13/05/2016 - 20:00
Para algumas empresas, a melhoria da rentabilidade e a busca pela eficiência são uma obsessão. É o caso da JBS. A maior produtora de proteínas do planeta ganhou reconhecimento no mundo empresarial brasileiro por buscar cortes de custos de centavos em cada parte de suas operações e pela atenção dada a cada detalhe por parte dos seus donos, a família Batista. Um cuidado que acaba se espalhando por todos os níveis da organização e para as outras empresas do grupo, reunidas na holding J&F.
Uma oportunidade de ganhos que não poderia ser desperdiçada pela JBS foi anunciada na quarta-feira 11, depois de um ano de estudos por parte da companhia. Trata-se da criação da JBS International, uma nova empresa que vai unificar todos os negócios da JBS USA, que incluem as operações na América do Norte e na Austrália – como a produtora de frangos Pilgrim’s Pride –, com o frigorífico norte-irlandês Moy Park. Para completar, a marca brasileira Seara Alimentos, ao ser integrada à nova organização, terá a chance de se internacionalizar, quando a gestão considerar que grande parte de seu potencial no mercado nacional for atingida.
Anteriormente, ela fazia parte da operação nacional da JBS, que agora passa a se chamar JBS Brasil. Essa outra empresa vai manter a gestão dos negócios de carne bovina no País, biodiesel, colágeno e a transportadora do grupo, além da divisão mundial de couros, negócio em que a empresa é líder global. “A reestruturação societária vai refletir melhor o que a companhia se tornou, uma empresa brasileira global de alimentos”, disse à DINHEIRO o presidente mundial da JBS, Wesley Batista, que estará à frente dos dois negócios. “A estrutura organizacional como está hoje não reflete isso.”
A reformulação, que deve ser completada até o fim do ano, significa a criação de dois colossos de negócios. As atividades reunidas na JBS International movimentam US$ 35 bilhões (R$ 122 bilhões) ao ano. Já a JBS Brasil ficará responsável por negócios de US$ 8,5 bilhões (R$ 30 bilhões). Como resultado da separação, a organização deve ganhar valor. Analistas do banco Itaú BBA previram que o anúncio compensaria, para os investidores, o prejuízo sofrido pelo grupo no primeiro trimestre do ano, de R$ 2,74 bilhões. Foi o que aconteceu.
Na quinta-feira 12, o dia seguinte ao anúncio da reestruturação e dos resultados trimestrais, as ações ordinárias da empresa foram as que mais subiram na Bovespa, 21%. “A reestruturação tem potencial para destravar valor para os acionistas”, escreveu, em relatório do banco, o analista Antonio Barreto. O Itaú BBA defende que a reorganização poderá brir espaço para uma expansão de até 130% do preço das ações. Para Luciana Carvalho, analista do Banco do Brasil, há um valor considerável a ser destravado, já que os concorrentes internacionais da JBS recebem uma avaliação melhor do mercado.
As ações da americana Tyson Foods são comercializadas com múltiplo de 9,5 vezes em relação ao seu Ebitda contra múltiplo de 4,6 vezes no caso da JBS. A reestruturação também é importante por dois motivos: o primeiro é que a companhia pretende abrir capital na Bolsa de Nova York. O segundo é que vai aproveitar a proximidade da Moy Park com a Irlanda para escolher o país como sede. “A jurisdição irlandesa é superamigável para uma empresa ser listada nos EUA”, afirmou Batista.
A mudança para o país europeu tem sido uma medida adotada por diversas empresas americanas que buscaram nos últimos anos diminuir os seus gastos fiscais. Afinal, a Irlanda é atualmente um dos países desenvolvidos com carga tributária mais baixa, em torno de 12%. A JBS irlandesa também terá BDRs (títulos de empresas estrangeiras) negociados na bolsa brasileira. O último grande benefício percebido pela gestão será um acesso facilitado a recursos financeiros.
A sensação era de que muitos investidores estrangeiros conheciam bem a operação da JBS no exterior e queriam investir na empresa, mas não podiam, por questões estatutárias, ou por falta de interesse em investir nas operações do Brasil. “A reorganização vai expandir o nosso acesso ao mercado internacional de capital” disse Batista. “Vamos acessar o mercado de dívida a custos menores.” A brasileira JBS, multiplicada, promete ser, assim, mais internacional.