Foi um trimestre de altos e baixos para as empresas brasileiras de proteína animal. A forte demanda externa, especialmente da China, não pôde ser atendida pelos produtores dos Estados Unidos, que enfrentaram um período adverso, e os frigoríficos do Brasil puderam elevar a oferta. Por aqui, o número de abates cresceu 11,2% na comparação com o terceiro trimestre de 2021. E mesmo com o impacto negativo do setor nos EUA sobre os resultados das multinacionais brasileiras Marfrig e JBS que controlam empresas por lá, a carne mande in Brazil atingiu o ponto ideal — quando não no lucro, ao menos em termos de receita líquida.

A Minerva Foods é o melhor exemplo. Ela registrou Ebtida (lucro antes de impostos, juros, depreciações e amortizações) de R$ 806,2 milhões no trimestre, alta de 24,4% na comparação anual. A receita líquida somou R$ 8,4 bilhões, alta de 14,5% sobre o terceiro trimestre de 2021. E quando se compara os últimos 12 meses encerrados em setembro de 2022 com o mesmo período anterior, a receita cresceu 25,8%, totalizando R$ 31,6 bilhões. Com esses resultados, a Minerva reduziu seu endividamento para o menor nível desde 2008. Segundo o especialista da Valor Investimento Gabriel Meira, o bom resultado já permite projetar crescimento também no quarto trimestre. “A alta do dólar ainda deixa tudo melhor para as empresas exportadoras”, disse. “Devemos ter um ano muito positivo para os frigoríficos”. O aumento dos custos de produção, sobretudo da ração animal, segundo Meira, foi equilibrado por uma onda de otimização de processos, com as empresas ficando mais enxutas e eficientes.

Marco Ankosqui

“No último trimestre as operações foram mais eficientes e resilientes às oscilações do mercado” Marcos Molina fundador e presidente do conselho da Marfrig.

Para analistas do setor, o único fator que pode atrapalhar é uma eventual queda nos preços internacionais. Isso porque dados de exportação da semana passada mostraram uma redução de 6% no valor pago pela carne bovina no mercado externo, que fechou em US$ 5,4 o quilo, menor nível desde janeiro. “Embora ainda seja cedo, é importante acompanhar de perto a evolução dos preços nas próximas semanas. Ainda assim, mantemos nossa visão otimista sobre a Minerva”, informou o Itaú em seu relatório.

Outra gigante brasileira do setor, a Marfrig reportou queda tanto no lucro quanto na geração de caixa no período. Mas nem isso impediu o aumento 54,1% na receita líquida consolidada, que chegou a R$ 36,4 bilhões. Pesou para a queda no lucro o momento de dificuldades da economia dos Estados Unidos, onde a inflação atingiu a maior taxa em 40 anos. A alta dos preços fez o consumo de carne cair e afetou diretamente o resultado da National Beef, empresa controlada pela Marfrig. Em conferência para investidores, o fundador e presidente do Conselho de Administração da empresa, Marcos Molina, minimizou esse impacto, afirmando que “no último trimestre as operações foram mais eficientes e resilientes às oscilações do mercado”. Segundo ele, isso “demonstra a importância da nossa estratégia de diversificação geográfica e de portfólio de produtos”.

A proteína bovina, foco das operações da Marfrig na América do Sul e na América do Norte, contribuiu com 61% da receita líquida total da companhia. A empresa também foi impactada negativamente pelo resultado da BRF, da qual detém 33% de participação, e que ficou aquém do esperado. Derivados de aves e suínos, mercados nos quais a BRF está entre as líderes globais, representaram 39% das vendas da Marfrig. Ainda assim, analistas avaliam como positiva a escolha de Miguel Gularte, ex-CEO da Marfrig, para o comando da BRF. A expectativa é que em pouco tempo ele consiga reverter a queda no lucro da empresa que controla as marcas Sadia e Perdigão.

DIVIDENDOS O fim das vacas gordas nos Estados Unidos também afetou os resultados da líder global JBS, que viu seu lucro líquido cair 47,1% no terceiro trimestre de 2022, para R$ 4,013 bilhões, ante igual período do ano passado. Isso, no entanto, não prejudicou a receita líquida da empresa, que subiu 6,8% e chegou a quase R$ 100 bilhões, um recorde de faturamento trimestral. A margem Ebitda ajustada ficou em 9,6%. Diante disso, a JBS anunciou o pagamento de R$ 2,2 bilhões em dividendos intercalares, o que representa R$ 1 por ação ainda em novembro de 2022. Para o chefe de análise da Levante, Enrico Cozzolino, no geral, as perspectivas para o segmento continuam favoráveis. “O setor continua com ganho de escala. E, no caso da JBS, a consolidação vem ocorrendo não só no País, mas globalmente, o que torna tudo ainda mais atrativo para o investidor”.