08/08/2014 - 20:00
Quem passa pelas imponentes torres do Pátio Malzoni, que abriga o BTG Pactual, o Google e uma filial do restaurante Fasano, na avenida Faria Lima, no centro financeiro de São Paulo, não imagina que naquele endereço, conhecido por ter o metro quadrado mais caro da cidade, também está instalada a sede de um tradicional banco de Minas Gerais, o BMG. Ao divulgar os resultados do segundo trimestre de 2014 na quinta-feira 7, Antonio Hermann de Azevedo, presidente-executivo do banco, comemorou o que, para muitos banqueiros, seria uma péssima notícia: um significativo encolhimento dos negócios.
Nos 12 meses findos em junho, o total de empréstimos concedidos pelo BMG reduziu-se em cerca de 26%, dos R$ 19,8 bilhões em junho de 2013 para R$ 14,6 bilhões. Hermann, porém, considera esse fato uma excelente notícia. “É a conclusão da transição do banco, que começou há pouco mais de dois anos”, diz ele. Em julho de 2012, num movimento que pegou os concorrentes de surpresa, os executivos do banco mineiro fecharam um acordo com o Itaú Unibanco para resolver seu crônico problema de falta de recursos.
Pelo acordo, ambos criariam uma joint venture, denominada Banco Itaú BMG Consignado, que uniu o conhecimento do banco mineiro na concessão dos créditos consignados com o manancial de recursos do Itaú. A operação absorveria 70% dos novos contratos e os 30% restantes ficariam no BMG. Exatos dois anos depois, a parceria avançou e passou a absorver todos os negócios, processo que deve findar em setembro. Criados em 1998 e regulamentados em 2002, os consignados permitiram o crescimento de bancos pequenos, mas as oportunidades se estreitaram com a crise de 2008.
Essas instituições sempre dependeram de investidores institucionais para levantar recursos, e os bolsos se fecharam após as crises, o que levou à concentração das atividades. “Quando começamos, havia 80 bancos oferecendo esses empréstimos, mas hoje restam apenas quatro”, diz Alcides Tápias, presidente do Conselho de Administração do BMG. “O consignado vem sendo a carteira de crescimento mais acelerado entre os empréstimos para pessoas físicas e é uma das mais promissoras para os próximos anos”, diz Marcelo Kopel, diretor de controladoria do Itaú.
Ao divulgar o lucro de R$ 4,9 bilhões no segundo trimestre, o Itaú também anunciou um crescimento de 62% nos empréstimos consignados em 12 meses. A carteira somava, em 30 de junho, R$ 29,9 bilhões, representando 17% do total de empréstimos para as pessoas físicas. Doze meses antes, essa participação era de 12%. Antes associado a consumidores de baixa renda e aposentados, o consignado ganhou importância junto a trabalhadores do setor privado e a servidores públicos. Segundo Hermann, em 2001, o empréstimo médio para o servidor da ativa era de R$ 1.300.
Em 2014 essa cifra mais que triplicou, para R$ 5.700. “Alguns empréstimos contratados por servidores do Judiciário superam R$ 30 mil”, diz ele. Agora, o BMG vai deixar de oferecer esses créditos e passar a receber os lucros da joint venture, na qual possui 40% das ações. Isso deixa Hermann e Tápias com o bom problema de administrar um banco com R$ 3 bilhões em patrimônio, R$ 6 bilhões em ativos e muito espaço para crescer. Há três produtos nos planos da dupla.
Um deles são empréstimos para empresas médias e grandes. Outro são empréstimos garantidos por ativos imobiliários, conhecidos como home equity. E o terceiro são cartões de crédito consignados, um plástico cujo limite é um percentual do salário e cujas prestações são descontadas diretamente na folha de pagamento. “Acreditamos que esse é o negócio mais promissor”, diz Hermann. “Começamos há menos de dois anos, sem muito alarde, e já emitimos 722 mil cartões. Há muito espaço para crescer.”