Uma das principais habilidades de um mágico é desviar a atenção da plateia, a fim de realizar seus truques sem ser notado. Ele pede, por exemplo, que o espectador não tire os olhos de sua mão e, de repente, uma moeda surge de sua orelha. Nesse sentido, o empresário curitibano Carlos Wizard Martins – cujo sobrenome é “mago”, em inglês – provou ser um ilusionista de primeira. Nos últimos meses, o ex-professor de idiomas manteve os olhos do mercado fixos nos IPO do Grupo Multi, esperado para o próximo ano. Mas o que surgiu no palco, como mágica, foi o maior negócio já fechado no setor de ensino no País: a venda de sua companhia para a britânica Pearson, por R$ 1,95 bilhão. 

 

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Mais um passo: com a venda do Grupo Multi para a Pearson,

Carlos Wizard já ensaia um novo projeto 

 

“Quando comecei a dar aulas, nunca imaginei que eu participaria da maior transação do setor de ensino no País”, disse Martins em entrevista à DINHEIRO. É verdade que, nos últimos meses, surgiram rumores de que o Multi estava à venda. Martins, no entanto, negou até o último instante qualquer intenção de se desfazer do negócio que criou em 1987, a partir das aulas de inglês que dava a amigos. Classificada por ele como “bastante atrativa”, a transação renderá R$ 1,3 bilhão ao empresário. O restante do dinheiro irá para a Kinea, gestora de fundos do Itaú Unibanco, que detinha 22% do Multi, e para o pagamento de dívidas. 

 

Seria dinheiro mais do que suficiente para se aposentar, hipótese descartada para Martins. O bilionário vai tirar um ano sabático nos Estados Unidos, mas já marcou data para voltar aos negócios: 2015. “O setor de educação é muito atraente no Brasil, não apenas na área de idiomas, mas também no ensino superior”, afirmou o empresário, sinalizando seus próximos passos profissionais. “Sempre somos procurados para investir em universidades, não como Grupo Multi, mas como família mesmo.” Como será esse retorno é o que todos querem saber agora. A opção mais óbvia seria criar uma nova rede de escola de idiomas, a exemplo da Wizard, uma das principais redes do Multi. 

 

O problema é que o acordo com a Pearson contém uma cláusula temporária de não concorrência. Traduzindo: Martins deve ficar longe desse mercado por um tempo não revelado pelas partes. Mesmo que volte rapidamente às suas origens, o empresário encontrará um cenário mais desafiador. A Copa do Mundo de 2014, as Olimpíadas de 2016 e a ascensão da classe C aqueceram a demanda por cursos de inglês e estimularam as aquisições, o que deixa Martins sem muitas opções. “Quase não há grandes redes independentes”, diz Christian Ambros, diretor da Fundação Fisk, dona das marcas Fisk e PBF. “A maioria foi comprada ou já tem um fundo como sócio.” 

 

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Juan Romero, da Pearson: compra do Grupo Multi marca

a aposta em um mercado bilionário

 

Martins não nega o interesse por projetos em outra área: o ensino superior. “O mercado universitário é muito forte”, diz. E os números mostram que ele está em ebulição. Segundo a CM Consultoria, especializada no setor, entre 2007 e agosto deste ano houve 127 fusões e aquisições de instituições privadas no País, entre faculdades, universidades, sistemas de ensino e redes de idiomas. Nem todas divulgaram os valores do negócio, mas as cifras conhecidas somam mais de R$ 10 bilhões, sem contar o acordo entre a Pearson e o Multi. Quando voltar de seu descanso, porém, Martins deverá enfrentar um cenário bem desafiador. 

 

No segmento universitário, os negócios ganham cada vez mais escala. “Os consolidadores não podem mais fazer compras pequenas”, diz Carlos Monteiro, presidente da CM. “As próximas rodadas serão de grandes comprando grandes.” Dos 127 acordos contabilizados pela consultoria desde 2007, apenas 20 foram fechados por valores acima de R$ 100 milhões, sendo oito assinados nos últimos dois anos. Outra opção seria o ensino profissionalizante, no qual Martins atuava por meio da SOS Computadores e da Microlins, marcas do Multi. Trata-se de um mercado enorme e sem muitas barreiras para entrar. 

 

“Há mais de 20 milhões de brasileiros que precisam se profissionalizar”, diz Monteiro, da CM Consultoria, referindo-se aos jovens que estão chegando à idade de procurar um emprego. Qualquer que seja seu novo empreendimento, Martins não descarta a possibilidade de ser algo grande. “Quando realizamos um sonho, percebemos que temos outros ainda maiores para buscar”, diz ele, autor de best-sellers de autoajuda como Sonhos Não Têm Limites e Desperte o Milionário que Há em Você. Mas o que pode ser maior do que o maior negócio do ensino já fechado no País? Talvez, ele responda em 2015.

 

 

“Vendi para perpetuar o negócio que fundei”

 

Em entrevista à DINHEIRO, Carlos Wizard Martins explica por que vendeu o bilionário grupo que fundou, a partir das aulas de inglês que dava em casa

 

Esperava-se o IPO do Grupo Multi em 2014. Em vez disso, o sr. decidiu vendê-lo. Por quê?

Por três fatores. O primeiro, o meu compromisso de perpetuar o negócio que fundei. A educação está em uma fase de profunda transformação, com a adoção de plataformas tecnológicas em sala de aula. Não tínhamos nem o domínio dessas tecnologias nem o capital necessário para nos desenvolvermos. Foi quando ocorreu a aproximação com a Pearson. O segundo fator é que eu sempre digo que o sucesso acontece quando o preparo encontra a oportunidade. Começamos a nos preparar para o IPO, mas o mercado mudou. Havia dúvidas sobre como estaria o mercado em 2014. Foi quando recebemos essa proposta bastante atrativa e percebemos que era melhor vender o controle.

 

E o terceiro fator?

O terceiro é o seguinte: qualquer banco poderia assinar um cheque e nos comprar, mas isso não perpetuaria o nosso legado, que é transformar o Brasil em uma grande nação bilíngue. Não gostaria de abrir mão disso.

 

O sr. não enxerga uma bolha no mercado de idiomas? Após a Copa e a Olimpíada, a demanda não vai arrefecer?

Os eventos serão mais sentidos em turismo, transporte e alimentação. Mas, nos demais setores, temos as demandas geradas por uma economia cada vez mais aberta. As empresas que negociam com parceiros internacionais precisam de gente que fala inglês. Além disso, temos 40 milhões de brasileiros com mais dinheiro no bolso e que farão ou já fizeram sua primeira viagem ao Exterior. Ao chegar lá e perceberem que não falam inglês, voltarão ou já voltaram com muita vontade de aprender.

 

(Leia a entrevista completa aqui)