29/08/2016 - 20:30
No início do mês, o Uber vendeu o controle da sua operação na China para a líder local do setor Didi Chuxing, por US$ 1 bilhão. O acordo foi o primeiro desvio de rota da empresa, acostumada a atropelar rivais e a reinar soberana por onde passa. No Brasil, o caminho da startup também começa a ficar congestionado. Principal aplicativo de táxi do País, a 99 lança na quarta-feira, 31, o 99POP, serviço concorrente que será ofertado, inicialmente, na cidade de São Paulo. A 99 não está sozinha nessa batalha, que ganhou fôlego em maio, quando a prefeitura paulistana regularizou os aplicativos de transporte em carros particulares.
Em julho, a Easy Taxi entrou no segmento. Um mês antes, a espanhola Cabify chegou ao País. “É inegável que o Uber mudou o mercado”, diz Pedro Somma, diretor de operações da 99. Ele observa que as corridas de táxi caíram 40% no Brasil no primeiro semestre, embora não associe a queda ao aplicativo rival, mas sim, à crise. Para contra-atacar, a 99 priorizou pontos que têm sido alvo de queixas dos motoristas do Uber. O serviço será lançado com mil veículos. Até o fim do ano, o plano é chegar a 3 mil. A frota estimada do rival no País é de 10 mil carros. “Não adianta inchar a base e ter poucas chamadas para cada motorista”, diz.
A taxa cobrada dos profissionais por corrida será de 16,99%, ante 25% do aplicativo americano. Essa diferença foi o que motivou Alex Centivilli, 39, a tentar uma vaga no 99POP. Sob o risco de ver a metalúrgica onde trabalha fechar as portas, ele decidiu buscar uma nova fonte de renda. “Tenho amigos no Uber e eles disseram que o serviço está muito concorrido”, afirma. Centivilli foi uma das 8 mil pessoas que participaram da seleção. Entre outros critérios, o processo envolveu a checagem de antecedentes e de multas, entrevistas, testes de direção e vistorias para avaliar as condições dos carros. Além do bom estado, a 99 exige que sejam modelos fabricados a partir de 2012.
Cuidados à parte, a 99 tem alguns desafios pela frente. O principal deles é não criar atritos com os 150 mil taxistas cadastrados em seu aplicativo, 30 mil deles em São Paulo., distribuídos entre táxis convencionais e táxis de luxo. É nessa base, porém, que a companhia acredita ter seu maior diferencial. Caso não haja um carro disponível para atender a uma chamada no 99POP, esses outros motoristas terão a opção de pegar a corrida. Para os passageiros, o preço será o mesmo do 99POP. Com essa aboragem, no entanto, a empresa também corre o risco de desagradar alguns usuários, que buscam esse tipo de serviço justamente porque querem fugir dos táxis convencionais.
Coordenador do núcleo de negócios digitais da ESPM, Pedro Waengertner vê a 99 como uma potencial ameaça ao Uber. “É uma marca consolidada, que já mostrou capacidade e tem uma boa base de motoristas e usuários”, afirma. A 99 contabiliza 7 milhões de downloads de seu aplicativo e uma média de 4 milhões de corridas mensais. Com os R$ 2 pagos pelos taxistas a cada transporte realizado, a receita anual já se aproxima dos R$ 100 milhões, embora o valor não seja confirmado pela empresa. Cerca de 12% desse faturamento vêm da carteira de 2,2 mil empresas, que inclui nomes como Natura , Ipiranga e BR Foods. O 99POP, porem, é a grande aposta. “Em pouco tempo, ele será o nosso carro-chefe”, diz Somma.