13/02/2015 - 17:00
Quando a multinacional inglesa Bridon chegou à cidade de Macaé, no Rio de Janeiro, em setembro de 2012, esperava se antecipar aos concorrentes e abraçar as oportunidades que se abririam com a exploração do petróleo do pré-sal. Na época, a Petrobras planejava investir US$ 236,5 bilhões entre 2012 e 2016 e, portanto, faria a festa de empresas especializadas como a Bridon, uma fabricante de cabos de aço e fibra de alta resistência, utilizados na exploração do petróleo em águas profundas. Mas a investigação da Operação Lava Jato da Polícia Federal e a forte queda nos preços do petróleo nos últimos meses atrasaram os investimentos da estatal e deixaram a multinacional inglesa a ver navios.
A saída foi buscar novos clientes na construção civil. “Não estava contando com redução dos investimentos, mas com aumento de produção”, afirma Jeferson Leite, diretor da Bridon na América do Sul. Esse é apenas um exemplo de como a crise na Petrobras gerou um efeito dominó nos fornecedores da cadeia de óleo e gás. No dia 29 de janeiro, uma semana antes de deixar o cargo, a ex-presidente da Petrobras, Graça Foster, disse que reduziria em 30% os investimentos previstos para este ano, para US$ 30 bilhões. O novo presidente, Aldemir Bendine, que deixou o Banco do Brasil para assumir o comando da petroleira na semana passada, procurou tranquilizar os investidores e parceiros, mas não negou o adiamento de alguns projetos.
“A Petrobras não vai parar, ela não vai entrar em marcha à ré”, disse Bendine na terça-feira 10. “Mas ela vai ter de trabalhar dentro da realidade do caixa e daquilo que possa realizar.” A estatal representa cerca de 10% dos investimentos feitos no País e seu efeito multiplicador no crescimento da economia é grande. A Tendências Consultoria estima que a redução de 30% nos investimentos da companhia vai retirar 0,4 ponto percentual do PIB neste ano. Preocupado com o escândalo na estatal, o executivo Rodrigo Sigaud, presidente da Planave, que faz projetos de engenharia, está desanimado. “As obras para o transporte e distribuição de petróleo estão semiparalisadas ou terminando, e não se vislumbra uma nova demanda para fazer frente aos recursos que já foram investidos”, diz Sigaud.
Sediada no Rio de Janeiro, a empresa já teve de demitir parte dos funcionários em 2014 e não descarta novos cortes neste ano. Na terça-feira 9, a crise da Petrobras virou novamente manchete por causa da invasão da ponte Rio-Niterói por cerca de 200 operários das obras do Complexo Petroquímico do Rio (Comperj). Com pagamentos atrasados da estatal, os administradores da obra não estão honrando o salário dos funcionários desde dezembro. No dia seguinte, outra má notícia foi uma explosão no navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, próximo ao município de Aracruz, no Espírito Santo.
O acidente deixou três mortos, dez feridos e seis desaparecidos. Fora da indústria de óleo e gás também há estragos causados pela Operação Lava Jato. A construtora OAS, que tem R$ 1,4 bilhão de dívidas vencendo no curto prazo e apenas R$ 700 milhões em caixa, segundo o jornal Folha de S. Paulo, procura um comprador e corre o risco de entrar em recuperação judicial. A OAS é uma das 23 companhias investigadas e que estão, desde dezembro, proibidas pela Justiça de celebrar novos contratos com a Petrobras. Apesar das expectativas frustradas e das dificuldades da estatal, os números do pré-sal seguem atrativos aos investidores.
O Brasil tem hoje o equivalente a 16 bilhões de barris em suas reservas, com produção diária de 2,49 milhões de barris. A Petrobras produz 2,46 milhões de barris por dia, com a previsão de atingir 4,2 milhões em 2020, apenas em território nacional. Um estudo do BNDES previa que, entre 2014 e 2017, os investimentos no setor cresceriam 53% sobre o quadriênio anterior, para R$ 488 bilhões. Isso em dezembro, antes do agravamento da crise. Agora, o cenário é incerto. “A cadeia de óleo e gás deveria aumentar de 12% para 20% no futuro, mas agora isso será revisto”, diz Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
OPORTUNIDADES Com o foco no longo prazo e evitando tomar decisões precipitadas, diversas multinacionais não paralisaram seus investimentos. “O Brasil precisa do petróleo e devemos começar a colher frutos da nossa presença aqui em 2016”, diz Leite, da Bridon. Em busca de empresas com visão estratégica, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e a Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip) realizam neste ano sete missões de negócios na América do Norte, na Europa e na Ásia para interessadas na cadeia de petróleo e gás.
“Os grupos estrangeiros ganhariam um parceiro já estabelecido e com conhecimento no mercado brasileiro e a empresa nacional seria beneficiada pela transferência de novas tecnologias”, diz Maria Luisa Wittenberg, gerente-executiva da Apex. A General Eletric foi uma das incentivadas pela Apex a fazer novos investimentos no Brasil. Até 2020, vai aplicar US$ 1,5 bilhão no centro de pesquisa, inaugurado no ano passado, no Rio de Janeiro. A queda do petróleo não mudou os planos. “Sabemos que preços vão subir e descer e que investir em parcerias e produtos fortes em momentos como este vai nos deixar em uma posição de destaque quando o mercado melhorar”, diz Kenneth Herd, líder do Centro de Pesquisas Global da GE no Brasil.
Na avaliação de especialistas, a crise na Petrobras pode levar o governo a acabar com a participação obrigatória da estatal nos blocos do pré-sal e a reduzir a exigência de conteúdo local, com impacto em toda a cadeia. “Muitas empresas podem quebrar e outras, inclusive a Petrobras, vão precisar ser refundadas”, afrima Pires. Já o ex-diretor da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), David Zylbersztajn, acredita que a Petrobras precisa de autonomia para gerir os negócios como se fosse privada. “O pré-sal parou porque a Petrobras está sendo obrigada a participar de licitações nas quais não tem condições.” Bendine garante que tem cacife: “A presidente Dilma Rousseff me deu autonomia para agir”.