A rotina do economista paulista Carlos Furlan, diretor-executivo da agência de crédito universitário Ideal Invest, mudou radicalmente nos últimos dois meses, desde que o Ministério da Educação ameaçou tornar mais rígida a concessão de créditos pelo Fies, o principal programa de financiamento estudantil do País. O Fies cresceu exponencialmente desde seu lançamento em 1999 e, entre 2012 e 2014, beneficiou dois milhões de estudantes, 700 mil por ano, em média. Agora, com uma nota de corte mais alta, os especialistas preveem uma queda de até 45% no número de novos contratos neste ano. Boa notícia para a Ideal Invest.

“Nossos pedidos por financiamento de cursos dobraram no período”, diz Furlan. A empresa elevou de R$ 1 bilhão para R$ 4 bilhões sua projeção de empréstimos a universitários para os próximos três anos. Criada em 2006, a Ideal Invest, que tem o Banco Mundial e o Itaú Unibanco como acionistas, já concedeu R$ 1 bilhão em empréstimos para 40 mil alunos e se prepara para ocupar o espaço no mercado aberto pelo governo. Prova disso é a parceria recente com a rede de ensino superior mineira Anima, que possui 81 mil alunos e terá R$ 1 bilhão financiado nos próximos anos.

Segundo Furlan, a Ideal mantém convênios com 200 instituições de ensino e busca novas parcerias. “As universidades têm nos procurado para não ficarem dependentes do crédito do governo”, diz Furlan. Ele ilustra o potencial do crédito universitário privado, comparando o Brasil com os Estados Unidos. Aqui, foram financiados cerca de R$ 30 bilhões em 2014, dos quais 95% com verbas federais. Nos Estados Unidos, os estudantes contraíram empréstimos de US$ 1,2 trilhão junto aos bancos, em 2014. Outros bancos também constataram mudanças na demanda por financiamento.

É o caso do Bradesco, que lançou uma linha para financiar cursos de graduação e pós-graduação para alunos de universidades conveniadas em 2012. “Neste início do ano, a demanda está acima da média”, diz Hynde Fonseca Neto, gerente de nichos de mercado do Bradesco, sem revelar números. Já o espanhol Santander, apesar de não possuir uma linha de financiamento direto para a graduação, tem grandes planos para o Brasil. “O banco estima que os investimentos globais na área de universidades somem R$ 2,1 bilhões entre 2015 e 2018, dos quais R$ 250 milhões serão direcionados às universidades brasileiras”, diz Jamil Han­nouche, diretor do Santander Universidades.