14/09/2013 - 7:00
Primeiro, eles te ignoram, depois riem de você, depois brigam, e então você vence.” Essa famosa frase, atribuída a Mahatma Gandhi, defensor do princípio de não agressão e da desobediência civil ao liderar o movimento de independência da Índia, está enquadrada e pregada em uma das paredes do escritório do Baidu no Brasil. A empresa, conhecida como o Google da China, foi fundada em 2000 e hoje detém confortáveis 67% de participação no mercado de buscas de seu país de origem. É também o segundo mais popular buscador do mundo, com mais de 500 milhões de usuários únicos por mês.
Intensivão: O Baidu, comandado no Brasil por Yan Di, estuda o mercado através de serviços gratuitos
Esses números portentosos não permitem ainda ao Baidu ser mais do que um ilustre desconhecido no mundo da internet, com escassa relevância e poucos usuários fora da China. Mas o Baidu quer ultrapassar a Grande Muralha. No ano passado, montou operações em países emergentes, entre eles o Brasil. A empresa parece saber que o caminho para conseguir superar o Google exige persistência, algo que nunca faltou na cultura chinesa. “Por enquanto, estamos na primeira parte da frase, ainda somos ignorados”, disse à DINHEIRO Yan Di, que desde o começo deste ano é diretor da operação brasileira do Baidu. “Mas é só por enquanto.” Em uma hora de conversa, Di repetiu cinco vezes em seu português fluente que estava “testando o mercado”.
Segundo ele, a estratégia da empresa é oferecer serviços gratuitos aos usuários com a finalidade de obter um aprendizado intensivo sobre os brasileiros. Atualmente, o Baidu disponibiliza navegador, antivírus, aplicativo de economia de bateria, entre outros serviços em português e adaptados ao gosto local. O software de otimização de desempenho de computadores PC Faster, por exemplo, tem um recurso que faz a máquina rodar jogos com mais rapidez, uma “paixão nacional”, segundo Di. O site agregador de conteúdo Hao123 conta com ferramentas para os usuários criarem seus próprios “memes”, como são chamados os desenhos engraçados usados para fazer piadas com imagens, uma verdadeira febre entre os mais jovens.
Como na segunda oração da frase de Gandhi, o Baidu está fazendo as pessoas rirem e já colhe os resultados. Segundo o medidor Alexa, o site é o 68º mais visitado do Brasil, à frente do Flickr, rede social do Yahoo. A página brasileira do Hao123 no Facebook começou suas postagens em maio e já conta com mais de 250 mil fãs. Ironicamente, o Hao123 tem como buscador o Google, pois o Baidu ainda não está apto para buscas em português. Esses serviços preparam o terreno para a chegada definitiva desse gigante da tecnologia chinesa, que tem ações cotadas na Nasdaq desde 2005 e valor de mercado de US$ 50 bilhões. No ano passado, o Baidu faturou US$ 3,6 bilhões.
No entanto, é preciso de muita bala na agulha para desbancar o Google. A Microsoft que o diga. A criadora do Windows bem que tenta emplacar seu Bing, buscador criado em 2009. Fez parcerias com titãs da internet do calibre de Facebook e Amazon, mas, mesmo assim, ainda não faz cócegas no Google. O Baidu, porém, ganhou uma forte credencial para quem quer tomar a liderança do mercado de buscas da internet ao ser considerado a empresa mais inovadora da Ásia pela revista Forbes no mês passado. No ranking global, ficou em sexto lugar, à frente de Amazon e Google sétimo e 47º lugar, respectivamente.
A Microsoft não foi listada. Di, que trabalhou por mais de dez anos na subsidiária brasileira da fabricante chinesa de celulares Huaweii, sente-se em condições de desafiar o Google. “Temos condições de oferecer serviços melhores que os do concorrente”, afirma Di, que evita usar a palavra “Google”, apesar de conhecer bem o cenário em que está metido. “Hoje, há praticamente um monopólio nas buscas. A competição é boa para o usuário.” Sem dar pistas sobre a data de estreia, Di garante que o buscador estará adaptado às preferências do Brasil e trará resultados multimídia. “Se alguém busca por Angry Birds (famoso jogo da finlandesa Rovio), poderá jogá-lo no próprio browser.”
