Quando assumiu o comando da administradora de restaurantes IMC, em junho do ano passado, o executivo Jaime Szulc encontrou uma empresa que, claramente, havia “engordado” – no mau sentido da palavra, é bom salientar. “A dívida não nos permitia fazer nada”, diz Szulc. Com débitos de R$ 683 milhões, o equivalente a mais de quatro vezes o seu Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), a companhia estava engessada. Nos anos anteriores, a IMC havia adotado uma agressiva estratégia de aquisições, que começou em 2006 com a compra do Grupo La Mansión, do México, pelo fundo de investimento Advent International.

No ano seguinte, foram adquiridas as redes brasileiras Viena e Frango Assado e, mais tarde, uma série de restaurantes e cafés em aeroportos de diversos países, como os Estados Unidos, a República Dominicana e o Panamá. “Chega uma hora em que não é possível manter essa estratégia”, diz o executivo. “Quando assumi, deixei claro para os acionistas que ou a empresa abriria mão de algumas operações, ou não seria possível salvá-la.” Eles entenderam o recado. No ano passado, a IMC se desfez de parte de sua operação no México e de todas as suas lojas em Porto Rico e na República Dominicana. Dessa forma, foi possível reduzir o endividamento em R$ 345 milhões.

Ao mesmo tempo, os acionistas concordaram em realizar um aumento de capital, por meio da emissão de 82 milhões de ações, totalizando R$ 328 milhões. Com isso, e mais alguns esforços de redução de custos, a dívida se transformou em um caixa de R$ 25 milhões. “Eu não esperava, achei que teríamos muita dificuldade em vender os ativos dominicanos”, afirma Szulc, que é ex-presidente no Brasil da fabricante de pneus Goodyear e ex-diretor da marca de calças Levis. Superado o problema do endividamento, a IMC se volta, agora, para a operação. As mudanças não são poucas.

Lojas estão sendo fechadas, marcas serão descontinuadas e até o cardápio dos restaurantes deve passar por uma intensa reformulação. O foco estará concentrado nas marcas próprias, como Viena, Brunella e Frango Assado, e no território brasileiro. O Viena talvez seja o grande símbolo dessa transformação. A rede, fundada na década de 1970, ganhará um novo formato, inspirado nas famosas deli nova-iorquinas. O projeto está sendo comandado pelo chef Du Cabral, que esteve à frente da elaboração dos menus do Eataly e do bistrô Ville du Vin, da vinícola chilena Concha Y Toro.

“A ideia é criar um cardápio sofisticado, com bom custo-benefício”, diz Cabral. A primeira deli da rede será inaugurada no shopping Iguatemi, em São Paulo, ainda este ano. A rede Frango Assado, de restaurantes de beira de estrada, também ganhará um novo cardápio e suas lojas serão reformadas. A área de mercado será fortalecida para atender não só aos viajantes, mas aos moradores do entorno. Uma mudança importante que foi trazida por Szulc está na decisão de manter ou não um restaurante em funcionamento. Desde sua chegada, 28 lojas foram fechadas por darem prejuízo – a empresa possui 287 pontos de venda, 209 deles no Brasil.

Entre elas, um dos restaurantes da rede americana Red Lobster em São Paulo, localizado no bairro do Itaim. “Não estava dando retorno, então fechamos”, diz o executivo. Apesar de esses fechamentos representarem um impacto negativo na receita, os esforços de redução de custos devem gerar uma economia de R$ 27,9 milhões este ano. “A atual gestão está fazendo um diagnóstico correto do cenário”, diz Ary Zanetta, sócio da gestora de recursos Brasil Capital. “As medidas que tinham de ser tomadas já foram, agora os resultados devem aparecer.”

A IMC fechou o ano passado, no entanto, com uma queda de 4,5% na receita, que foi de R$ 1,6 bilhão. No segundo trimestre deste ano, o faturamento foi de R$ 371,9 milhões, queda de 7,2% em comparação ao mesmo período do ano passado. O cenário macroeconômico também não é favorável. Em junho deste ano, o fluxo de pessoas nos aeroportos, um dos grandes mercados da companhia, caiu 8,2%. Nos shoppings, o fluxo foi 13% menor e nos restaurantes de rua de São Paulo, a queda foi de 6,6%. Mesmo assim, a expectativa da direção e dos acionistas é positiva. Desde janeiro, o valor de suas ações na Bovespa subiu 40%, para R$ 5,80, no fechamento da quinta-feira 6.

É verdade que os papéis da companhia já chegaram a valer mais de R$ 20 entre 2011 e 2012, mas não deixa de ser um grande avanço. “A empresa tem potencial para dobrar de valor no horizonte de um ano” afirma Robinson Dantas, sócio da Iporanga Investimentos. Para Dantas, a IMC tem o que precisa para dar a volta por cima. “O negócio de alimentação está ligado a estilo de vida, que é o que atrai o cliente. Para fazê-lo voltar, é preciso consistência e boa experiência. A primeira parte é fácil de construir, a segunda só alguns poucos”, diz o investidor. Este é o desafio de Szulc.