Segunda maior bolsa de valores do mundo, a americana Nasdaq ficou famosa por negociar ações de algumas das empresas mais importantes da atualidade, principalmente no setor de tecnologia da informação. O investidor que quiser adquirir uma participação em nomes como Microsoft, Apple, Google ou Facebook terá de se servir dos sistemas da Nasdaq. No entanto, até o dia 27 de junho nenhuma das 2.870 ações lá negociadas havia sido emitida por uma empresa brasileira. Isso mudou: nessa data começaram os negócios com ações da Garnero Group Acquisition Company (GGAC).

Ainda que formalmente incorporada nas Ilhas Cayman, a empresa possui um DNA empresarial 100% brasileiro: seu fundador é o empresário Mário Garnero, criador do grupo Brasilinvest, tradicional agente privado de promoção de negócios e investimentos do País. Naquele dia foi concluída a captação de cerca de US$ 145 milhões através da emissão de ações na Nasdaq. Listados inicialmente a US$ 10, os papéis oscilaram levemente, e sempre para cima, registrando uma valorização de 0,3% nos cinco primeiros pregões.

Ainda em período de silêncio devido às regras do mercado americano de capitais, Garnero e seus executivos não podem fazer comentários sobre a operação. No entanto, a leitura do prospecto enviado às autoridades do mercado de capitais dos Estados Unidos permite concluir que a GGAC será um veículo de investimentos dedicado a adquirir participações majoritárias em empresas brasileiras ou cujos negócios tenham um potencial elevado de crescimento no Brasil.

O foco das aquisições estará nos setores tradicionalmente operados pelo grupo Brasilinvest, como desenvolvimento imobiliário e gestão de recursos, mas não está descartada a hipótese de uma incursão em novas áreas, como a de energias renováveis, além de empresas prestadoras de serviços na prospecção de petróleo. Outros setores são o farmacêutico e o de tecnologia da informação, nos quais o grupo atua diretamente, ou por meio de parcerias internacionais. Uma regra de corte é que o patrimônio líquido mínimo dessas empresas seja de US$ 200 milhões.

Fundado há 38 anos, em 1975, o grupo Brasilinvest vem participando de alguns dos maiores negócios do Brasil. Já desenvolveu oito milhões de metros quadrados em empreendimentos imobiliários diversos, como condomínios de luxo, hotéis e edifícios corporativos, tanto no Brasil quanto no Exterior. Além do desenvolvimento, o grupo gerencia imóveis, em parceria com a empresa americana Coldwell Bankers. Outras atuações importantes do grupo se dão na intermediação de negócios e na gestão de recursos de terceiros.

O Brasilinvest assessora empresas internacionais que procuram investir no Brasil, tendo participado da entrada de US$ 16 bilhões em investimentos desde sua fundação. Na área de gestão, deverá ser iniciada em breve a captação de recursos para um fundo imobiliário dedicado a ativos de primeira linha, estruturado em parceria com a administradora de fundos italiana Sorgente. A meta de captação de recursos é de R$ 1 bilhão, metade vinda de investidores de fora do Brasil. O principal ativo, porém, não está nos números dos balanços, mas no posto mais alto do organograma. A empresa será presidida pelo próprio Garnero.

O empresário tem uma sólida atuação institucional e participou de alguns dos eventos econômicos mais importantes do País, como o lançamento dos carros a álcool, ocorrido nos anos 1970, enquanto ele presidia a Anfavea, entidade da indústria automobilística que representa as montadoras. Em 1978, ele criou o Fórum das Américas, dedicado a discutir a integração econômica, a democracia, os direitos humanos e o meio ambiente em uma perspectiva continental. Os recursos captados deverão alavancar as oportunidades de negócios geradas por sua ampla rede de relacionamentos, no Brasil e no Exterior.