vem outro exemplo. A Basf desenvolveu um isolante de poliestireno, mais conhecido como isopor, que substitui o tijolo convencional – com a vantagem de isolar térmica e acusticamente a moradia, além de diminuir em até 40% o tempo da obra. Há, ainda, o polímero superabsorvente, material utilizado para aumentar a capacidade de absorção de fraldas para bebês e idosos. O material aguenta sugar até 100 vezes o seu próprio peso.

São iniciativas como essas que permitiram à Basf reduzir 50 milhões de toneladas de emissão de CO2 em 2013, além de aumentar as vendas. Nos últimos dois anos, seu lucro líquido cresceu 16% no mundo, alcançando o montante de € 1,14 bilhão. Ao mesmo tempo, a empresa não tem poupado esforços para investir em inovação. No ano passado, foram destinados € 1,8 bilhão para pesquisa e desenvolvimento. O especialista em sustentabilidade e presidente da consultoria ambiental Ecosynth, Eduardo Conchon, no entanto, adverte. “É muito difícil classificar o que faz bem para a natureza e o que não faz.”

Segundo Conchon, a rigor, nenhum produto químico faz bem ao meio ambiente pela simples razão de não ser natural. “Não se sabe que tipo de resíduos e subprodutos eles vão deixar, mesmo que tenham sido feitos respeitando critérios de sustentabilidade”, diz. Por outro lado, é inegável que soluções mais competitivas e com mais inteligência criam processos mais simpáticos ao meio ambiente. “A Basf é uma das maiores produtoras de catalisadores para automóveis do mundo”, diz Schweens, presidente da empresa. “Estaríamos poluindo muito mais se não fosse por eles.”

—–

A engenharia da Basf também é verde

Prestes a completar 150 anos, a companhia foca em produtos inovadores à base de plásticos biodegradáveis

Por Paula Bezerra, de Ludwigshafen, Alemanha

O centro de design e engenharia da Basf, cuja sede se localiza em Ludwigshafen, na Alemanha, tem investido fortemente no chamado “Ecodesign”. Os engenheiros da companhia têm se esforçado para desenvolver uma nova fórmula de polímero que permita a rápida decomposição de produtos à base de plástico, como copos, sacolas, roupas e cápsulas de café. Lançada em meados de 2007, a criação tem se espalhado pela Europa. Kurt Bock, presidente global do conselho de executivos da Basf, disse à DINHEIRO que a companhia busca novas regiões para produzir e aprimorar o material. O Brasil está na mira. “É um processo muito interessante, porque não estudamos apenas como fabricar o produto, mas também como facilitar seu descarte, de modo que ele se decomponha sozinho”, diz Bock.

Em uma de suas recentes inovações, a companhia aplicou a nova substância nas cápsulas de cafés usadas em máquinas comuns, como as da Nespresso. Em parceria com a Swiss Coffee Company, o produto cumpre os requisitos de manter o aroma da bebida e suporta a alta pressão das cafeteiras, com a vantagem de ser facilmente decomposto. Segundo Martin Brudermiller, vice-presidente do conselho de executivos, apesar de o custo da produção ser maior, quando comparado com o dos plásticos comuns, investir em recursos biodegradáveis gera ganhos para a empresa. “É um mercado grande e com muitas possibilidades de desenvolvimento”, diz Brudermiller. “Por mais caro que seja, é sustentável e no futuro trará soluções melhores para todos.”