02/09/2016 - 17:00
O segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, interrompido na quarta-feira 31 pela aprovação do impeachment no Senado, não será apagado tão cedo da memória de empresários e executivos brasileiros. E com toda razão. Seria possível contar com a mão os setores que passaram incólumes à recessão em que o País mergulhou nos últimos dois anos. Não chegou a ser uma surpresa, portanto, o sentimento de alívio que tomou conta de grande parte do setor produtivo após a oficialização de Michel Temer como presidente da República.
“O otimismo voltou. Agora é hora de virar a página, deixar as diferenças para trás, arregaçar as mangas e, de braços dados, reconstruir o Brasil”, escreveu Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Reconstruir o Brasil não é apenas força de expressão. Sob a ótica empresarial, o ambiente de negócios no País está arrasado. Em dois anos, mais de 100 mil lojas fecharam as portas no comércio e 10 mil fábricas tiveram o mesmo fim. Desde 2014, o PIB recuou 8%, o mesmo índice de queda do consumo das famílias.
“Mas a equipe econômica de Temer será capaz de devolver ao mercado a confiança, além de proporcionar à população brasileira a esperança de sairmos desta situação a que fomos levados por decisões errôneas e por uma corrupção de níveis inimagináveis”, afirmou o empresário Marcos Arbaitman, dono da Maringá Turismo, agência de viagens com faturamento de R$ 1 bilhão neste ano. “Um novo Brasil, com imagem positiva em todo mundo, vai permitir novos empregos, mais exportação, trabalho sério e a restauração do respeito internacional.”
Uma série de medidas de estímulo aos investimentos é aguardada para as próximas semanas. Entre elas está a definição das diretrizes da “modernização” das leis trabalhistas, da reforma da Previdência e, sobretudo, os novos passos do ajuste fiscal. “A expectativa é que a economia melhore, mas eu não colocaria a mão no fogo”, diz Antonia Nacht, sócia da Mills, fornecedora de equipamentos para a construção civil, que faturou R$ 580 milhões, em 2015. O consenso entre os empresários é de que as reformas são urgentes.
Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, a definição do impeachment é o início da retomada do crescimento. “Com o cenário político mais claro, é hora de alcançar consensos para decidir, com firmeza e determinação, o que precisa ser feito para deixarmos a crise no passado e retomarmos o crescimento econômico”, diz o presidente da CNI. A definição dos rumos políticos do Brasil ajudará na definição de políticas de longo prazo para o setor produtivo, segundo Marcos Jank, diretor global de assuntos corporativos da BRF.
“A reorganização do Itamaraty, do Ministério da Agricultura, da Camex e da Apex, por exemplo, pode ajudar a abrir novos mercados, desburocratizar as exportações, retomar a agenda de negociações internacionais e adicionar maior valor nas exportações”, afirmou Jank. “Por isso, é simbólico e importante o presidente Temer iniciar o seu mandato viajando para a reunião do G-20 na China.” Na avaliação do presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, a saída de Dilma retira o Brasil e a economia de uma situação de espera. O executivo, por meio de nota, afirmou que o início das reformas poderá destravar operações no mercado de capitais.
“A partir da definição do novo governo, e na expectativa do ajuste fiscal e das reformas estruturais, o Brasil passa a ter o seu caminho definido de forma mais clara e efetiva”, afirmou o executivo. Para Pinto, os próximos dois anos devem ser marcados por um “choque de capitalismo”. A volta da estabilidade econômica anima também os empresários que fornecem produtos e serviços ao governo. É o caso de Richard Marelli, presidente da Helibras, fabricante brasileira de helicópteros, subsidiária da Airbus. “Há dois anos, temos nos adaptado às situações econômicas no País, com cortes. Já estamos em negociações e, em breve, teremos possíveis contratos com nosso maior mercado no Brasil, o governamental”, afirma o executivo. “O foco, agora, é a recuperação econômica e, é claro, a confiança tanto interna como externa. Estamos no início de um caminho melhor, de voos mais altos.”
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