02/11/2011 - 21:00
Quando inaugurou a primeira fábrica de plástico verde do mundo a partir do etanol da cana-de-açúcar, na unidade de Triunfo, no Rio Grande do Sul, em setembro de 2010, a Braskem comemorou o fato de ter boa parte da sua produção já vendida. Fruto de um investimento de US$ 500 milhões e três anos de pesquisa, o produto foi um sucesso imediato. Mas, sem fazer alarde e sob o maior sigilo, a petroquímica do grupo Odebrecht, com receita líquida de R$ 27,8 bilhões no ano passado, resolveu não parar por aí. A Braskem pesquisa, desde 2007, um novo tipo de plástico renovável: o polipropileno produzido a partir de etanol. O projeto deverá consumir, inicialmente, US$ 100 milhões e poderá agregar novos clientes à carteira da companhia. É que o polipropileno é uma resina mais resistente e, por conta disso, é usada na fabricação de peças pesadas da indústria, como as usadas em geladeiras e em automóveis.
Mendonça: “Ninguém produz ainda o polipropileno verde”
A montadora japonesa Toyota foi a primeira a se interessar pelos plásticos renováveis, tanto é que se tornou parceira da Braskem na empreitada. “Ninguém produz ainda o polipropileno verde”, disse à DINHEIRO Luiz de Mendonça, vice-presidente da unidade de negócios internacionais da Braskem. “Ele é o cálice sagrado.” A grande vantagem do plástico verde está em sua matéria-prima. A cana é um recurso renovável e seu cultivo contribui para a captura do gás carbônico da atmosfera, o oposto do que ocorre com o petróleo, insumo tradicional dos plásticos. Mendonça não revela quando começará a produção em larga escala do novo plástico sustentável da Braskem. Limita-se a dizer que “está tudo conforme o previsto”. O relatório de 2010 de sustentabilidade da companhia informa que o objetivo é fabricar o polipropileno verde em meados de 2013. A produção inicial deve ficar entre 30 mil e 50 mil toneladas, segundo o executivo. A capacidade é uma gota no oceano perto do mercado global de polipropileno, que soma 51 milhões de toneladas ao ano.
A Braskem, que já atuava nesse segmento, se tornou a terceira maior fabricante do mundo, em julho deste ano, após adquirir as operações da americana Dow Chemical por US$ 323 milhões. Se ficar comprovado que vale a pena produzir o polipropileno verde em escala industrial, o produto aparentemente não encontrará concorrência no mercado, segundo Mendonça. Trata-se de uma realidade diferente da enfrentada quando a Braskem lançou o polietileno verde, produzido em Triunfo. Essa matéria-prima, que é usada para embalagens de alimentos, cosméticos e brinquedos, já nasceu enfrentando competição de outras alternativas renováveis, caso da produzida pela americana NatureWorks, a partir do etanol de milho. Mesmo assim, a procura pelo produto vem aumentando. Tanto que a companhia decidiu ampliar em 20% a capacidade da fábrica, que atualmente produz 200 mil toneladas por ano. Esse investimento será feito para atender os primeiros clientes da matéria-prima, como a Johnson&Johnson e a Estrela, e os mais recentes, Chanel e a Danone.
Uma das novidades da estratégia da Braskem é a localização de onde pretende construir suas duas novas fábricas de plástico verde – do polietileno ou do novo polipropileno. Ambas deverão ser levantadas perto de usinas fornecedoras de etanol no eixo entre Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, e Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Com a nova geografia, ainda em estudo, o objetivo é reduzir custos com a compra do combustível. Esse controle de custo é um fator crucial para quem pensa em vender matéria-prima para geladeiras ou automóveis com apelo sustentável. Pesquisa da consultoria GS&MD – Gouvêa de Souza, de São Paulo, feita em 17 países no final do ano passado, mostra que o cliente preocupado com o meio ambiente está disposto a gastar até 7,6% a mais por um produto sustentável. O índice brasileiro chega a 8%.