Em janeiro de 2010, a Apple apresentou ao mundo um equipamento que prometia revolucionar a computação. Com apenas alguns centímetros de espessura, tela sensível ao toque e a habilidade de estar sempre pronto para o uso, como um celular, o iPad logo conquistou a simpatia dos consumidores. Não demorou muito para que outros fabricantes lançassem produtos na mesma linha, inaugurando o segmento dos tablets, atualmente a galinha dos ovos de ouro para as empresas de tecnologia. Somente no ano passado, quase 90 milhões de tábuas digitais foram comercializadas no planeta. Neste ano, a previsão é de que o segmento ultrapasse a marca de 120 milhões de unidades vendidas, segundo a consultoria Gartner. Uma grande empresa do setor, no entanto, acabou ficando de fora da festa.  

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Novo mercado: a prioridade da Intel, de Fernando Martins, é fazer os ultrabooks decolar.

 

Maior fabricante de chips do mundo, a Intel não tinha nenhum produto específico para o segmento e viu competidores como Qualcomm e Nvídia sair na frente na disputa por esse mercado, levantando dúvidas sobre a capacidade da fabricante de acompanhar as tendências tecnológicas. Mas o que poderia parecer uma pisada na bola da companhia era, na verdade, uma estratégia de mercado. Em vez de correr atrás da concorrência e entrar na onda dos tablets, a companhia apresentou uma alternativa ao setor que reúne o desempenho e a ergonomia dos computadores tradicionais com as facilidades dos tablets. Esse novo produto atende pelo nome de ultrabook, foi lançado em junho de 2011, mas só agora começa a se mostrar um rival à altura. À primeira vista, o ultrabook pode parecer apenas uma nova categoria de notebooks. 

 

Mas, para poderem utilizar essa denominação, que é uma marca registrada da Intel, os equipamentos precisam reunir algumas características importantes. A espessura máxima é de dois centímetros. Sua bateria deve durar cerca de dez horas e a tela não pode ter menos do que 13 polegadas. O mais importante, no entanto, é que, para ser um ultrabook, o computador precisa estar pronto para o uso em até dois segundos. Ou seja, nada de esperar o sistema carregar. É, basicamente, o mesmo tipo de experiência de uso oferecida pelos telefones celulares e tablets. “É como se o computador estivesse sempre ligado”, afirma Fernando Martins, presidente da Intel no Brasil. “Mesmo fechado, ele continua baixando dados da internet, para que estejam imediatamente disponíveis quando for preciso.” 

 

O que possibilita esse tipo de desempenho é a evolução dos processadores. Em abril, a Intel lançou no mercado os chips Ivy Brigde, de 22 nanômetros. Apesar de menores que seus antecessores de 32 nanômetros, os novos processadores conseguem ser 37% mais velozes e gastar 66% menos bateria. Com isso, é possível desenvolver notebooks cada vez mais finos, mais leves e mais potentes. A Intel trata os ultrabooks como seu maior projeto da década. Fazer decolar essa categoria de produtos tem sido a prioridade da companhia. “É o nosso trabalho número 1”, diz Martins. E a empresa não tem medido esforços para isso. Até um fundo de US$ 300 milhões foi criado para financiar iniciativas de desenvolvedores de hardware e software voltados para o segmento. 

 

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Contra-ataque: a AMD, do CEO Rory Read, lançou uma linha

de processadores para fazer frente aos ultrabooks da rival Intel.

 

O resultado dessa campanha pode ser comprovado na semana passada, quando foram anunciados nada menos do que 20 modelos de ultrabooks que devem ser lançados no Brasil até o final do ano por diversos fabricantes. Globalmente, a expectativa é de que mais de 100 modelos estejam disponíveis aos consumidores em 2012. Segundo dados da consultoria Juniper Research, nos próximos cinco anos 178 milhões de unidades do equipamento serão comercializadas. No mesmo período, 253 milhões de tablets devem ser vendidos. “O mercado de ultrabooks vai ganhar escala e o preço tende a cair”, afirma Erick Cano, gerente da área de notebooks da HP, líder no setor de computadores. Quase a totalidade dos fabricantes de computadores do mundo já aderiu à plataforma da Intel. No entanto, a maioria não aposta na substituição dos tablets pelos ultrabooks. Para a coreana Samsung, por exemplo, os dois equipamentos são complementares. 

 

“O tablet é um consumidor de conteúdo da internet”, afirma Tony Firjan, diretor da unidade de TI da fabricante coreana. “Com o ultrabook, é possível consumir e produzir conteúdo. Cada equipamento tem seu momento de uso.” Há também quem acredite que haja espaço para todas as linhas de produtos. “Com o tempo, teremos uma ideia mais clara do tamanho de cada um”, afirma Sergio Bruno, diretor de vendas e marketing da taiwanesa Acer no Brasil. Mas, de acordo com a avaliação da Positivo, maior fabricante de computadores do Brasil, a Intel não deve ficar sozinha no mercado de notebooks fininhos. Adriana Flores, diretora de desenvolvimento de produtos da companhia, afirma que outras plataformas parecidas devem surgir no mercado por conta da própria influência dos ultrabooks. “O ultrabook deve servir de modelo para vários tipos desses equipamentos.” 

 

A AMD, maior concorrente da Intel no mercado de processadores, já apresentou uma categoria de chips com características similares às do Ivy Bridge. Chamada de Trinity, o novo produto da empresa tem desempenho parecido, embora não conte com a mesma tecnologia de 22 nanômetros dos chips da Intel. É por essa razão que a companhia desenvolveu uma tecnologia que tira proveito dos recursos de vídeo disponíveis, deixando o processador mais livre para outras tarefas, como navegar na internet e ler e-mails. Por outro lado, apesar de ter criado seu próprio baile, a Intel ainda pretende comparecer à festa dos tablets. Para isso, espera o lançamento do Windows 8, a nova versão do sistema operacional da Microsoft, que deve vir com funcionalidades exclusivas para as tábuas digitais e é amplamente aguardado pelo mercado corporativo. Resta saber quem vai estragar a festa de quem. 

 

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