02/03/2011 - 21:00
Na segunda-feira 21, o executivo Fábio Coelho pediu demissão do cargo de presidente do portal iG. A notícia só foi comunicada para o público interno e para a imprensa na manhã do dia seguinte.
O comunicado emitido limitava-se a dizer que Pedro Ripper, diretor de estratégia corporativa e novos negócios da Oi, controladora do iG, passaria a acumular a presidência do portal, em razão da saída de Coelho.
A novidade causou surpresa nos funcionários e no mercado. Surpresa ainda maior houve quando se tomou conhecimento do novo destino profissional de Coelho: ele fora convidado para ser o diretor-geral do rival Google, conforme revelou em primeira mão na manhã da terça-feira o site da revista DINHEIRO.
Sua contratação é a face mais visível de um novo capítulo da disputa feroz que os dois titãs da internet mundial travam atualmente, com o fato novo de que agora essa briga chegou ao território brasileiro. A contratação de Coelho foi a solução encontrada pelo Google para reagir à ofensiva do Facebook no País.
O site comandado por Mark Zuckerberg não apenas vai abrir escritório no Brasil como contratou para a missão justamente o vice-presidente do Google na América Latina, o brasileiro Alexandre Hohagen.
Há outro ingrediente que apimenta ainda mais a história. Com a saída de Hohagen, que foi o responsável pela abertura da filial da empresa no País, em 2005, o Google estava sem titulares para os dois principais postos de comando no mercado latino-americano – o outro cargo, o de diretor-geral, para o qual Coelho foi chamado, estava disponível desde setembro, com a saída do executivo Alex Dias.
Dennis Woodside: necessidade de reestruturar a operação brasileira
Os cinco meses sem diretor-geral causavam estranhamento às agências de publicidade nacionais, clientes do Google. Ao que tudo indica, a empresa tinha dificuldades para encontrar um executivo que apresentasse bom conhecimento das peculiaridades do setor
digital no Brasil e ao mesmo tempo tivesse acesso ao mercado publicitário.
Assim, a solução provisória encontrada foi fazer Hohagen, que já havia sido o diretor-geral do País, acumular essa função. Ex-diretor da programadora de tevê a cabo HBO e do provedor UOL, Hohagen transita bem entre agências de publicidade no Brasil.
Essa solução caseira foi por água abaixo quando o Facebook contratou Hohagen. E sua missão na nova casa será a mesma que lhe foi confiada no Google em 2005: montar um escritório com forte apelo comercial. É justamente por isso que o baque de sua saída
foi mais sentido na equipe brasileira do portal.
“A primeira semana sem a presença dele aqui foi muito estranha, ainda mais pelo fato de que também estávamos sem diretor-geral para o Brasil”, disse um funcionário.
Com esse cenário, não restou alternativa ao Google a não ser definir um comandante o mais rápido possível para a operação brasileira. Essa incumbência foi dada ao americano Dennis Woodside, vice-presidente para as Américas, que sondou Coelho tão logo Hohagen pediu demissão.
Ele promoveu um encontro com um grupo de jornalistas, em São Paulo, na quarta-feira 16, para anunciar a contratação do executivo. A intenção de Woodside era minimizar a sensação de vácuo no comando do Google no Brasil.
Curiosamente, Coelho não participou do encontro, o que é mais um indício de que sua contratação foi feita a toque de caixa. O nome de Coelho, que trabalhou cerca de dez anos na matriz da operadora americana AT&T, entrou no radar de Woodside por comandar um portal de grande porte – o iG, onde estava havia oito meses. Pesou a seu favor também o fato de ter experiência no setor de telecomunicações.
A internet móvel, aliás, é uma das prioridades do Google. No que se refere ao mercado publicitário, Coelho não tem o mesmo trânsito de Hohagen. Mas isso é amenizado pelo fato de ele ter se aproximado das agências de publicidade ao assumir, em outubro de 2010, o cargo de presidente do Interactive Advertising Bureau (IAB), entidade que
representa as empresas de internet.
“Coelho tem experiência em telecomunicações e reúne os valores que o Google busca”, afirma Woodside, cujo trabalho não terminou. Ele precisa acertar a contratação de um novo vice-presidente para a América Latina, cargo não preenchido desde a ida Hohagen para o Facebook. “Ainda estamos procurando alguém para o posto”, diz Woodside.