26/01/2011 - 21:00
Iniciada na primeira metade dos anos 1970, ao tempo do chamado “milagre econômico brasileiro”, quando a Odebrecht não passava de uma empreiteira de ambições regionais, limitada aos horizontes da Bahia, a parceria entre as famílias Odebrecht e Gradin resistiu e até se solidificou na virada do século, quando o grupo baiano se viu vergastado por uma séria crise de liquidez que quase o levou à bancarrota.
Apontado como um dos cérebros da recuperação, diversificação e internacionalização do conglomerado formado por 12 empresas, que atuam em setores que vão da construção pesada, passam pela petroquímica e chegam à exploração de petróleo, Victor Gradin, 78 anos, não apenas se tornou o homem de confiança do nonagenário Norberto Odebrecht, fundador do grupo, como se transformou no segundo acionista individual da Odebrecht, com uma participação de 20,6% do seu capital.
Os atores: Marcelo Odebrecht (de óculos) quer comprar as ações da família
de Bernardo Gradin, que não quer sair da empresa. A briga foi parar na Justiça
No entanto, essa aliança bem-sucedida, que vinha sendo cimentada com o passar dos anos, se viu abalada com a chegada das novas gerações das duas famílias a posições de comando nos negócios. Justamente quando a Odebrecht vive seu melhor momento, com operações em mais de 20 países e um faturamento que supera os R$ 40 bilhões, os antigos aliados estão em pé de guerra, protagonizando uma novela que promete se estender por algum tempo.
Quem tomou a iniciativa de tornar público o conflito entre os dois clãs, que vinha sendo administrado com razoável discrição durante a maior parte do ano passado, foram os Gradin, incomodados com a decisão unilateral de Marcelo Odebrecht, presidente e neto do fundador do grupo, de exercer o direito de adquirir seu pacote de ações.
Amparada, à primeira vista, no acordo de acionistas da Odebrecht, essa iniciativa foi rechaçada pelos Gradin, capitaneados por Bernardo, filho de Victor, e que até novembro de 2010 ocupou a presidência da Braskem, a principal empresa da Odebrecht, justamente em decorrência dos desentendimentos com Marcelo. Pelo mesmo motivo, Miguel, irmão mais novo de Bernardo, deixou a presidência da Odebrecht Óleo e Gás, no mesmo mês.
O caminho escolhido pelos Gradin foi a via judicial. No dia 8 de dezembro, por intermédio de sua holding, a Graal Participações, deram entrada com um pedido de arbitragem do conflito na 10a Vara Cível de Salvador. Queriam discutir não apenas a questão da venda compulsória das ações como a avaliação feita pelo banco Credit Suisse First Boston, que estabeleceu em US$ l,5 bilhão o quinhão transferido por Victor a Bernardo, Miguel e à filha, Ana Maria.
A Odebrecht tentou barrar a tramitação do processo, mas não obteve êxito. Na segunda feira 17, a juíza Maria de Lourdes Oliveira Araújo indeferiu as pretensões da Odebrecht, negando-lhe a retomada das ações dos Gradin, ao mesmo tempo que determinou a realização de uma audiência no dia 23 de fevereiro para discutir a proposta de arbitragem apresentada pelos Gradin.
Por recomendação de seus advogados, as duas partes decidiram não se manifestar nos últimos dias. “Marcelo e seu pai, Emílio, querem evitar que a disputa envolva as empresas. Para eles, tudo deve ser tratado no âmbito dos acionistas”, diz uma fonte da Odebrecht, que preferiu não se identificar.
Embora nos bastidores os dois lados proclamem sua intenção de resolver as divergências pelo diálogo, é mais do que provável que a novela tenha ainda muitos desdobramentos. Afinal, está em jogo o destino de um dos maiores grupos empresariais de capital nacional, que em apenas uma década multiplicou 45 vezes seu valor de mercado, passando dos US$ 157 milhões, em 1999, para os US$ 7,4 bilhões avaliados em 2009.
Por um lado, os Odebrecht se sentem no direito de assumir o controle total do grupo fundado pelo pioneiro Norberto, ao mesmo tempo que incentiva seus executivos com pacotes generosos de ações. Os Gradin, por seu turno, asseguram que não têm a mínima intenção de deixar a Odebrecht, sobretudo num período de prosperidade.
Por seu retrospecto de serviços, eles acreditam que deveriam ter um tratamento diferenciado, pois não se consideram meros administradores que receberam ações a título de incentivo ou bonificação – eles chegam a dizer que Victor jamais recebeu um só papel como gratificação de Norberto, tendo adquirido seu lote aos poucos, até 1999, quando a Odebrecht decidiu fechar seu capital. Em outras palavras: os Gradin se negam a sair de cena, como quer Marcelo Odebrecht. “A ideia é permanecer como acionistas ativistas, influenciando nas decisões estratégicas”, disse à DINHEIRO uma fonte ligada aos Gradin.
Colaborou Eliane Sobral