O Ceará rejeitou uma indústria naval. E veto da prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, à instalação do Estaleiro Promar na orla dacapital cearense, além de provocar indignação no setor industrial do Ceará, causou surpresa ao resto do País. “Uma perda irreparável”, decretou o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará, Roberto Macedo. De fato, não é todo dia que se vê uma cidade brasileira negar um investimento de US$ 150 milhões, que criaria dez mil postos de trabalho – que, aliás, foram parar em Pernambuco. Mas Luizianne tinha um argumento econômico. “A indústria naval não serve para Fortaleza. Atrapalharia o turismo”, justificou a prefeita.

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                                                                     Luiziane Lins: “Seria o mesmo que fazer uma indústria naval em Ipanema”

Sétimo destino turístico do Brasil, Fortaleza tem 70 mil trabalhadores ligados diretamente ao setor, que movimentou R$ 2,1 bilhões só no primeiro quadrimestre. A principal área para expansão é a praia de Titanzinho, de potencial turístico e imobiliário estimado em R$ 10 bilhões. O problema é que Titanzinho, que fica entre os dois principais pontos turísticos de Fortaleza – as praias de Beira-Mar e do Futuro –, também foi eleita pelo governo do Ceará como a única opção viável para a instalação do Estaleiro Promar. “Seria como construir um estaleiro entre Ipanema e Copacabana”, diz. 

A prefeita pode até ter seus motivos, mas a questão se tornou um nó para o Estado. Semanas antes da data-limite de instalação do estaleiro, as autoridades ambientais cearenses não tinham sequer recebido pedidos de licenciamento ou estudos de impacto.Os planos do Complexo Industrial do Pecém, a 60 quilômetros da capital, que ancora o desenvolvimento industrial do Estado, incluíam a construção de uma siderúrgica e de uma refinaria de petróleo. A siderúrgica ficou no papel por causa da crise financeira mundial, mas o ancelamento da refinaria entra na conta do Estado, que não conseguiu convencer a Petrobras sobre a viabilidade do empreendimento. “Falta visão de futuro”, critica o professor José Sales, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFCE. “A Prefeitura de Fortaleza é gestora do feijão com arroz. Não promove captação de investimentos”, completa. Seja desperdício de uma oportunidade, seja uma vitória ambiental, os cearenses terão uma segunda chance para instalar um estaleiro no Estado. Na reunião com o presidente Lula, Luizianne conseguiu a promessa de que o próximo empreendimento do gênero será dirigido ao Ceará. A Transpetro já abriu uma licitação para receber propostas de estudo das potencialidades do Estado. Resta aos cearenses torcer para que seus representantes se entendam desta vez.