Conhecido pelos escândalos financeiros e pela especulação com os títulos de alto risco, os chamados “junk bonds”, que o levaram à prisão na década de 1990, o bilionário americano Michael Milken está fazendo dinheiro com um novo investimento: a educação. A rede de escolas virtuais K12, da qual Milken é um dos principais acionistas, já tem nada menos que 81 mil alunos nos Estados Unidos e está em 61 países, o Brasil entre eles. Aos 65 anos, Milken é o símbolo da ganância do mercado de ações nos anos 1980. Inspirador do especulador Gordon Grekko, o vilão do filme Wall Street,  do diretor Oliver Stone, estrelado pelo ator Michael Douglas, Milken arquitetou o uso de junk bonds para financiar grandes aquisições hostis, operações em que companhias pouco conhecidas se endividavam pesadamente para comprar ícones corporativos americanos, como a Revlon e a Nabisco, entre outras.

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Histórico de filantropia: Milken se redimiu dos escândalos da década de 80 financiando pesquisas médicas

Em seus tempos áureos, chegou a ser considerado o banqueiro mais poderoso desde J. P. Morgan. Diretor da área de alto rendimento  do banco de investimentos Drexel Burnham Lambert, foi o primeiro americano a receber uma remuneração de US$ 1 bilhão, um recorde para a época. As operações resultaram em sua prisão em 1990, por fraude e uso de informação privilegiada no mercado. Condenado a dez anos, acabou passando apenas dois na cadeia. Desde sua prisão, vem tentando se redimir dos trambiques com grandes investimentos filantrópicos, principalmente em pesquisas médicas e educação. Com a K12, no entanto, Milken foi além da tradicional doação às escolas. Ela é uma companhia aberta com ações em bolsa, que declaradamente visa lucro.

Obteve US$ 500 milhões em receita no ano passado cobrando cursos dos governos estaduais americanos. “Mike acredita que a educação é uma oportunidade de investimento fenomenal”, afirma Ronald Packard, cofundador e CEO da K12. Ex-executivo do Goldman, Sachs e  ex-consultor da McKinsey, Packard procurou Milken para investir em sua companhia quando ela ainda era uma “start up”, em 1999, próximo ao final da bolha da internet. Michael e seu irmão, Lowell Milken, aplicaram US$ 90 milhões na empresa e têm hoje uma participação de 20%, que vale cerca de US$ 260 milhões. Packard defende-se das críticas de que sua empresa lucra com o ensino público, alegando que o ensino virtual requer alto investimento em tecnologia. “É muito parecido com o de uma empresa de software, que depende de escala”, disse Packard à DINHEIRO.

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A empresa recebe US$ 10 mil por aluno, o que representa cerca de 60% do total que seria gasto pelo Estado na escola pública. Outra crítica frequente, também rebatida por Packard, é de uma qualidade de ensino baixa. As ambições da K12 agora são de expansão no exterior, onde o perfil dos alunos é diferente. Enquanto nos Estados Unidos os alunos são crianças de escolas públicas, geralmente de baixa renda, nos outros países o perfil é de alunos mais abonados. Por US$ 5 mil anuais, a criança tem uma educação certificada nos Estados Unidos. Milken é um dos maiores entusiastas da expansão internacional da K12 e costuma ligar para Packard de viagens à China, Índia ou Indonésia sugerindo oportunidades de crescimento. Até agora, as atividades internacionais são modestas: uma unidade física em Dubai e cinco mil alunos virtuais. Algumas famílias brasileiras já optaram pela escola de Milken. 

O engenheiro Roberto Mascarenhas, do Rio Grande do Sul, matriculou os filhos de 14 e 17 anos na K12 porque está constantemente mudando de país por motivos profissionais. De nacionalidade italiana, já trabalhou na França, Alemanha e Inglaterra e agora  está no Brasil. “Mudar sempre de língua, método e disciplinas trazia um grande peso para as crianças”, afirma. Packard não acredita que ter Milken como sócio seja algo ruim para o negócio da K12. “Sua condenação aconteceu há muito tempo”, disse. “Desde então, ele ficou mais conhecido por suas atividades filantrópicas e doações.” Ele também acredita que  as críticas não consideram que, no final das contas, a escola é uma questão de escolha. “Estamos dando apenas mais uma opção para os pais.” Você colocaria seu filho na K12?