Uma das salas de controle de toda a estrutura de telecomunicações da Olimpíada, montada pela Embratel no centro da cidade do Rio de Janeiro, é cercada de protocolos de segurança e de observadores. Não apenas câmeras filmam a entrada e a saída de pessoas. As Forças Armadas ficam de prontidão para qualquer movimentação suspeita. Ali, três painéis mostram tudo o que acontece pela cidade – com redundância em outros locais. Num deles, há o monitoramento sobre o entorno dos Jogos, como tráfego e violência. Enquanto a DINHEIRO fazia uma visita supervisionada, algumas ruas estavam congestionadas e o símbolo de um revólver aparecia em vermelho perto de Copacabana. Era um alerta policial, identificado por uma das câmeras espalhadas pela capital fluminense, sobre alguma ocorrência em andamento. Nas outras duas telas, a informação estava ligada ao que ocorria com os esportes: além da exibição de todas as imagens que estavam sendo geradas e transmitidas para o mundo, apareciam relatórios sobre ocorrências de infraestrutura registradas, como falhas com o ar condicionado ou com tampas de TVs instaladas nas arenas do vôlei de praia, que derreteram com o sol.

Esse trabalho, invisível para a maioria das pessoas, esconde números superlativos. Para atender a demanda da Rio 2016, foi utilizada toda a infraestrutura instalada no País pelo Grupo América Móvil, formado pelas empresas Embratel, Claro e Net, que registrou receita de R$ 36,4 bilhões no ano passado. São mais de 181 mil quilômetros de cabos ópticos, 17 mil quilômetros de cabos submarinos, 17 mil Estações Rádio Base de telefonia móvel (antenas de celulares), oito satélites em órbita e cinco data centers. Nos últimos três anos, a estimativa é a de que o grupo tenha investido R$ 30 bilhões no Brasil, sendo que boa parte desses recursos foram aplicados diretamente na infraestrutura da Olimpíada para dar suporte a 100 arenas de competição e de não competição (como escritórios e locais de relacionamento) espalhadas pelo Rio de Janeiro. Para se ter uma ideia da grandiosidade, Tóquio, que será a sede dos Jogos em 2020, terá metade do tamanho do evento brasileiro, tanto em número de arenas como de infraestrutura tecnológica. “Foram anos de preparação para fornecer toda a infraestrutura e serviços de telecomunicações da Rio 2016”, diz José Formoso, CEO da Embratel. “Estamos escrevendo um importante capítulo de nossa trajetória. Nosso trabalho foi acompanhado de perto por cerca de cinco bilhões de pessoas.”

Nenhum outro grande evento mundial tem a complexidade e a grandiosidade de uma Olimpíada. Um dado preliminar da Olympic Broadcasting Services, o serviço oficial de transmissão de imagens, mostra por que a Rio 2016 está sendo considerada a maior de todas as olimpíadas, o maior evento mundial até o momento. Somente no primeiro domingo de competições, o streaming de vídeo da Olimpíada do Rio superou todo o acumulado em Londres. A expectativa é a de que a transmissão de dados tenha sido quatro vezes maior do que foi há quatro anos. O que explica esse salto exponencial é o uso de celulares pelas massas. Em 2012, apenas 30% dos usuários de telecomunicações tinham um telefone inteligente. Agora, quase 100%. “Uma Olimpíada equivale a 44 Copas do Mundo simultâneas, pela quantidade de eventos que acontecem ao mesmo tempo e atletas envolvidos nas competições”, diz Luciano Carino, diretor da Embratel para grandes eventos e a Rio 2016. “De quebra, ainda entregamos uma mini-Copa masculina e feminina em seis Estados, que ninguém percebeu”, diz o executivo, referindo-se aos torneios de futebol que aconteceram durante a Rio 2016.

Para não deixar escapar nenhum segundo das 1,3 mil provas realizadas nas 28 modalidades esportivas, os técnicos da Embratel enfrentaram desafios a todo instante. Na véspera do desfile dos cerca de oito mil atletas na abertura da Olimpíada, a empresa descobriu que precisaria reforçar o sinal de WiFi dentro do Maracanãzinho, o ginásio conjugado ao estádio do Maracanã onde estão sendo realizadas as partidas de vôlei. Isso porque todos os competidores e seus acompanhantes chegariam quatro horas antes e ficariam instalados ali. Se numa partida o acesso simultâneo à internet é de 20%, sem atividade na quadra era quase certeza que praticamente 100% das pessoas demandariam sinal de dados. Um reforço foi colocado e não houve incidentes para os atletas postarem fotos nas redes sociais. Nas arenas de vôlei de praia, que foram entregues para a empresa na sexta-feira anterior à festa de abertura, dezenas de profissionais tiveram de virar a noite para conseguir completar a instalação. O que parecia um trabalho definitivo foi sendo mudado ao longo dos dias. Até as semifinais da competição, o cabeamento teve de ser refeito cinco vezes. Como os fios ficam enterrados na areia, a maré leva todos embora. Na primeira vez que isso aconteceu, a empresa tomou um susto e não estava prevenida. A partir da segunda, técnicos já estavam de prontidão no local, de galochas, monitorando o estrago. “Nosso time sai fortalecido daOlimpíada e com uma experiência única no mercado de telecomunicações”, afirma Ney Acyr Rodrigues, diretor de operações do grupo América Móvil. “As instalações de telecomunicações têm porte e tecnologia compatíveis com a magnitude dos Jogos Olímpicos. A moderna rede com mais de 370 quilômetros de fibras ópticas, com redundância tripla para garantir alta disponibilidade durante os Jogos, tem distância equivalente a três mil Maracanãs em linha reta.”

A partir do dia 23 de setembro, quando a Paralímpiada encerrará o período de competições no Rio de Janeiro, a Embratel deixará o seu legado para a cidade. Por segurança, a Olimpíada exige novas galerias, para que os fios não cruzem com os dos clientes corporativos ou residenciais. Dessa maneira, a chance de um corte errado de fio numa manutenção fica próxima de zero. Em alguns locais, como a região do Maracanã e de Copacabana, há duplicidade e a nova rede vai complementar a existente. Mas em outros, como Deodoro, que era uma região militar com minas espalhadas para todo lado, e o Parque Olímpico, onde estava o autódromo de Jacarepaguá, não existia cabeamento. “Não tenho dúvidas de que o modelo adotado no Brasil possui uma qualidade superior à de outros Jogos Olímpicos, por exemplo”, diz Antônio Gianoto, professor de engenharia elétrica do Centro Universitário FEI, em São Paulo. “Contávamos com o legado da Copa do Mundo e, agora, passamos a ser um cartão postal do ponto de vista de operação do sistema de telecomunicações.”

A grande contradição dessa história é que o desejo da Embratel é não ser lembrada pela Olimpíada. O motivo é muito simples: seria muito difícil alguém elogiar o sucesso de toda a infraestrutura de telecomunicações. Em grandes eventos, empresas fornecedoras aparecem quando há falhas de execução. Por isso, o maior elogio será o silêncio de que todos os 10 serviços, como telefonia IP, broadcast, data center, cabeamento de redes, WiFi, entre outros, saíram conforme o esperado. “Criou-se um potencial muito grande para que o Rio de Janeiro seja uma cidade inteligente, com vários sistemas sendo interligados”, diz Rangel Arthur, professor de telecomunicações da Unicamp. “A cidade passou a ter uma capacidade gigantesca de sediar eventos de grande porte e simultâneos, o que poderá atrair investimentos de diferentes setores.” A vitória da empresa tem sido silenciosa, como mostram os relatórios dos ataques cibernéticos à página oficial da Rio 2016. Os hackers tentaram burlar os níveis de segurança milhares de vezes por dia. Num deles, o responsável disse que “foram identificadas 250 mil tentativas de invasão. Mas vencemos todos”.